‘Precisamos manter o controle das IA’, adverte líder sindical europeia
Nenhum trabalhador deveria estar "submetido à vontade de uma máquina", advertiu a secretária-geral da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), Esther Lynch, que pediu à União Europeia (UE) para "garantir um princípio de controle humano" para as crescentes tecnologias de Inteligência Artificial (IA).
"Da mesma maneira que os tratados europeus garantem a saúde, ou a segurança no trabalho, devemos garantir um princípio de controle humano da máquina", defendeu a irlandesa em entrevista à AFP.
"Devemos ter a garantia de que nenhum trabalhador será submetido à vontade de uma máquina", um cenário que ela definiu como "distópico".
Esther preside o congresso da organização, que acontece entre hoje (23) e sexta-feira (26), em Berlim, e reúne representantes de sindicatos de cerca de 40 países a cada quatro anos.
- Redistribuir -
O lançamento do ChatGPT no final do ano passado anuncia as mudanças que a IA trará para muitas profissões.
Alguns estão entusiasmados com o possível desaparecimento de tarefas repetitivas, enquanto outros se preocupam com a desumanização da tomada de decisões e as consequências para a privacidade dos dados.
Lynch instou a UE a "conversar" com os sindicatos para regulamentar essas ferramentas. No momento, o bloco debate um texto legislativo para regular certos usos da IA e proibir outros, como a "vigilância generalizada de uma população".
A sindicalista também pede que "se garanta que empregos de qualidade serão criados, onde outros forem destruídos", e que se espalhe a riqueza gerada pela IA.
"As empresas mais importantes da Europa viram um aumento dos seus dividendos muito maior do que o dos salários no ano passado", afirmou ela.
A entidade critica as consequências para os trabalhadores da política monetária restritiva do BCE no combate à inflação.
"A solução é tributar os dividendos e redistribuir a riqueza", insiste.
- "Intimidar" -
Lynch, a segunda mulher a liderar a CES, foi nomeada secretária-geral em dezembro passado, depois de ingressar na organização em 2015. Ela obteve seu primeiro mandato sindical na década de 1980, na Irlanda. Hoje, compartilha a direção dos sindicatos europeus com o presidente da CES, o líder do sindicato francês CFDT, Laurent Berger, cujas funções são menos operacionais.
Seus primeiros meses no cargo foram marcados por sua expulsão da Tunísia, após participar de uma manifestação organizada pelo sindicato UGTT. Foi acusada de fazer comentários que constituíam "uma flagrante ingerência nos assuntos internos da Tunísia".
"Fiz um discurso moderado, respeitoso, para apoiar os sindicatos locais", argumentou Lynch, acrescentando que a polícia foi até seu hotel, depois de ser intimidada pelo governo a deixar o país em 24 horas.
"Estaria mentindo se dissesse que não tive medo", reconheceu.
"Eu poderia sentar aqui e chorar, ao lembrar disso. O objetivo é dar medo, intimidar e silenciar", denunciou.
"É o que experimentam tantas pessoas que exercem seu direito fundamental de pertencer a um sindicato", completou.
FONTE: Estado de Minas