‘Não aceito chantagens’, Petro se defende de escândalo na Colômbia
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, garantiu que sua campanha não recebeu dinheiro do narcotráfico e que seu governo não faz interceptações ilegais, nem aceita chantagens, após as supostas ameaças de um de seus ex-aliados políticos reveladas por um veículo de comunicação local.
Armando Benedetti, que até sexta-feira (2) era embaixador da Colômbia na Venezuela e uma das pessoas mais próximas do presidente, protagonizou um novo episódio do escândalo político que abalou o governo nos últimos dias.
A revista Semana publicou gravações em que supostamente se ouve Benedetti, irritado e ameaçando a então chefe de gabinete, Laura Sarabia, de revelar contribuições ilegais à campanha do Petro de cerca de 3,5 milhões de dólares (em torno de 17,2 milhões de reais, na cotação atual). Ele afirma que, se decidir fazer isso, todos irão para a cadeia.
"Laura [...] Todos nós afundamos. Estamos todos acabados. Vamos presos [...] Com tanta merda que eu sei, todos nós vamos nos foder. Se vocês me foderem, eu vou foder vocês", dizem os áudios repletos de palavrões atribuídos ao ex-embaixador e nos quais não é possível ouvir seu interlocutor.
Benedetti e Sarabia, que até poucos dias atrás pertenciam ao círculo próximo de Petro, foram afastados do governo na sexta-feira, após se verem envolvidos em um caso de escuta telefônica ilegal e de conspiração.
"Ninguém do gabinete do governo, nem diretores, nem comandantes da força pública, nem diretores de aparelhos de Inteligência ordenaram interceptações telefônicas, ou batidas ilegais, nem se aceitou chantagens em relação a cargos públicos, ou contratos, nem se recebeu na campanha dinheiro de pessoas ligadas ao narco", tuitou Petro.
"Eu não aceito chantagens, nem vejo a política como um espaço de favores pessoais", acrescentou, solidarizando-se com Sarabia por sofrer "uma pressão enorme".
Benedetti foi crucial na vitória do primeiro governo de esquerda da história do país e apresentou Petro à sua antiga secretária particular, Sarabia, que viria a ser o braço direito do presidente.
Em uma mensagem no Twitter, o ex-embaixador garantiu que os áudios revelados pela Semana "foram manipulados" e pediu "desculpas ao presidente" e a Sarabia "pela agressão e pelo ataque mal-intencionado".
"Acho que entendo o que se passa na mente de Armando Benedetti. Aceito suas desculpas, mas ele deve explicar suas palavras à Promotoria e ao país", respondeu Petro.
- Reformas em suspenso -
O escândalo começou no final de maio, depois que uma pasta com milhares de dólares foi roubada da casa de Sarabia. A babá da ex-chefe de gabinete acabou sendo interrogada com um polígrafo na sede da Presidência. Ela também teve suas conversas telefônicas interceptadas, por meio de um boletim de ocorrência falso que a ligava a traficantes de drogas.
Sarabia e Benedetti compartilhavam a mesma babá e trocam acusações de complô, em uma intrincada história que ainda deixa muitas perguntas. O Ministério Público está investigando o caso.
Após a publicação dos áudios, a Câmara Baixa anunciou hoje a suspensão dos debates sobre as profundas reformas que o governo tenta transformar em realidade no Congresso em meio a muitos obstáculos.
"Estamos congelando as discussões das reformas até que possamos reconstruir a coalizão de governo [...] Discussões tão importantes [...] não podem ser mediadas por fatores externos", declarou o presidente da Câmara, David Racero, do partido governista.
No poder desde agosto, Petro iniciou o seu governo com o apoio da esquerda e de alguns partidos tradicionais no Congresso, mas a coalizão foi se desmanchando com o passar dos meses e se distancia cada vez mais de suas reformas: reduzir a participação privada no sistema de saúde, redistribuir as terras improdutivas, reformar os sistemas de trabalho, previdência e justiça, desarmar as organizações ilegais, entre outras.
O novo revés é particularmente duro para a esquerda no poder, autodenominada "governo da mudança", mas criticada por recorrer às velhas práticas da política. Segundo a pesquisa mais recente do instituto Invamer, a aprovação de sua gestão caiu de 50% em novembro para 34% em maio.
A autoridade eleitoral abriu uma investigação preliminar sobre o financiamento da campanha de Petro.
Nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia anunciou seu novo embaixador extraordinário na Venezuela, Milton Rengifo, que fez parte da gestão Petro na Prefeitura de Bogotá (2012-2015).
FONTE: Estado de Minas