Aos 51 anos, motorista de transporte por aplicativo inova e cria conteúdo com entrevistas feitas com passageiros

18 jun 2023
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Histórias ouvidas por Francisco Ferreira Filho durante as viagens em Juiz de Fora viraram conteúdo nas redes. Motorista diz também estar vivendo o sonho de cursar faculdade de jornalismo. Francisco Ferreira Filho improvisou o carro para ouvir os passageiros durante as corridas que faz em Juiz de Fora

Juliana Netto/g1

Frentista, jardineiro, livreiro, motorista de transporte por aplicativo e, em breve, jornalista. São muitas as profissões exercidas e as histórias vividas por Francisco Ferreira Filho, 51 anos, que, transformando o gosto pela comunicação e o contato direto com diferentes pessoas no dia a dia, resolveu inovar e dar voz aos passageiros que carrega pelas ruas de Juiz de Fora.

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Logo ao sentar no banco traseiro do veículo, os clientes se deparam com um cartaz explicando a proposta, um microfone improvisado e uma câmera. Aqueles que topam são entrevistados durante as corridas, contando suas histórias de vida, que, depois, são publicadas na internet.

“Peguei um tubo de PVC e eu mesmo fiz o microfone, com um microfone de lapela que custou R$ 25, uma parte com microfone de karaokê e uma canopla. Minha sogra me arrumou o celular, que não tá funcionando o autofalante, mas grava bem. Aí fui conversar com as pessoas”.

A motivação, segundo ele, vem de longa data. “Sempre foi apaixonado por TV. Aos 19 anos, participei de uma peça de teatro em Dona Euzébia, minha cidade natal, e logo depois tentei fazer faculdade de jornalismo na UFJF. Não fui aprovado e, sem dinheiro para viver em Juiz de Fora, fui fazendo outras coisas".

Trinta anos depois, ele diz que "voltou a pensar em comunicação”. Atualmente, está no 6º período do curso feito a distância.

“Escolhi o EAD por ser financeiramente mais viável, porque eu não tava conseguindo pagar uma faculdade de jornalismo tradicional, e para eu poder administrar o tempo dos estudos”.

Grave sua história

Segundo Francisco, motorista de transporte por aplicativo desde 2019, o aceite ou não de participar da iniciativa é do passageiro.

“O passageiro chega, vê o cartaz, e eu fico aguardando. Tem dia que não tem história nenhuma, o passageiro entra mudo e sai calado. Não posso invadir o espaço dele. Se ele quer ficar calado, é um direito que ele tem”.

No entanto, muitos são os que aproveitam o percurso para contar suas experiências de vida.

“A história mais louca que teve foi de um rapaz que me pediu conselhos amorosos. Teve também uma outra história alegre, da dona Maria Aparecida, que entrou no carro dizendo que não queria gravar naquele momento, mas que iria fazer 73 anos e queria que eu fosse até o Morro de Cristo para gravar e filmar com ela. Filmei, gritei com ela e ainda pedi o pessoal que tava lá para bater palma para ela”. Assista abaixo:

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E há também as histórias emocionantes, que tocam o coração. “Essa (história) eu cheguei em casa para editar e chorei. É a da Andreia, que entrou no carro com a filha, a Lis, de 5 anos. A Lis tem Síndrome de Glass, que é uma doença rara. Vi o amor que a mãe tinha por aquela filha”, recordando-se emocionado. “Me bateu mesmo (a história). O amor daquela mãe por aquela filha”.

O meio é a mensagem

Como bom estudante de jornalismo, Francisco cita Marshall McLuhan, famoso teórico da comunicação canadense. Do conceito “o meio é a mensagem” veio a reflexão para aproveitar o espaço do carro para criar seu projeto.

“Me deu um tapa na cara. Se o meio é a mensagem, por que não fazer um podcast no carro? Aí uni outras frases, como “ouse fazer, e o poder lhe será dado”, de Og Mandino, e “faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda”, de Mário Sergio Cortella”, diz o motorista que, durante o tempo que trabalhava em livraria, pegava os exemplares à venda emprestados no sábado, lia-os durante o fim de semana e devolvia na segunda-feira.

Conforme ele, alguns sejam a criticá-lo pela ideia. “Pensei em parar. Achei que tava passando vergonha e não sabia se as pessoas estavam gostando. Há quem não acredita que vai dar em alguma coisa”.

Ao mesmo tempo, um dos incentivos vem de casa.

“Meu pai virou meu fã. Tem 80 anos e me pediu ajuda para entrar na Smart TV para ver meus vídeos”.

A cada dia ouvindo e escrevendo a sua própria história, Francisco projeta também sua vida além do volante.

“É muita luta, quero fazer algo da minha vida. É claro que alguns fazem da vida mais jovens, mais cedo, alguns aos 25 anos. Agora, com 50, comecei no jornalismo. Como diz um amigo, a vida é igual física quântica. Estamos sempre em movimento. A partir do momento que você começa a fazer, o universo começa a criar condições para você realizar”.

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FONTE: G1 Globo

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