Escrivã denuncia agressão em delegacia ao retornar de licença maternidade

20 jun 2023
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A funcionária pública Diúlia Cordeiro Lopes Felício, de 32 anos, registrou boletim de ocorrência contra um colega de trabalho por ser empurrada na Delegacia de Perdigão, no Centro-Oeste de Minas. Atuando como escrivã, a agressão ocorreu dois dias após ela retornar da licença maternidade. O caso foi denunciado pelo marido da vítima nas redes sociais e é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).
Diúlia é servidora contratada cedida pela Prefeitura de Perdigão à Polícia Civil de Minas Gerais (PMMG) há nove anos. Ao retornar às atividades após seis meses de licença maternidade e um mês de férias, ela foi surpreendida, em 13 de junho, com a notícia de que seria remanejada para atuar na central de monitoramento do Olho Vivo.
Ela, então, pediu um dia para se desvincular, para retirar os pertences e informar aos superiores. No dia seguinte, ao chamar a equipe para comunicar a decisão, ela foi empurrada por um colega de trabalho.
“Fui informar que eu ia para outro setor, mas que até as 17h a unidade era de minha responsabilidade. Quando falei isso, ele gritou: 'aqui dentro você não manda não e não quero ligação com delegado regional enchendo o saco'. Ele empurrou a porta para fechar, ela ia bater no meu rosto, coloquei o pé para evitar que batesse, aí ele me empurrou”, conta Diúlia.

A agressão foi registrada por uma câmera de segurança. Outras duas servidoras estavam na delegacia. Ela diz que, devido ao fato, também se alterou. “Aí, gritei e falei que ele tinha colocado a mão na mulher errada”, afirma. 

Com nove anos de delegacia, Diúlia diz se sentir “desguarnecida, sem proteção nenhuma e injustiçada”. “De vítima estou sendo acusada, é como seu eu fosse autora”, desabafa. Ela ainda critica a atuação do estado. “Não estão dando a devida atenção. Estou saindo como se nunca tivesse trabalhado para eles. Todo o serviço que fiz não está sendo levado em conta.”
“Os policiais estão abandonados, com a cabeça cheia de problemas, e o Estado fechando os olhos. A Rafaela não será a primeira a sofrer assédio e ninguém a ouvir”, pontua.
escrivã Rafaela Drumond foi encontrada morta no dia 9 de junho. Há um vídeo onde ela é xingada dentro de uma delegacia em Carandaí, no Campo das Vertentes. Na imagem, um homem faz ofensas a ela.

Exoneração

Após o ocorrido, Diúlia procurou a Prefeitura de Perdigão e protocolou o vídeo da agressão. No mesmo dia, ela foi comunicada da exoneração. Chegou, inclusive, a receber a ficha de demissão. Com a repercussão, o prefeito Juliano Lacerda voltou atrás e pediu que ela aguardasse em casa que estava revendo o caso.

'Invertendo a situação'

Adriano Messias Lopes nega a agressão. Disse que a servidora o chamou para uma reunião, porém se negou a ir sem a presença do delegado. Quando ele retornou para a sala dele, segundo Lopes, ela foi até lá, mesmo após ele dizer que não queria conversar.
Há dois anos atuando na delegacia, ele assumiu as atividades relacionadas ao Departamento de Trânsito durante a licença maternidade de Giúlia. Ele alega que a reação dela é por insatisfação devido ao remanejamento.
O suspeito ainda a acusa de racismo e injúria. “Ela entrou na sala e começou a falar: já te falei quem manda sou eu. Eu faço direito, ela falou comigo: nem fazendo direito, concluindo o curso, você não vai mudar o que é, seu bosta, nego”, relata. Ele não apresentou provas e não menciou o fato ao ser ouvido por policiais militares no momento do registro do Boletim de Ocorrência. Adriano usou palavras como “transtornada e descontrolada” para descrevê-la no momento do acontecido.
Afirmou que, ao pedir para ela sair da sala e tentar fechar a porta, Giúlia teria colocado o pé. Contou que por ser dura precisa colocar força para fechá-la, mas que não teria a empurrado. No vídeo é possível ver o momento que ele sai da sala com a mão estendida na frente dela e fecha a porta.
Adriano já foi acusado pela ex-esposa de violência doméstica. Ele afirma que o caso já foi apurado e esclarecido. Ela também trabalha na delegacia.
Ele também chegou a ser exonerado, porém será remanejado. Adriano disse que pediu dois dias de folga para espairecer e que ao retornar  vai se reuniu com os responsáveis para saber em qual setor irá trabalhar.

Apuração

Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que instaurou procedimento investigativo para apuração dos fatos. Os envolvidos, de 32 e 48 anos, bem como as testemunhas do fato. O órgão disse que outras informações serão fornecidas em momento oportuno.
A prefeitura informou que devido ao surgimento de novos fatos, foi instaurada uma comissão para formalizar e averiguar o ocorrido “de maneira imparcial. “Vale salientar que as partes envolvidas apresentaram versões diferentes do caso e cabe aos órgãos responsáveis definir quais as medidas cabíveis serão tomadas sobre o ocorrido”, alegou. 
O caso também será apurado por meio de uma comissão instaurada, nesta terça-feira (20/6), para que sejam tomadas as devidas providências.
“A atual gestão preza pela justiça e pela imparcialidade e está à disposição para colaborar com a resolução do caso”, destacou.
A prefeitura também confirmou que voltou atrás na decisão da exoneração. “Os dois funcionários permanecem remanejados em suas funções, por hora, estarão atuando normalmente até que os órgãos responsáveis finalizem o processo”, comunicou.
A prefeitura ainda lamentou o ocorrido e repudiou “qualquer tipo de violência, seja ela física, verbal ou psicológica”, assim como, “qualquer ato discriminatório contra raça, classe social, gênero e orientação sexual”.
 
*Amanda Quintiliano especial para o EM

 

FONTE: Estado de Minas

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