Jair Bolsonaro, o polêmico ex-presidente que virou alvo da Justiça
Após governar com um estilo provocador em um mandato marcado por uma série de escândalos, Jair Bolsonaro tem vivido seus primeiros meses como ex-presidente praticamente afastado dos holofotes, mas enfrentando problemas judiciais.
Este ex-capitão do Exército, de 68 anos, é alvo de um julgamento, nesta quinta-feira (22), por ataques ao sistema eleitoral das urnas eletrônicas, que podem levar à sua inelegibilidade por oito anos.
O líder da extrema direita tem mantido um perfil discreto desde que retornou de uma estadia de três meses nos Estados Unidos, em 30 de março, após deixar o Brasil antes da posse de seu adversário político, Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, ele tem se mantido ativo nos bastidores políticos, com reuniões em Brasília com membros do Partido Liberal (PL), ao qual é filiado e que é majoritário no Congresso.
Seu mandato (2019-2022) foi marcado por escândalos e crises, da gestão que seu governo dez da pandemia de covid-19 a suas acusações infundadas de fraude eleitoral.
Mesmo assim, quase metade dos eleitores brasileiros votaram nele em outubro.
- "Trump dos trópicos" -
Conhecido por seu estilo provocador e divisivo que lhe rendeu o apelido de "Trump dos trópicos", Bolsonaro emergiu no cenário nacional como candidato à Presidência em 2018.
Com um discurso sedutor anticorrupção e de "azarão", ele cativou muitos brasileiros durante a campanha, cansados dos partidos tradicionais envolvidos em escândalos.
Ele sobreviveu a uma facada durante um comício de campanha em Juiz de Fora (MG), o que apenas aumentou a fé de seus apoiadores em seu "Messias".
Com sua linguagem popular, Bolsonaro incendiou o fervor dos conservadores com seus ataques ao "comunismo", à "ideologia de gênero" e à corrupção na política.
E ele contou com o apoio de influentes grupos lobistas, como das armas, do agronegócio e do vasto eleitorado evangélico.
Seus críticos, por outro lado, o acusaram de racismo, machismo e homofobia.
Ele sofreu um desgaste especialmente por seu gerenciamento da pandemia do coronavírus, que deixou 700.000 mortos no país, ficando atrás apenas dos Estados Unidos em números absolutos.
Bolsonaro minimizou a gravidade da covid-19, desafiou dados científicos para combatê-la, zombou do uso de máscaras e alertou, em tom irônico, que as vacinas poderiam transformar as pessoas em "jacarés".
Internacionalmente, ele foi alvo de críticas pelo desmatamento na Amazônia, que aumentou mais de 70% durante seu mandato em relação à média anual da década anterior.
- Sumido das redes sociais -
As polêmicas continuaram até os últimos dias de seu mandato e além.
Após perder as eleições por uma margem estreita, Bolsonaro se recusou a parabenizar o presidente eleito Lula e a admitir abertamente sua derrota. Ele mergulhou em um silêncio inédito, até mesmo em suas redes sociais, onde costumava ser hiperativo.
Bolsonaro viajou para os Estados Unidos dois dias antes do fim de seu mandato e não compareceu à posse do rival, em 1º de janeiro.
Uma semana depois, milhares de seus apoiadores invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em uma tentativa fracassada de derrubar Lula.
De volta ao Brasil, o ex-presidente enfrenta cinco processos no Supremo Tribunal Federal (STF) que poderiam levá-lo à prisão. O mais recente investiga se ele instigou os ataques de 8 de janeiro.
Ele também é investigado pela Polícia Federal e pelas autoridades fiscais por supostamente tentar entrar no país com joias não declaradas avaliadas em milhões de reais que ele e sua esposa, Michelle, receberam da Arábia Saudita.
- Insubordinação -
Nascido em 1955 em Campinas, interior de São Paulo, em uma família de origem italiana, Jair Messias Bolsonaro seguiu uma carreira militar marcada por episódios de insubordinação.
Abertamente nostálgico da ditadura militar (1964-1985), ele iniciou sua carreira política como vereador pelo Rio de Janeiro em 1988. Dois anos depois, foi eleito para a Câmara dos Deputados, onde permaneceu até se tornar presidente.
Desde o início de sua carreira política, ele ficou conhecido principalmente pelas seguidas controvérsias.
Em 2011, Bolsonaro disse à revista Playboy que preferia ter um filho "morto em um acidente" do que homossexual.
E em 2014, provocou um escândalo ao declarar que a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) "não merecia" ser estuprada por ser "muito feia".
Casado três vezes, esse defensor da família, que se diz católico, tem quatro filhos homens - três deles também políticos - e uma filha, fruto, segundo ele próprio, de uma "fraquejada".
FONTE: Estado de Minas