O relato de destruição em campo de refugiados após ataque israelense

06 jul 2023
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A atmosfera no campo de refugiados de Jenin parece com a que já testemunhei em outro lugar — em Gaza, depois das guerras com Israel.

Mas esta é a Cisjordânia ocupada, onde a dinâmica é muito diferente. Agora parece haver uma escalada rápida para algo muito mais perigoso.

A destruição no campo após o maior ataque do exército israelense em 20 anos é enorme.

Quando centenas de soldados entraram no campo na manhã de segunda-feira (3/7), o Exército disparou mísseis a partir de drones — ataques aéreos não são usados na Cisjordânia há duas décadas — e destruiu estradas para limpá-las do que argumentou serem bombas de militantes.

Tiroteios começaram entre as tropas israelenses e os militantes palestinos e continuaram até a retirada das tropas israelenses na noite de terça-feira (4/7).

Agora, pela primeira vez em segurança desde domingo (2/7), milhares de moradores vieram às ruas para ver a destruição.

Eles escalam os escombros, tiram fotos dos destroços com seus celulares e comparam experiências, falando sobre casas invadidas, filhos detidos e mortos na família.

Um homem se aproxima de mim dizendo que isso o lembra de fotos da Turquia e da Síria no início deste ano, após o terremoto.

Carros estão esmagados ao longo do caminho por onde passaram os blindados D9 de Israel. O asfalto está quebrado, espalhado por toda parte em pedaços enormes.

Caminhamos pelo que havia embaixo das ruas: entulho, areia e poeira.

Muitas casas não têm água ou energia. Voluntários trazem caixas de água engarrafada. Eles se juntam a outros trabalhadores, alguns dirigindo as poucas escavadeiras disponíveis. Uma delas faz a remoção de uma árvore caída do alto de um prédio residencial. Ela arranca parte da fachada de uma loja no térreo, caindo perigosamente perto de nós.

Os comboios blindados israelenses retiraram-se durante a noite em meio a intensos tiroteios com militantes. Apesar da calmaria de hoje, todos temem que mais coisas estejam por vir. Israel diz que continuará realizando esse tipo de operação "enquanto for necessário para erradicar o terrorismo". Grupos militantes palestinos reivindicam "vitória" e juram vingança.

Continuamos nosso caminho pelo acampamento e as procissões fúnebres começam. Milhares de pessoas em luto cantam enquanto carregam macas com os corpos de alguns dos 12 palestinos mortos desde segunda-feira (3/7). Quatro deles tinham menos de 18 anos. Israel disse que tinha como alvo militantes.

Filas de pessoas se juntam. Enquanto marcham, alguns homens estão mascarados e armados; outros usam símbolos da Jihad Islâmica. Bandeiras do Hamas tremulam sobre um prédio próximo. A raiva toma conta da multidão enquanto se ela dirige para as casas dos mortos, onde suas mães e esposas os aguardam.

Mas as exibições de poder de fogo — pelo menos em público — parecem menos intensas do que em funerais anteriores.

Tenho visitado Jenin frequentemente no último ano e meio, quando uma nova geração de militantes armados se formou, rejeitando a envelhecida liderança palestina e desafiando o exército israelense durante seus crescentes ataques à cidade.

Esta é uma geração que acredita que a Autoridade Palestina (AP) oficial vendeu seu futuro e se tornou pouco mais do que uma empresa de segurança para a ocupação militar de Israel, que garante a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, construídos na terra que os palestinos querem para um Estado futuro e ilegal sob o direito internacional.

Hoje há menos tiros, mas a frustração só aumenta. Durante a noite, jovens palestinos também entraram em confronto com as forças de segurança formais da Autoridade Palestina. Jenin é uma cidade que já escapou de seu controle.

Agora, os resquícios institucionais de um processo de paz de três décadas na Cisjordânia ocupada estão sendo testados até a destruição.

Israel diz que continuará erradicando o que chama de "uma cidade de refúgio para o terrorismo" em Jenin, mas as facções militantes palestinas prometem que intensificarão suas atividades.

Um ataque com carro e faca em Tel Aviv na terça-feira, que feriu sete israelenses, foi descrito pela Jihad Islâmica como a "primeira resposta" ao que estava acontecendo em Jenin.

A crescente violência é mais um sinal do colapso de qualquer horizonte político. Alguns temem que as cidades palestinas na Cisjordânia sofrerão ataques militares mais intensivos e medidas de segurança — como se vê em Gaza, que é governada pelo Hamas e isolada por Israel.

Mais palestinos rejeitam sua própria liderança reconhecida internacionalmente e apoiam a resistência armada. E Israel permanece sob o controle do governo mais extremista já eleito, que prometeu estender o que chama de direitos exclusivos dos judeus a toda a terra da região.


FONTE: Estado de Minas


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