Moradores de Guarujá relatam medo da polícia e ficam presos em casa
Moradores da Vila Baiana, em Guarujá, relatam que ficaram sem sair de casa nesta segunda-feira (31/7) por causa da operação policial que ocorre há quatro dias na Baixada Santista. Segundo eles, policiais militares gritam, durante as patrulhas nos morros, para que as pessoas não saiam às ruas.
A reportagem conversou com três moradores da comunidade, e todos pediram para não ter seus nomes divulgados por medo de represálias da polícia. Eles dizem que, após operações violentas no sábado (29/7) e no domingo (30/7), resolveram não sair de casa no quarto dia de operação.
É na Vila Baiana que uma família relatou ter ocorrido a tortura de um vendedor ambulante, na noite de sexta-feira (28), na viela João Fernandes de Almeida. O corpo de Felipe Vieira Nunes, 30, foi encontrado pela família com queimaduras de cigarro no braço, um hematoma na cabeça e um corte no braço.
Moradores voltaram a ouvir tiros na favela por volta das 16h desta segunda-feira. Havia mais de 20 viaturas do Baep (Batalhão de Ações Especiais da PM) concentradas na comunidade.
Os comércios e escolas na comunidade ficaram abertos, mas estão com o movimento abaixo do normal, segundo uma moradora.
Policiais armados fizeram várias incursões na favela durante a tarde, principalmente em grupos a pé. Há também patrulhas motorizadas, com carros e motos, ao redor do morro.
Uma das reclamações de duas moradoras é que as viaturas entram na favela em alta velocidade ao lado de crianças que estão na rua, aumentando o risco de atropelamentos. Uma menina de 15 anos foi ofendida por um dos policiais, segundo duas pessoas ouvidas pela reportagem.
Ao ser confrontado pela mãe, ele teria respondido que nada aconteceria com ele se atirasse contra a menina com o fuzil.
A reportagem encontrou um efetivo policial menor na Vila Zilda, comunidade na qual foi baleado e morto o soldado Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, um grupo de elite da polícia) na quinta (27). Foi essa morte que deu início à operação na região.
Ouvidoria abre investigação
Os relatos do clima de favelas sitiadas pela polícia também chegaram à Ouvidoria das Polícias, em meio a descrições de casas invadidas por policiais encapuzados e ameaças a moradores. O órgão abriu um procedimento para investigar todas as denúncias.
O órgão de controle policial e o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) receberam relatos dessas mortes de moradores e familiares das vítimas, mas procura registros de boletins de ocorrência que possam confirmá-las.
Representantes dos dois órgãos e da comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) foram à Delegacia do Guarujá na noite desta segunda para pedir informações à polícia, que não confirma todas as denúncias.
Caso se confirmem as nove mortes, o número total de vítimas da operação chegaria a 19. A ouvidoria apurava dez casos até a tarde de domingo, e novas incursões da Polícia Militar ocorreram nas favelas da cidade entre a tarde e a noite de domingo e ao longo desta segunda.
Para chegar ao número de dez mortes, a ouvidoria leva em conta não só as mortes confirmadas em boletins de ocorrência, mas também lesões corporais por arma de fogo que podem ter levado à morte mais tarde.
Na manhã desta segunda, quando a contagem da ouvidoria ainda era de dez mortes sendo apuradas, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) contestou os números. A pasta confirmou apenas oito mortes.
FONTE: Estado de Minas