Corpo de haitiano morto em explosão no PR segue no IML por falta de parentes no Brasil
O corpo do trabalhador haitiano Wicken Celestin, 55, que foi vítima da explosão em um complexo de silos da C.Vale, no Oeste do Paraná, na quarta-feira (26), segue na Polícia Científica de Toledo, cerca de 50 km de Palotina, onde ocorreu o acidente.
O corpo foi levado para lá no final da tarde de segunda-feira (31) e não foi liberado porque, de acordo com a Polícia Científica, Celestin não tem parentes no Brasil.
O processo de liberação de um corpo no IML (Instituto Médico Legal) deve ser acompanhado sempre por um parente em primeiro grau (pai, mãe, filho) ou cônjuge, mas há trâmites especiais quando não há familiares próximos no local.
Segundo a Polícia Científica do Paraná, os corpos dos sete outros trabalhadores haitianos que também morreram na explosão foram liberados por familiares mais distantes (parentes que não são de primeiro grau), que precisaram assinar um termo na delegacia da cidade.
Em relação a Celestin, a Polícia Científica disse que não haveria nenhum parente dele no Brasil e que tratativas estão sendo feitas com a embaixada do Haiti para encontrar uma solução.
Procurada, a embaixada do Haiti encaminhou uma nota à Folha na qual informa que está auxiliando a família de Celestin no Haiti e "observando as peculiaridades do caso". "Será respeitado o interesse dos familiares, bem como, observados os procedimentos legais do Brasil e do estado do Paraná", disse.
A embaixada acrescentou que "tomou conhecimento da tragédia com profundo pesar e consternação" e que "compartilha com muita emoção a grande dor das famílias das vítimas e de toda a comunidade haitiana no Brasil".
Além de Celestin, outros oito trabalhadores – sete haitianos e um brasileiro — morreram na explosão. Eles foram enterrados em Palotina, na sexta-feira (28). O corpo de Celestin foi o último a ser retirado dos escombros, quase cinco dias após os trabalhos de resgate.
Nesta quarta (2), a C.Vale organiza uma homenagem às vítimas. Os funcionários farão um minuto de silêncio nas unidades da cooperativa em Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraguai, às 17h01, hora da explosão do dia 26 de julho.
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Os oito haitianos mortos atuavam na cooperativa como trabalhadores avulsos. Eram chamados de "safristas", em função do vínculo com o período da safra de grãos. Eles eram contratados pela cooperativa por meio do Sintomege, que é o Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias em Geral de Toledo.
A C.Vale disse à Folha que as contratações de trabalhadores avulsos estão de acordo com a lei 12.023/2009 e que eles possuíam seguro de vida.
Além das nove mortes, 11 pessoas (dez brasileiros e um haitiano) ficaram feridas. Até o final da tarde desta terça-feira (1º), sete seguiam internadas em hospitais e quatro já se recuperavam em casa, de acordo com a C.Vale.
As causas da explosão ainda estão sendo investigadas. A Polícia Civil acredita que a primeira explosão pode ter acontecido entre os armazéns 3 e 4, onde visivelmente a destruição é maior. Quatro silos foram atingidos no total.
De acordo com a C.Vale, os quatro silos armazenavam 12 mil toneladas de soja e 40 mil toneladas de milho. Segundo equipes do Corpo de Bombeiros, as vítimas foram encontradas nos túneis subterrâneos ligados aos silos.
Com a explosão, algumas das estruturas de concreto dos túneis foram afetadas e eles ficaram obstruídos. As toneladas de grãos também ficaram espalhadas, dificultando ainda mais o resgate das vítimas.
FONTE: Estado de Minas