Cidade termal da Armênia quer esquecer as ‘cicatrizes da guerra’

03 ago 2023
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Jermuk já foi a estação de águas termais mais frequentada da Armênia, mas a cidade perto da fronteira com o Azerbaijão está sem turistas desde setembro de 2022, depois de ser alvo de uma série de bombardeios.

No parque desta região montanhosa com múltiplas fontes de água quente, o coaxar das rãs e o grasnar de um cisne solitário quebram o silêncio.

Embora as autoridades locais afirmem que Jermuk está pronta para receber visitantes, os moradores consideram o trauma dos ataques de artilharia do Azerbaijão muito recente para a volta do turismo.

Os dois países vizinhos do Cáucaso se enfrentam regularmente, em conflito desde a queda da União Soviética.

"As cicatrizes da guerra já não são visíveis nas ruas, mas estão na alma das pessoas", resumiu Ovsanna Stepanian, dona de um restaurante nesta cidade termal.

"Os hotéis e restaurantes estão quase vazios, trabalham no prejuízo", lamenta Stepanian, de 42 anos.

Ela dá como exemplo o seu próprio estabelecimento: antes, o local era tão procurado que era necessário reservar com vários dias de antecedência. Agora, recebe poucos clientes por dia e metade da equipe foi demitida.

Vazguen Galstian, um guia turístico de 33 anos, resume a situação: "sabemos que o risco de uma nova guerra continua".

- "Filme de terror" -

Por mais de três décadas, Baku e Erevan lutaram pelo controle de Nagorno-Karabakh, um território montanhoso habitado principalmente por armênios, mas reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão.

Uma primeira guerra entre 1988 e 1994 favoreceu a Armênia. No outono de 2020, um novo conflito eclodiu.

Com um armamento melhor, o Exército do Azerbaijão recuperou em cinco semanas o controle de parte de Nagorno-Karabakh e de regiões vizinhas.

Apesar de um cessar-fogo mediado por Moscou, os confrontos na fronteira ainda são quase diários.

Em setembro de 2022, muitos acreditavam que a guerra teria estourado novamente quando o Azerbaijão bombardeou brutalmente, com artilharia e drones, as cidades fronteiriças Jermuk, Sotk e Verin Shorzha.

Ovsanna Stepanian acha difícil esquecer. Como a maioria dos habitantes, ela se refugiou no porão com o filho e a mãe quando os bombardeios começaram.

"Mulheres e crianças fugiram de Jermuk para Erevan em caminhões", descreveu, ao contar que "foram horas cheias de medo, como em um filme de terror".

"A estrada estava cheia de veículos que transportavam pessoas em fuga, as florestas e os campos nos arredores da cidade estavam em chamas. Ainda tremo", lembrou.

- Potencial turístico "enorme" -

"O bombardeio de Jermuk começou à meia-noite", disse o vice-prefeito da cidade, Vardan Sargsian. "Os azerbaijanos atacaram estradas e florestas. Eles danificaram prédios residenciais, infraestruturas vitais e o cemitério", explica ele.

De acordo com ele, os vestígios dos bombardeios foram apagados e as infraestruturas reparadas dez meses depois desses dois dias de combates.

"Jermuk está pronta para receber turistas novamente", garantiu.

Tigran Sargsian, de 20 anos, voltou para Jermuk há quatro meses, após concluir o serviço militar.

Ele gerencia uma barraca de tiro em um parque de diversões nesta cidade termal. Os alvos são bandeiras do Azerbaijão e retratos do presidente, Ilham Aliev.

"O inimigo está muito perto", destaca, perante os quatro quilômetros que o separa das tropas de Baku.

"Se a situação não mudar, haverá um conflito e terei que ir para a guerra", diz o jovem.


FONTE: Estado de Minas


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