Trump é detido e fichado por tentar reverter resultado de eleição
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump se declarou inocente nesta quinta-feira (3/8), depois de ser detido temporariamente, indiciado e fichado por quatro acusações federais relacionadas à tentativa de reverter o resultado das eleições de 2020: conspiração para fraudar os Estados Unidos; conspiração para obstruir um processo oficial; obstrução e tentativa de obstrução de um procedimento oficial; e conspiração contra direitos.
Os crimes, investigados pelo procurador especial Jack Smith, são considerados os mais graves entre todos os casos pelos quais o magnata republicano responde na Justiça — a posse ilegal de documentos sigilosos e sensíveis à segurança nacional; uma fraude envolvendo chantagem contra a ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem teria mantido um relacionamento extraconjugal; e abuso sexual cometido contra uma jornalista.
É a terceira vez que Trump comparece ao tribunal, para ser indiciado, em quatro meses.
Trump desembarcou no Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Washington, às 15h (16h em Brasília) e seguiu, em comboio, até o Tribunal E. Barrett Prettyman. O trajeto durou cerca de 15 minutos.
Simpatizantes e opositores ao ex-presidente se concentraram nos arredores do prédio da Corte e ostentaram bandeiras com a imagem do republicano e cartazes que pediam sua prisão.
Dentro do tribunal, Trump sentou-se entre os seus dois advogados. O ex-presidente permaneceu com um papel à sua frente e, algumas vezes, Todd Blanche — um dos dois defensores — sussurrou em seu ouvido, segundo o jornal The Washington Post. O procurador especial Jack Smith também estava na sala de audiência da Corte.
Trump se declara inocente de conspirar para alterar resultado eleitoral de 2020
Antes de retornar à Nova Jersey após ser liberado pela juíza indiano Moxila Upadhyaya, Trump fez breves declarações à imprensa. Ele acusou "perseguição" e disse que esta quinta-feira foi "um dia muito triste para a América".
"Não podemos deixar isso ocorrer na América", afirmou, ao classificar as acusações de "perseguição de um adversário político". A juíza agendou nova audiência para 28 de agosto, segunda-feira, às 10h (11h em Brasília).
"Esse é o indiciamento mais importante da história dos Estados Unidos. É mais importante do que os indiciamentos dos conspiradores do caso Watergate ou dos espiões da bomba atômica", assegurou à reportagem Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington).
"Um presidente dos Estados Unidos está sendo acusado de minar as bases da democracia americana. A democracia é preciosa e, como todas as coisas preciosas, pode ser destruída. Se Trump não for condenado por suas ações, a democracia norte-americana ficará em grave perigo", advertiu. "Se a democracia americana falhar, as democracias no mundo estarão em risco, porque a liderança dos Estados Unidos é tão importante."
Lichman aposta que o indiciamento não mudará os cálculos eleitorais para 2024. "Muito dependerá do resultado do julgamento. Suponhamos que Trump seja condenado de sabotar a democracia americana e sentenciado à prisão. Nesse caso, será difícil acreditar que ele possa ser um candidato viável na eleição, independentemente do resultado das primárias republicanas", comentou.
Com os Estados Unidos totalmente polarizados e com 60% do Partido Republicano acreditando que Trump vencerá as eleições de 2024, James Naylor Green — professor de história política da Universidade Brown e discípulo do falecido brasilianista Thomas Skidmore — lembrou ao Correio que os simpatizantes do ex-presidente sustentam que ele é vítima de perseguição e de uma manipulação dos instrumentos do governo pelo Partido Democrata.
"Trump usa vários argumentos, que são falsos, mas estão sendo repetidos. O primeiro é o de que ele tinha todo o direito de falar que as eleições foram fraudulentas e que qualquer argumento contrário representa uma violação da Primeira Emenda à Constituição", disse.
FONTE: Estado de Minas