Iza faz a festa após ressaca amorosa e se abre para outros sons na quentura do álbum ‘Afrodhit’
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!
Disco exala sensualidade e tem potência sonora, mas dilui a identidade artística da cantora ao seguir os ritmos do momento sem toque de inventividade. Capa do álbum 'Afrodhit', de Iza
MarVin Resenha de álbum Título: Afrodhit Artista: Iza Edição: Warner Music Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♪ Afrodhit é o terceiro álbum de Iza. O segundo foi arquivado pela cantora após a separação conjugal e artística do produtor musical Sérgio Santos, um dos arquitetos do álbum de estreia de Iza, Dona de mim (2018), disco potente e sexual que transitou entre o pop e o R&B. A potência e a alta temperatura do som são traços em comum entre os dois álbuns, separados por cinco anos e por série de singles e EPs. O acento R&B da primeira das 13 músicas inéditas de Afrodhit, Nunca mais (Iza, Carolzinha, Caio Paiva, Douglas Moda, Jenni Mosello e King), parece conectar o disco atual ao antecessor. Mas a pista é falsa. Dando a voz quente a um repertório nascido do exercício de composição com mulheres como Jenni Mosselo, King Saints e Lary, Iza abarca maior variedade de ritmos ao longo das faixas de Afrodhit e, ao mesmo tempo em que diversifica o som, tem a identidade diluída na diversidade da produção musical orquestrada por Douglas Moda a partir de fevereiro com a colaboração de nomes com Nave e Papatinho. Única música previamente apresentada em single editado em 27 de julho, Fé nas maluca (Iza, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, King, Nine, Nox e Mc Carol) junta Iza com MC Carol em feminino mix de funk e trap que poderia figurar em qualquer disco de maior parte das cantoras em evidência nos presentes anos 2020. Na sequência, Que se vá (Iza, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, Lucas Vaz e King) e Tédio (Iza, Jenni Mosello, Lary, King Saints, Douglas Moda, Nox, Nine e Beasi) deixam impressões de serem músicas destinadas a mandar recados da cantora para o ex em acerto de contas após o fim da relação. “Não tem mais remédio para nós dois”, sentencia Iza em verso de Tédio, sem perder a fervura que caracteriza o álbum Afrodhit. Página virada, vem na sequência música justamente intitulada Mega da virada (Iza, Douglas Moda, Pablo Bispo, Ruxell, Gondim, Multi, Tállia, Romeu, Klismman, André Vieira, Breder, Wallace Vianna e Russo Passapusso) e gravada por Iza com Russo Passapusso, vocalista da banda BaianaSystem. Em Mega da virada, Iza faz a festa com som que mistura pagodão baiano com toque de reggae e que tem mais a cara da BaianaSystem do que a da própria Iza. A festa continua com Batucada (Iza, Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda, Lucas Vaz e King Saints), faixa que mixa o suingue do samba carioca pelas linhas de baixo de Jerry Barnes, do grupo norte-americano Chic. A letra de Batucada cita Pedra do Sal, reduto da ancestralidade do povo preto que desembarcou na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Do samba estilizado, Iza migra para o universo do hip hop em música, Boombasstic (Iza, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda e PEP), gravada com King Saints, emergente cantora e compositora fluminense, natural de Duque de Caxias (RJ). Terê (Iza, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda e Papatinho) ecoa a manemolência tropical em faixa arquitetada a partir de sample de Tereza Guerreira (1973), samba composto por Antonio Carlos & Jocafi e lançada pela dupla baiana há 50 anos. Iza incursiona por gêneros como trap, funk e pagodão baiano em repertório autoral gravado a partir de fevereiro MarVin / Divulgação Disco essencialmente feminino, Afrodhit tem a presença masculina de dois rappers, L7nnon e Djonga, em músicas movidas pelo desejo sexual. Fiu fiu (Iza, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Papato e L7nnon) flagra Iza em explícito jogo de sedução com L7nnon. Sintoniza, faixa turbinada com rap de Djonga, é mais sensual do que sexual. Trata-se de R&B pop composto com pretensão de ser hit. Cantora nigeriana associada ao afrobeat, Tiwa Savage entra em Bomzão (Iza, Jenni Mosello, Douglas Moda, Lary, King, Tiwa Savage, Mystro, Jweezy e Twins) no mesmo clima sensual. Já Exclusiva (Iza, Vitão, Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda e King Saints) deixa a sensação de que a safra autoral do álbum Afrodhit por vezes oscila. Talvez pelo fato de o disco soar longo para os padrões atuais do pop industrializado. Contudo, o fecho do álbum com a canção Uma vida é pouco pra te amar (Pedro Baby, João Moreira, Pretinho da Serrinha e Rachel Luz) surpreende por quebrar o clima fervido de Afrodhit com baladão arranjado com cordas orquestradas por Arthur Verocai com a habitual opulência do maestro. A faixa final mostra que há um mundo musical a ser desbravado por Iza e que, com mais altos do que baixos, o álbum Afrodhit é somente o começo de nova fase e sinaliza que discos mais coesos virão na medida em que a cantora ajustar o foco e deixar a aflorar a personalidade artística sem a aparente preocupação de seguir os ritmos do momento, o que Iza faz neste segundo álbum sem um toque de inventividade. Iza faz jogo de sedução com o rapper L7nnon em 'Fiu fiu', uma das 13 músicas do álbum 'Afrodhit' MarVin / DivulgaçãoFONTE: G1 Globo