Ônibus, uma das últimas saídas de Belarus
Forçada a viajar de ônibus, sem aviões e trens devido às sanções, Liudmila, de 70 anos, relembra com nostalgia os dias em que viajar de Belarus para o resto da Europa era fácil.
Esta ex-república soviética é alvo de sanções draconianas desde que o presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, reprimiu um movimento de protesto em 2020, a ponto de desviar um avião comercial para deter um opositor, e no ano passado ajudou a Rússia em sua invasão da Ucrânia.
Na última passagem de fronteira aberta com a vizinha Polônia, Liudmila pensa nas viagens que fez pela Europa, principalmente para a Espanha, nos anos que antecederam a onda de protestos de 2020.
"Tudo se tornou mais difícil", diz a aposentada, que espera em um gramado ensolarado que todos os passageiros de seu ônibus para Varsóvia passem pelas infindáveis verificações de identidade.
A viagem dura em média 12 horas, sem contar o tempo de espera na fronteira.
Os bielorrussos dependem agora das estradas, principalmente rumo a Varsóvia, para deixar um país cada vez mais isolado apesar de estar às portas da União Europeia.
Depois do encerramento das conexões aéreas e ferroviárias com o bloco comunitário, o ônibus é a última conexão com o resto da Europa, sobretudo com a Polônia, que se tornou refúgio de milhares de bielorrussos que fugiram da repressão.
Liudmila não reclama e prefere ver o lado positivo das coisas.
"Eu observo os campos. Eu gosto, podemos parar", diz esta mulher, que prefere não fornecer o nome completo devido à situação política do país.
- Repressão e sanções -
Se Liudmila tem tempo para admirar a paisagem, é porque os países ocidentais proibiram as conexões aéreas de e para Belarus após a interceptação, em 2021, de um voo entre Atenas e Vilnius pelo exército do país para prender um opositor a bordo.
Depois, com a pandemia de covid-19, as conexões ferroviárias também foram interrompidas.
Os bielorrussos não podem passar por Moscou para ir para o resto da Europa, já que a UE fechou seu espaço para voos da Rússia em resposta à invasão da Ucrânia.
De ônibus, "a viagem é longa e as pernas incham", explica Piotr Sadko, que viaja para a Alemanha com a esposa para ver a filha.
"Naturalmente, se não houvesse conflito político, tudo seria maravilhoso", acrescenta.
Ilia, que viaja pela primeira vez para a UE com a namorada, concorda.
Muitos amigos do casal deixaram o país após os protestos de 2020. Eles vão agora para a Polônia para obter um visto de um ano.
Com prudência, evitam citar a questão da repressão em Belarus e da guerra na Ucrânia, mas admitem o impacto do conflito em suas vidas.
"A situação no mundo mudou após os eventos de 2022", explica, acrescentando que seus planos de viajar para a Europa fracassaram após os protestos de 2020.
Naquele ano, a Polônia facilitou a obtenção de vistos para bielorrussos que trabalham em novas tecnologias, um setor em expansão na ex-república soviética.
Com mais de 80.000 bielorrussos em seu território, três vezes mais do que antes dos protestos, o país abriga mais refugiados políticos deste país do que qualquer outro no mundo.
FONTE: Estado de Minas