Restrição de voos no Santos Dumont pode levar mais passageiros a Congonhas e encarecer bilhetes, alertam especialistas

11 ago 2023
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A partir de janeiro, voos que saem de SP para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, vão sair apenas de Congonhas; há preocupação com estrutura do aeroporto em SP e a alta demanda. Futuras mudanças na ponte aérea Rio-São Paulo

A restrição dos voos do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, vai afetar a operação do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Segundo especialistas, a mudança, feita para reduzir a quantidade de voos que passam pelo aeroporto carioca, deve aumentar o número de passageiros no aeroporto paulistano e, também, causar um encarecimento nas passagens.

Uma portaria aprovada pelo governo Lula na quinta-feira (10) assegura que, a partir de 2 de janeiro de 2024, voos de e para o Santos Dumont ficam restritos a um perímetro de 400 quilômetros. Na rota, fica mantida a ponte-aérea Rio-SP via Congonhas.

Estão, assim, excluídos, os voos que envolvem o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, para o Rio, que, assim como todos os voos de fora desse perímetro, deverão ser redirecionados para o Aeroporto do Galeão.

Neste ano, só até junho, mais de 10 milhões de passageiros circularam por Congonhas, segundo a SPTuris, e o movimento tende a aumentar. Atualmente, Congonhas opera com 44 pousos e decolagens por hora. Por dia, são 534 voos e cerca de 67 mil passageiros circulando.

Movimentação no Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo

SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

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Desses voos, 100 fazem ponte-aérea com o Rio de Janeiro, para o Aeroporto Santos Dumont.

Com a mudança, 32 voos de Guarulhos para o Santos Dumont vão ser cancelados, e ainda não está definido quantos desses vão passar para Congonhas. A decisão depende de uma avaliação das companhias aéreas a partir da quantidade de portões de embarque e desembarque disponíveis e, também, da estrutura existente para atender os passageiros.

Com o aumento da demanda e a limitação do número de voos, o valor das passagens aéreas podem ficar mais caros na conexão de Congonhas para Santos Dumont.

“Quando você diminui a oferta daquele serviço num determinado aeroporto, o outro acaba sendo beneficiado. Ou seja, a procura em Guarulhos tende a diminuir e tende a aumentar o preço da passagem aérea em Congonhas, então esse tipo de portaria/medida foi tomada num aeroporto do Rio de Janeiro, mas afeta toda a estrutura de aeroportos do Sudeste”, explicou o economista Fábio Bentes.

“Então, mesmo considerando que o preço das passagens aéreas tem diminuído, tem perdido força nos últimos meses, qual a realidade que o consumidor pode se deparar daqui um tempo? Em determinados aeroportos, naqueles onde você tem maiores restrições operacionais, o preço da passagem aérea pode subir."

O que dizem as empresas

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas informou que as mudanças envolvem questões operacionais e comerciais de cada empresa.

A Azul disse que não vai comentar o assunto neste momento. A Latam informou que as alterações na malha aérea serão comunicadas oportunamente aos clientes. A Gol adiantou que vai adequar os voos para o Galeão e para o Santos Dumont já a partir de outubro.

Prefeitura de Guarulhos critica medida

A Prefeitura de Guarulhos se manifestou contra a portaria que garante a migração dos voos do Aeroporto Santos Dumont para o Galeão, a partir de 2 de janeiro de 2024. Com a medida, o Aeroporto Internacional da cidade não terá mais voos com destino e origem de Santos Dumont.

Em nota enviada ao g1 nesta sexta (11), a prefeitura disse que cogita entrar com uma ação na Justiça se a portaria não for revista ou se não houver compensação para a cidade.

Segundo a gestão municipal, 32 voos diários deixarão de existir, sendo 16 partindo de Guarulhos e outros 16 chegando.

A prefeitura ainda alega que o Aeroporto Internacional perderá uma arrecadação de R$ 300 a R$ 500 milhões de reais anuais. "E apenas o município de Guarulhos deixará de arrecadar cerca de R$ 10 milhões em tributos por ano", afirma.

Leia também:

Governo Lula assina portaria que garante a migração de voos do Santos Dumont para o Galeão

Márcio França diz que restrição no Santos Dumont pode ser temporária

A questão da perda de passageiros também foi mencionada pela prefeitura. Segundo a gestão municipal, serão de 3 a 5 milhões de passageiros a menos por ano.

"Até o final da concessão da GRU Airport, serão entre 40 e 45 milhões de passageiros por ano a menos. Estudos indicam que, para cada 1 milhão de passageiros perdidos, estima-se a perda de aproximadamente mil empregos diretos", ressalta, em nota.

"Outra consequência é que o aeroporto de Guarulhos se torna menos atrativo com a perda de passageiros domésticos e internacionais e ainda de carga aérea (200 mil toneladas até o final do contrato), o que é ainda mais grave para as empresas domésticas, que ficam menos atrativas".

A prefeitura ainda diz que, "devido à queda de demanda, a GRU Airport vai deixar de investir mais de R$ 500 milhões, impossibilitando a criação de 4 a 5 mil empregos diretos".

Entenda a portaria

Ministro fala sobre portaria que migra voos do Santos Dumont para o Galeão: 'Vai possibilitar novos voos para o Rio de Janeiro

O documento foi assinado durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às obras do novo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa Tech) no Porto Maravilha, no Rio.

Ele indica que voos de e para o Santos Dumont ficam restritos a perímetro de 400 quilômetros, excluindo os aeroportos internacionais. Ficam na rota, então, a ponte-aérea Rio-SP via Congonhas e voos para Vitória (ES).

Resumo do que foi anunciado:

voos de e para o Santos Dumont ficam restritos a um raio de 400 quilômetros, excluindo os aeroportos internacionais. Ficam na rota, então, a ponte-aérea Rio-SP via Congonhas e voos para Vitória (ES);

Guarulhos e Viracopos (SP) e Confins (MG), por serem internacionais, não terão ligação direta;

a determinação vale a partir de 2 de janeiro de 2024;

serão implantadas áreas de escape na pista do aeroporto, visando a segurança operacional dos voos, já que o Santos Dumont é limitado, fisicamente, pela Baía de Guanabara. A obra faz parte do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Em entrevista ao "Em Ponto" desta sexta-feira (11), o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, afirmou que a restrição de voos no Aeroporto Santos Dumont pode ser temporária. “Esse esforço é passageiro, não é para sempre”.

“O Galeão no ano passado teve 5 milhões de passageiros; este ano vai atingir já 8 milhões. Portanto, um crescimento bem substancial. A gente espera que acelere. Depois, se [o Galeão] normalizar com 15 milhões, 16 milhões, nós podemos voltar com os voos para o Santos Dumont”, detalhou.

França também disse que até o fim do ano o governo enviará ao Congresso um projeto de lei para incluir Brasília entre os destinos do Santos Dumont após a restrição de voos.

A retomada do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, vem sendo debatida entre os governos federal e estadual e a prefeitura.

O Galeão tem a maior pista comercial do país e capacidade para 37 milhões de passageiros por ano. Em 2022, recebeu menos de 6 milhões. Atualmente, o terminal vem funcionando com 20% da capacidade.

Já o Santos Dumont tem operado no limite da operação, de R$ 10 milhões. Em abril, França prometeu limitar a este teto já a partir do segundo semestre. Sem a redução, o terminal poderia fechar 2023 com cerca de 12 milhões de passageiros.

As companhias aéreas já anunciaram um pequeno aumento de voos ofertados no Galeão a partir de outubro, e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu antecipar a redução dos voos no Santos Dumont para o início de outubro, e não mais para o fim do mês. A decisão atendeu a um pedido feito pela secretária de Aviação Civil.

Ministro Márcio França, presidente Lula e prefeito Eduardo Paes celebram a assinatura da portaria

Reprodução/GloboNews

Brecha jurídica

Na segunda-feira (7), o ministro Márcio França tinha afirmado que as mudanças nos terminais dependiam de um projeto de lei, passando pelo Congresso. A afirmação desagradou a Paes, que cobrou agilidade e disse que havia respaldo jurídico para que a medida fosse feita via portaria.

No discurso nesta quinta, o ministro contou que consultou o ministro Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União (AGU), que deu aval para a assinatura.

"Encontramos um formato jurídico para dar lastro a essa decisão, para que a gente possa voltar a ter no Galeão muitos voos e volte a ter no Galeão o maior aeroporto do Brasil", disse França.

Em tom positivo, França falou sobre a "insistência" de Paes sobre o tema. "Eduardo insistiu com essa ideia, a gente sabe o quanto que ele se esforçou e nós vamos fazer tudo para que a gente possa fazer em conjunto, como deve ser, Prefeitura, governo do estado e governo federal."

Em evento no Porto Maravilha com a presença de Lula, Eduardo Paes apresenta alguns ganhadores da Olimpíada de Matemática, entre eles, o jovem Ricardo, portador de Ela

Eliane Santos/g1

*Com informações de Eliane Santos e Carlos de Lannoy, g1 Rio e TV Globo


FONTE: G1 Globo


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