Restrições a tráfego no Canal do Panamá serão mantidas por um ano por falta d’água

25 ago 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!

Afetado pela falta d'água, o Canal do Panamá vai manter por um ano as restrições para a passagem de navios, uma medida que congestionou os acessos à via por onde passam 6% do comércio marítimo mundial.

"Hoje, estamos vendo um período de um ano, a menos que nos meses de setembro, outubro e novembro caiam fortes chuvas na bacia hidrográfica do Canal e os lagos encham", disse em entrevista à AFP Ilya Espino, vice-administradora do Canal do Panamá.

Esse prazo permite ao cliente "saber que tem um ano para planejar o que vai fazer", acrescenta.

O Canal do Panamá, de 80 quilômetros, liga o Oceano Pacífico ao Mar do Caribe. Pela via panamenha, cujos principais usuários são Estados Unidos, China e Japão, passam 6% do comércio marítimo mundial.

A escassez de chuvas, provocada pelas mudanças climáticas e pelo fenômeno El Niño, fez com que o Canal reduzisse, desde 30 de julho, o número de passagens para economizar água.

Se antes passavam por ali 40 embarcações diariamente, agora transitam no máximo 32. Além disso, a autoridade do Canal também reduziu o calado dos navios para 44 pés (13,4 metros), dois pés a menos do que antes era permitido nesta via.

A redução do trânsito tem provocado um aumento considerável do número de embarcações que fazem fila para fazer a travessia.

Sem as restrições, até 90 barcos permaneciam em espera de três a cinco dias. Com a crise, chegou a haver 160 navios aguardando e os dias de espera chegaram a 19, embora estes números tenham baixado consideravelmente.

- O canal "não está fechado" -

Os navios que passam pelo canal reservam com antecedência uma das cotas diárias que a via oferece.

Caso o barco não tenha conseguido uma dessas vagas, existe a alternativa de recorrer a um leilão, no qual quem der o lance mais alto pode obter uma das vagas.

Em outras ocasiões, as embarcações chegam sem ter feito reserva. A maioria delas aguarda nas filas à espera de permissão para poder passar.

"Nós gerenciamos facilmente uma fila de 90 navios" à espera, mas "130 ou 140 navios nos causa problemas e atrasos", reconhece Espino.

Segundo a vice-administradora do canal, se o nível das chuvas aumentar até o final do ano, as medidas restritivas poderiam ser suspensas antes de agosto de 2024.

A crise levou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, a dizer que o Canal do Panamá estava fechado pela seca. Seu contraparte mexicano, Andrés Manuel López Obrador, também se referiu esta semana à situação "especial" que a rota panamenha está atravessando.

"Nós temos no Panamá uma restrição como já tivemos em outras ocasiões, mas não é que o Canal do Panamá esteja fechado, isso não é correto", respondeu o presidente panamenho, Laurentino Cortizo, na quarta-feira.

- Fora do negócio -

O Canal do Panamá utiliza a água da chuva para funcionar.

Para cada barco que atravessa a rota são utilizados cerca de 200 milhões de litros de água doce, que o Canal obtém de uma bacia hidrográfica formada pelos lagos Gatún e Alhajuela.

No entanto, essa bacia, que também abastece o país com água potável, foi modernizada pela última vez em 1935, quando eram registrados 6.000 tráfegos pelo canal, menos da metade dos de hoje.

Além disso, naquela época a população panamenha não chegava a meio milhão de habitantes, contra os quase 4,2 milhões da atualidade, metade dos quais depende do canal para se abastecer de água.

"Atualmente, acho que a situação é administrável, mas temos, sim, que mostrar já à indústria que estamos dando passos definitivos para resolver o problema da água e isso para mim é chave, porque senão vamos ficar fora deste negócio", disse à AFP o ex-administrador do canal, Jorge Quijano.

As restrições geraram o temor de que as empresas de navegação decidam trocar a rota para transportar suas mercadorias.

Se us custos de passar pelo canal nestas circunstâncias forem "excessivos", os usuários "vão buscar outra rota e a rota que normalmente compete conosco é a do Canal de Suez", disse Quijano.

"Temos que encontrar soluções para continuar sendo uma rota relevante para o serviço do comércio internacional. Se não nos adaptarmos, então vamos morrer", disse recentemente o administrador do canal, Ricuarte Vásquez.

- Menos carga, menos receita -

As medidas adotadas pelos administradores do canal podem produzir um efeito no comércio internacional, já que a redução de calado se traduz em uma menor capacidade de carga por cada barco e, portanto, menores receitas para o Panamá pelo pagamento de pedágios.

As previsões, segundo Espino, indicam que para o próximo ano o número de toneladas que transitam pelo Canal seja "menos de 500 milhões", contra 518 milhões no exercício passado.

Além disso, espera-se uma queda na receita de aproximadamente 200 milhões de dólares (R$ 975 milhões). No ano passado, o Canal arrecadou mais de três bilhões de dólares (R$ 15,5 bilhões de reais na cotação da época) em pedágios.

"Como é uma situação de um ano, não acredito que o impacto nos números do comércio global vá ser pior do que foi a pandemia de covid", finalizou Espino.


FONTE: Estado de Minas


VEJA TAMBÉM
FIQUE CONECTADO