Queima de esculturas, ingressos de até R$ 15 mil e poucos recursos: o que é o Burning Man e por que ele atrai tanta gente
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Festival, que acontece anualmente em uma região de deserto no estado de Nevada, nos EUA, tem esse nome (que significa homem em chamas) porque uma escultura de madeira - e em formato de homem - é queimada ao final do evento. Chamas consomem o Templo de Juno na madrugada do último dia da edição 'Fertilidade 2.0' do festival Burning Man 2012 de artes e música, realizado no deserto de Black Rock, em Nevada (EUA). Mais de 60 mil pessoas de todo o mundo foram ao evento.
Jim Urquhart/Reuters O que leva 70 mil pessoas do mundo todo a fazerem uma espécie de peregrinação rumo a uma região de deserto no estado de Nevada, nos Estados Unidos, para uma estadia de poucos dias? O Burning Man, festival que existe desde 1986 e, segundo a organização, é "um ecossistema global de artistas, criadores e organizadores comunitários que cocriam arte". Símbolo da contracultura, o Burning Man tem esse nome (que significa homem em chamas, em tradução livre do inglês) porque uma escultura de madeira - justamente em formato de homem - é queimada ao final do evento. Como funciona? Para entrar, é preciso comprar o ingresso, que este ano custou a partir de US$ 225 (R$ 1,1 mil, em um ticket tipo 'social') a US$ 3.000 (quase R$ 15 mil), a entrada mais cara, para quem faz questão de comprar antecipadamente. Não há uma programação específica, mas sim atrações diversas organizadas pelos próprios participantes, que devem ser autossuficientes (o "Burning Man incentiva o indivíduo a descobrir, exercitar e confiar em seus recursos internos", diz a cartilha de princípios do festival). Lá dentro, num misto de apresentações circenses e música, não há leis nem dinheiro circulando — a ideia é que as coisas e serviços sejam trocados. É preciso levar água e comida. Há até uma espécie de igreja com um confessionário dentro da "cidade" chamada de Black Rock City — e que também é incendiada ao final. A estrutura do festival, construída apenas para essa finalidade, é toda feita de lonas, containers e trailers. Para se deslocar, usa-se principalmente bicicleta e um dos lemas é "não deixar rastros". Milhares de pessoas começam a sair do festival Burning Man Lamaçal Neste ano, o evento aconteceu de 27 de agosto a 4 de setembro. A edição de 2023 do Burning Man despertou mais atenção e ganhou holofotes, não tanto pelo evento, mas sim por causa das condições climáticas locais, que mudaram o cenário e fizeram com que a saída do evento fosse temporariamente bloqueada. A chuva que caiu durante o fim semana transformou o solo, antes compacto, em um lamaçal. Uma pessoa morreu no evento, no domingo (3), informaram autoridades norte-americanas, sem dar muitos detalhes. "As chuvas nas últimas 24 horas criaram uma situação que exige a interrupção total do movimento de veículos ", disse a agência de governo que gerencia a região onde ocorreu o evento. Segundo estimativas, choveu em poucas horas o esperado para três meses. Imagens do local do Burning Man enlameado Reprodução de vídeo/Reuters Saída bloqueada Alguns participantes conseguiram deixar o local a pé e caminhando até a estrada mais próxima. O DJ Diplo e o comediante Chris Rock conseguiram escapar do isolamento no sábado (2) graças à carona na traseira da caminhonete de um fã. Em um vídeo publicado no Instagram, o DJ apareceu com o comediante e outras pessoas. "Um fã ofereceu uma carona para fora do Burning Man para Chris Rock e eu na traseira de uma caminhonete. Depois de uma caminhada de 9,6 km pela lama." O DJ brasileiro Lukas Ruiz, conhecido como Vintage Culture, relatou em uma rede social que precisou andar a pé por mais de duas horas para conseguir sair do lamaçal. Imagem de participantes do Burning Man, nos EUA Trevor Hughes/USA TODAY NETWORK/Via Reuters História e mudanças O Burning Man foi criado pelos amigos Jerry James e Larry Harvey como uma pequena reunião, em 1986, em uma praia da cidade de San Francisco. Todos os participantes devem seguir dez princípios: incluir, presentear, desmercantilização, autossuficiência, autoexpressão, esforço, responsabilidade cívica, não deixar rastros e imediatismo. Em 2015, o Profissão Repórter fez uma reportagem sobre o evento. A Caco Barcelos, a repórter Mayara Teixeira relatou que os participantes afirmavam gostar do evento porque estar em um ambiente tão extremo fazia com que elas aproveitassem mais a experiência. "[Participar] deixa elas mais abertas a viver isso, e por isso elas gostam que seja num lugar hostil, que faz parte da ideia do festival que ele aconteça num lugar hostil", disse Mayara. Em um artigo de opinião, a colunista do The Guardian Arwa Mahdawi disse que, embora o Burning Man tenha raízes contraculturais e, outrora, tenha sido uma celebração da criatividade e um contraponto ao consumismo irracional, nos últimos anos "tornou-se massivamente mercantilizado e começou a atrair algumas das piores pessoas do planeta". Neste ano, antes mesmo da chuva fazer o festival despertar a curiosidade do mundo, o Burning Man foi alvo de ativistas climáticos, que pediam que o Burning Man proibisse jatinhos privados, trailers com ar-condicionado e plásticos descartáveis. Confira a edição do Profissão Repórter sobre o evento, exibida em 2015: Burning Man leva 70 mil pessoas para festival de arte no deserto dos EUA - Parte 1FONTE: G1 Globo