Povo Pataxó defende em álbum que o samba também nasceu em aldeia indígena do sul da Bahia
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Grupo Marujos Pataxó lança álbum em que registra sambas autorais como 'Aldeia sagrada', 'Apito do navio' e 'Maria Preta'
Elisa Braga / Divulgação ♪ É consenso que “o samba nasceu lá na Bahia” – como sentenciou o poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980) em verso do Samba da benção (1966) – antes de migrar para o Rio de Janeiro (RJ) e de se urbanizar na cidade, na região central conhecida como Pequena África. Diz que história que o samba entrou na roda pela Bahia, no século XIX, por volta de 1860. Só que pode ter havido uma pré-história desse gênero que ainda identifica o Brasil no mapa-múndi musical, em que pese a ascensão planetária do funk carioca. E essa pré-história do samba teria começado com os povos originários. Em bom português, há quem aponte a existência de um samba de origem indígena que teria contribuído, com tradições rítmicas e percussivas, para a formação do gênero. Crível, essa tese do samba indígena – tornado invisível aos olhos do Brasil pelo processo de colonização das aldeias e tribos – é defendida pelo povo Pataxó em álbum que chega ao mundo neste mês de outubro em edição dos selos fonográficos YB Music e Sala da Toscaria. Gravado pelo grupo Marujos Pataxó, com produção musical de Lenis Rino, o álbum Marujos Pataxó – A força do samba indígena apresenta os primeiros registros fonográficos oficiais da música feita e preservada pelo povo Pataxó na Aldeia Mãe Barra Velha, situada no território Pataxó, no sul da Bahia. Ouvir as gravações de músicas como Aldeia sagrada, Apito do navio, João Mourão e Maria Preta – nas vozes rústicas dos cantores indígenas, embasadas por forte percussão – é atestar que, se tais registros forem fiéis às raízes do som feito pelo povo Pataxó, teria havido de fato expressiva contribuição indígena ao samba que avançou pelas zonas rurais do interior da Bahia a partir do século XIX. O território Pataxó abrange o Parque Nacional do Monte Pascoal e fica perto do local onde começou a invasão do Brasil em 1500 pelos colonizadores portugueses. Sede do primeiro aldeamento indígena do Brasil, o território vem resistindo ao longo de 523 anos e, mesmo abalado por massacre ocorrido em 1951, em ação trágica que provocou diáspora do povo Pataxó por diversos pontos do Brasil, ainda permanece como um polo catalizador das tradições culturais da aldeia matricial. No disco, masterizado por Tejo Damasceno, essas tradições ecoam nas gravações de sambas como Índio da floresta, Esquenta – tema sem letra que abre o álbum – e É Tupã que ilumina. O álbum do coletivo Marujos Pataxó chega ao mundo simultaneamente com documentário (sobre a história do grupo, do samba indígena e do próprio povo Pataxó), clipe e remix produzido pelo duo paulistano de música eletrônica Tropkillaz. Capa do álbum 'Marujos Pataxó – A força do samba indígena', do grupo Marujos Pataxó Elisa BragaFONTE: G1 Globo