‘Filmis’ sobre Mussum lembra que o samba também foi a vida do humorista
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Atração do Festival do Rio, o longa-metragem de Silvio Guindane mostra a trajetória do percussionista no grupo Os Originais do Samba entre 1968 e 1979. Ailton Graça (à direita) em número musical de 'Mussum – O filmis', primeiro longa-metragem dirigido por Silvio Guindane
Divulgação ♪ “Eu sou sambista!”, brada Antônio Carlos Bernardes Gomes (7 de abril de 1941 – 29 de julho de 1994) em vários momentos de Mussum – O filmis, longa-metragem dirigido por Silvio Guindane e apresentado na noite de ontem, 12 de outubro, na 25ª edição do Festival do Rio, como hors concours da mostra Première Brasil. Sim, antes de se popularizar na TV como Mussum, personagem batizado pelo ator Grande Otelo (1915 – 1993) e efetivamente criado por Chico Anysio (1931 – 2012), Antônio Carlos foi sambista, de início conhecido como Carlinhos Reco-Reco e Carlinhos da Mangueira. Assim como o documentário Mussum – Um filme do Cacildis (2018), estreado há cinco anos, o filmis de Guindane também mostra as duas faces do artista. Ainda que Mussum tenha eclipsado a trajetória de Carlinhos Reco-Reco, o nome de Antônio Carlos Bernardes Gomes também está na história do samba como cantor e percussionista. Escorado na perfeita personificação do artista carioca pelo ator paulistano Ailton Graça, cuja impressionante semelhante física com Mussum evidencia o apuro do trabalho de caracterização do elenco, o roteiro do filmis parte justamente da atração do menino Antônio Carlos pelo samba na infância vivida no morro. Nessa fase inicial da história, quando Carlinhos é vivido na juventude pelo talentoso ator Yuri Marçal, também impressiona a personificação da cantora Elza Soares (1930 – 2022) por Larissa Luz no número musical Devagar com a louça (Haroldo Barbosa e Luís Reis, 1962), samba que, no filme, exemplifica a conexão de Elza com o balanço do conjunto Os 7 Modernos do Samba, integrado por Carlinhos Reco-Reco. Foi a partir de dissidência d'Os 7 Modernos do Samba que surgiu, em 1965, o grupo que deu fama ao então já conceituado percussionista, Os Originais do Samba. No início, o grupo amargou certo desprezo dos produtores e empresários do mercado da música até que, em 1968, foi convidado a acompanhar Elis Regina (1945 – 1982) na defesa de Lapinha (Baden Powell e Paulo César Pinheiro, 1968) na primeira edição do festival Bienal do Samba – fato que o roteiro de Paulo Cursino omite em Mussum – O filmis sem prejuízo da narrativa. O impacto da apresentação com Elis abriu portas para o grupo, mas o estopim para o sucesso d'Os Originais do Samba foi a conexão do grupo com Jorge Ben, que deu para o conjunto o samba Cadê Tereza? (1969), música que, gravada pelos Originais com participação de Jorge, impulsionou o primeiro álbum solo do grupo (um ano antes, em 1968, houve disco gravado ao vivo pelos ritmistas e vocalistas com a cantora Márcia). O sucesso foi consolidado três anos depois, com o álbum O samba é a corda... Os Originais a caçamba, lançado em 1972 com dois grandes sucessos, Do lado direito da rua direita (Luiz Carlos e Chiquinho, 1972) e Esperanças perdidas (Adeilton Alves e Délcio Carvalho, 1972), exemplos de como o grupo soou de fato original com batucada pop, de ritmo ágil. Os dois sambas estão inseridos no roteiro do filmis ao lado de Tragédia no fundo do mar (Assassinato do camarão) (Ibrain e Zeré, 1974) e A dona do primeiro andar (Luis Carlos e Lucas, 1975), outros sucessos do grupo, com o qual Mussum gravou 12 álbuns. E teria gravado outros se, em 1979, não tivesse sido expulso amorosamente do conjunto por incompatibilidade da agenda dos Originais com os compromissos assumidos pelo então já consagrado humorista como integrante do quarteto Os Trapalhões, cujo programa arrastava milhões para a tela da TV nas noites de domingo. Como o filme mostra, a saída de Mussum do grupo foi iniciativa de Arlindo Vaz Gemino, o pandeirista e vocalista conhecido artisticamente como Bigode, personagem do ator Édio Nunes (atualmente com 81 anos, Bigode é o único remanescente da formação original do grupo Os Originais do Samba). Coincidentemente, sem Mussum, a trajetória do grupo perdeu impulso na década de 1980 – fato que, a rigor, deve ser creditado sobretudo à renovação do samba pela geração capitaneada pelos integrantes do grupo Fundo de Quintal. De todo modo, o ótimo filmis de Silvio Guindane mostra que, embora tenha ficado eternizado como Mussum, Antônio Carlos Bernardes Gomes também foi sambista do cacildis ao integrar grupo que, com som tipo exportação, eletrizou não somente o público brasileiro, mas também os espectadores estrangeiros dos shows feitos pelos Originais do Samba fora do Brasil no período áureo do conjunto que era a vida de Carlinhos Reco-Reco. Cartaz de 'Mussum – O filmis' DivulgaçãoFONTE: G1 Globo