Argentina vota para presidente em eleição marcada por crescimento do antissistema Milei
Os argentinos votaram neste domingo (22) em eleições presidenciais marcadas pelo crescimento do candidato de extrema direita e antissistema Javier Milei, que sacudiu o cenário político em um país imerso em uma longa crise econômica, com uma inflação de quase 140%.
Favorito nas pesquisas, Milei enfrenta o ministro da Economia - o peronista Sergio Massa - e a conservadora Patricia Bullrich.
Os centros de votação fecharam às 18h locais (mesmo horário em Brasília), em um dia que transcorreu sem incidentes. A participação era de 74% dos 35,8 milhões de eleitores, de acordo com a Câmara Nacional Eleitoral, um número que deve aumentar levemente, uma vez que ainda havia pessoas na fila para votar.
Milei, um economista que promove o "anarcocapitalismo", causou agitação após o meio-dia, quando chegou ao seu local de votação, onde uma multidão o recebeu lançando flores e cantando em comemoração ao seu aniversário.
"Estamos preparados para fazer o melhor governo da História", declarou o candidato do partido Liberdade Avança, que completa 53 anos neste domingo.
- Consolidar a democracia -
Em um ambiente mais tranquilo, Massa, da coalizão União pela Pátria (peronismo de centro-esquerda), votou pouco antes, acompanhado da mulher, Malena Galmarini, na cidade de Tigre, norte de Buenos Aires.
"Hoje é um dia que nos obriga a trabalhar pensando na consolidação de 40 anos de democracia", afirmou, às portas do centro eleitoral.
Patricia Bullrich, candidata da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança, votou mais tarde, cercada de apoiadores. "O objetivo não é apenas estar no segundo turno, mas vencer as eleições", disse a ex-ministra da Segurança.
Com uma taxa de inflação de quase 140% em 12 meses e o aumento do índice de pobreza, que afeta mais de 40% da população, os eleitores chegaram exaustos ao dia da eleição, que, pela primeira vez em três décadas, foi disputada por três candidatos competitivos, em vez de apenas dois nomes das grandes forças políticas.
Para Lucía Bulacio, uma eleitora de 30 anos, é difícil ter expectativas. "Depois é frustrante. A única coisa que posso dizer é que, não importa o que aconteça, vou dar o meu melhor. Somos um país que sempre se adaptou muito bem às adversidades", ressaltou.
- Força disruptiva -
Com presença na política desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei é o favorito nas pesquisas, depois de surpreender como candidato mais votado nas primárias de agosto.
"A força que surge como disruptiva foi a que ficou em primeiro nas primárias e a que tem maior capacidade de crescimento", explicou à AFP Paola Zubán, diretora da consultoria Zubán, Córdoba e Associados.
O segmento de eleitores que apoia Milei com mais força é formado por homens jovens de classes média e baixa, segundo pesquisas de opinião, ainda que sua figura tenha influência em todos os setores da sociedade.
Esteban Montenegro, um vendedor de 24 anos, é um dos eleitores de Milei. "Não é que eu tenha total confiança nele, nem que eu pense que ele será bom em tudo, mas é o único que apresenta propostas", disse à AFP.
Para vencer já neste domingo, um candidato precisa de 45% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos em relação ao segundo mais votado.
Juan Negri, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, destacou que a sociedade argentina vive "um momento de muita frustração" e atravessa "um período de antipolítica".
- Contra o status quo -
Milei pretende dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, reduzir drasticamente os gastos públicos, eliminar o Ministério da Mulher e revogar a lei de aborto, entre outras propostas.
Os adversários do candidato encontram dificuldade para atrair novos eleitores, considerando suas participações nos governos, que não conseguiram reverter a deterioração econômica do país: Patricia no Executivo de Mauricio Macri (2015-2019) e Massa na atual gestão, de Alberto Fernández (2019-2023).
Vivendo na terceira maior economia da América Latina, historicamente os argentinos têm orgulho de sua ampla classe média. Porém, a tendência mudou na última década, e a taxa de pobreza chega a 40% da população.
Com a economia estagnada, em 2018 o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 160,8 bilhões, na cotação da época), que exige uma redução significativa do déficit fiscal.
Além da Presidência, os argentinos definiram neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. As pesquisas anteriores à votação indicavam que nenhum partido conquistará a maioria parlamentar.
O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos.
FONTE: Estado de Minas