Autoridades da Venezuela ocupam mais uma prisão controlada pelo crime
Armas, superlotação e um estúdio sofisticado onde criminosos conhecidos como "prans" gravavam músicas de reggaeton: a prisão de Tocuyito, a de maior população carcerária da Venezuela, com mais de 2.000 detentos, foi controlada pelas autoridades nesta quarta-feira (25), a segunda no período de um mês.
"Este é o centro penitenciário com maior população da Venezuela. Foi totalmente controlado", declarou o ministro do Interior e da Justiça, almirante Remigio Ceballos, à televisão estatal, ao confirmar a "tomada" do recinto onde "havia mais de 2.000 presos".
"Tocuyito está sob controle da força pública, totalmente", frisou Ceballos.
Imagens de presos sentados e algemados no pátio central da prisão, após serem retirados de suas celas por militares e policiais, foram exibidas pela mídia oficial.
"Foi uma tomada pacífica, de verdade, não houve maus-tratos", relatou à AFP Jesica Veliz, esposa de um dos presos. "O que queremos saber é o que vai acontecer [...], para onde eles serão mandados", acrescentou, ao lado de dezenas de familiares que esperavam notícias.
A operação acontece após a evacuação do presídio de Tocorón, no estado de Aragua (centro-norte), em 20 de setembro, que contou com a participação de mais de 11.000 agentes.
Tocorón, que tinha cerca de 1.600 presos, era a base de operações do temido Trem de Aragua, um grupo dedicado a crimes como sequestro, extorsão e tráfico de drogas, e cujos tentáculos se expandiram por diversos países da América Latina nos últimos anos.
Transformada em uma cidadela "do mal", Tocorón abrigava um arsenal com munição, armas de guerra, granadas, explosivos e lança-foguetes. Em seu interior havia piscina, discoteca, restaurantes e até um zoológico com animais silvestres.
As autoridades também encontraram um arsenal em lugares usados como esconderijos dentro de Tocuyito. "Encontramos uma quantidade impressionante de armas e munições nestes espaços", confirmou Ceballos.
- 'A prisão mais superlotada da Venezuela' -
Há anos "o controle das prisões na Venezuela está nas mãos dos presos, são eles que mandam", disse à AFP Carlos Nieto Palma, coordenador da ONG Uma Janela para a Liberdade, ao descrever Tocuyito como "a prisão mais superlotada da Venezuela".
Neste presídio, por exemplo, funcionava um estúdio onde Néstor Richardi Sequera Campos, conhecido como 'Richardi', um dos "prans" do local, gravava músicas que acumulam milhões de visualizações em seu canal no YouTube.
Condenado a 20 anos de reclusão por homicídio, "deveria ter sido libertado em maio de 2018, mas decidiu por conta própria ficar atrás das grades como se tratasse de um resort", assinalou a ONG Observatório Venezuelano de Prisões (OVV).
É "nosso pran, o pran de Tocuyito, R7 [nome artístico de Richardi]", disse uma mulher que esperava notícias de seu esposo do lado de fora da penitenciária. "É uma pessoa de se admirar", afirmou, ao celebrar que ele não fugiu como fizeram os "prans" de Tocorón, que estão foragidos da Justiça.
"Diretamente da prisão na Venezuela, o novo movimento, menos violência e mais música", escreveu Richardi no Instagram, onde compartilhou um vídeo musical: "R7 sou o ministro, da Venezuela até Porto Rico [...] na 'fucking' prisão", diz parte da letra, em tradução livre do espanhol.
Amparados pela corrupção de funcionários, os chamados "prans" se financiam com "cobrança de taxas dos presos, tráfico de drogas, extorsões, sequestros e um sem-fim de atividades delitivas", observa Nieto Palma.
Em 2013, com a promessa de instaurar um novo "regime penitenciário" que acabasse com as máfias, a então ministra Iris Varela ordenou a desocupação parcial da prisão de Tocuyito.
Em 2015, pelo menos 17 pessoas morreram durante um incêndio nessa penitenciária e, em 2017, um dos principais bancos da Venezuela denunciou que uma agência bancaria clandestina operava usurpando sua marca, uma prática que também foi documentada em outros centros de reclusão como Tocorón.
"Tomara que esta operação ajude a melhorar o sistema penitenciário venezuelano, que é um caos", comentou Nieto Palma.
FONTE: Estado de Minas