Sem truques banais, Edu Lobo recria a própria criação no álbum dos 80 anos

01 nov 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!

Pautado pelo requinte, o disco 'Oitenta' sai em 7 de novembro com 24 músicas autorais revisitadas pelo artista com os cantores Ayrton Montarroyos, Mônica Salmaso, Vanessa Moreno e Zé Renato. Edu Lobo lança o álbum 'Oitenta', idealizado pelo artista e gravado sob direção musical de Cristovão Bastos, autor dos arranjos

Nana Moraes / Divulgação

Capa do álbum 'Oitenta', de Edu Lobo

Nana Moraes

Resenha de álbum

Título: Oitenta

Artista: Edu Lobo

Edição: Biscoito Fino

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ Avesso a truques banais, Edu Lobo se desviou intencionalmente da trilha do sucesso quando capitães da indústria da música tentaram transformá-lo em popstar após vitórias em festivais dos anos 1960.

Por isso mesmo, descontada a projeção natural de algumas canções compostas pelo artista carioca com o parceiro Chico Buarque para trilhas sonoras de balés e musicais de teatros, em parceria alavancada há 40 anos a partir do sublime score d'O grande circo místico (1983), toda a discografia construída por Edu Lobo a partir da década de 1970 é em essência um vasto lado B da canção brasileira.

Como consequência, Oitenta – álbum comemorativo dos 80 anos de Edu Lobo, festejados em 29 de agosto – vai soar para muitos ouvintes como álbum de repertório praticamente inédito quando chegar ao mundo em 7 de novembro.

Das 24 músicas do disco, previsto para ser editado em CD duplo pela gravadora Biscoito Fino, nenhuma é inédita e somente Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) tem status de standard no cancioneiro do compositor, reaparecendo em Oitenta na voz lapidar de Mônica Salmaso em dueto com Edu.

Também intérprete de Branca Dias (Edu Lobo e Cacaso, 1976), música lançada na voz de Nana Caymmi, Salmaso integra o time de quatro solistas convidados por Lobo – intérprete de voz menos imponente, como atestam os solos do anfitrião nos cantos de Bancarrota blues (Edu lobo e Chico Buarque, 1985) e Só me fez bem (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1966) – para se revezarem na interpretação das canções.

Cantor apresentado ao Brasil como vocalista do Boca Livre em álbum de Edu Lobo, Camaleão (1978), Zé Renato cai bem no obscuro samba Nego maluco (Edu Lobo e Chico Buarque, 1993) e retorna majestosamente a Salmo (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985), tema de aura sacra que ele próprio lançou em dueto com Claudio Nucci na trilha do espetáculo O corsário do rei (1985).

Já Ayrton Montarroyos reitera a alta categoria vocal ao refinar canções moldadas para grandes cantores – casos de A moça do sonho (2001), O circo místico (1983) e Sobre todas as coisas (1983), joias do mais alto quilate da parceria firmada por Edu com Chico Buarque para a cena brasileira – e isso é muito.

Pelo alto rigor estilístico, Ayrton consegue fazer o ouvinte esquecer que essas canções já ganharam vozes sobressalentes como as de Maria Bethânia e Zizi Possi.

Completando o naipe de solistas, cujas vozes se unem para alicerçar Casa forte (1969), tema sem letra que abre Oitenta, Vanessa Moreno segue os passos do Tango de Nancy (Edu Lobo e Chico Buarque, 1995) e alça voo alto no canto do samba Ave rara (Edu Lobo e Aldir Blanc, 1993) em gravação pontuada pelo sopro pontiagudo do sax de Mauro Senise.

Pelo time de intérpretes, fica claro que Edu Lobo optou por recriar a própria recriação sem inventar moda e sem risco de macular melodias e harmonias requintadas. Tanto que convidou o pianista Cristovão Bastos para fazer a direção musical e os arranjos do álbum Oitenta. Cristóvão Bastos forma com Jorge Helder (contrabaixo) e Jurim Moreira (bateria) um trio já habituado a tocar com Edu Lobo.

Dentro de território já pisado, Edu enfatiza a influência nordestina da obra – fruto da ascendência do artista, filho do compositor pernambucano Fernando Lobo (1915 – 1996) – ao longo da refazenda do álbum Oitenta.

A exuberância da releitura de Canudos (Edu Lobo e Cacaso, 1978) – em arranjo que evidencia o acordeom de Kiko Horta – se impõe no disco em sintonia com o canto-embolada de Mônica Salmaso em Veneta (Edu Lobo e Chico Buarque, 2001) e com o balanço de Gingado dobrado (Edu Lobo e Cacaso, 1978), música ouvida em Oitenta na voz de Vanessa Moreno – solista com mais suingue no naipe de intérpretes do disco – e com a picardia da flauta de Carlos Malta e do sax de Mauro Senise.

Sem a devida espirituosidade, Vanessa também canta, em dueto com o anfitrião, Ciranda da bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983), canção que se afina com a memória da infância que reverbera em Salabim (1991) e Terra do nunca, temas lúdicos compostos por Edu com Paulo César Pinheiro para as trilhas do programa de TV Castelo Rá-Tim-Bum e de musical sobre Peter Pan, respectivamente, e ouvidos nas vozes de Vanessa Moreno e Zé Renato, que revisita Terra do nunca dez anos após a gravação feita pelo grupo Boca Livre para o álbum Amizade (2013).

Álbum sem surpresas ou truques banais, gravado dentro das tradições tão ao gosto conservador de Edu Lobo, Oitenta soa à altura deste imenso artista, que aos 80 anos de vida e 60 de carreira, já está imortalizado no panteão da música brasileira.

Edu Lobo festeja 80 anos de vida com disco em que revisita 'lados B' da obra autoral

Nana Moraes / Divulgação


FONTE: G1 Globo


VEJA TAMBÉM
FIQUE CONECTADO