Carly Rae Jepsen foi do pop farofa ‘Call Me Maybe’ ao mundinho ‘cult’ graças a fracassos na carreira

30 nov 2023
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Após estourar com hit adolescente em 2012, cantora chegou a se apresentar para só 20 fãs. Hoje, é uma das mais aguardadas do descolado Primavera Sound; entenda o que aconteceu. Quando estourou com o hino adolescente “Call Me Maybe”, em 2012, a canadense Carly Rae Jepsen nem de longe parecia o tipo de artista que um dia estaria no Primavera Sound. O festival espanhol, surgido em 2001, tem curadoria refinada e privilegia nomes de uma turma mais descolada.

Mais de dez anos depois de seu grande hit, no entanto, lá está ela. Carly é uma das atrações mais aguardadas da edição brasileira do evento, marcada para este sábado (2) e domingo (3), em São Paulo.

O que aconteceu? A transição da cantora do pop farofa ao mundinho "cult" intriga até os próprios fãs.

Ex-futura 'one-hit-wonder'

Carly Rae Jepsen no clipe de 'Call Me Maybe'

Reprodução/YouTube

Com letra chiclete sobre paixão à primeira vista, “Call Me Maybe” foi o grande hit de 2012: acumulou mais de 7 milhões de downloads nos Estados Unidos e passou nove semanas consecutivas no topo da parada americana.

Um vídeo viral com Justin Bieber e Selena Gomez ajudou, mas o sucesso veio mesmo por causa do refrão: “Ei, acabei de te conhecer / E isso é uma loucura / Mas aqui está meu número / Então, talvez, me liga”, diz a letra, na tradução para o português. Carly falou à revista “Billboard” em 2017:

“Essa música, para mim, sempre foi um pouco sobre como você gostaria de ter confiança para agir na vida real. É o lado mais fantástico das coisas, em que você vai até um completo estranho e faz algo selvagem, que faz você se sentir vivo.”

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Com o single, ela ganhou alcance global de forma quase instantânea. E, para continuar capitalizando, se apressou em lançar no mesmo ano o álbum “Kiss”, com outras tentativas de refrãos pegajosos, mas que não grudaram o suficiente. O disco não ultrapassou as 300 mil cópias vendidas. Foi considerado um fracasso.

Tudo levava a crer que a cantora estava fadada ao destino de “one-hit-wonder”, os artistas que estouram com uma música e, depois, nunca mais se ouve falar.

Em 2014, um evento beneficente com participação de Carly numa loja de chás em Toronto, no Canadá, conseguiu juntar apenas 20 fãs. Ela tirou uma foto que reunia boa parte da plateia e postou em seu Instagram.

Carly Rae Jepsen tira foto com fãs durante evento beneficente em loja de chás de Toronto, no Canadá, em 2014

Reprodução/Instagram

Heroína injustiçada?

Um ano depois, Carly lançou “Emotion”, álbum com arranjos exuberantes inspirados nos anos 1980. A nostalgia da década estava nos principais fenômenos pop daquela época: a música “Uptown Funk”, de Mark Ronson e Bruno Mars, e o disco “1989”, de Taylor Swift.

Não foi o suficiente para colocar a voz de “Call Me Maybe” de volta no topo. “Emotion” vendeu só 16 mil cópias nos EUA em sua primeira semana. Para comparação, “25”, de Adele, bateu recorde ao vender mais de 3 milhões na semana de seu lançamento no mesmo ano de 2015.

Em uma entrevista ao “The New York Times”, o então empresário da cantora, Scooter Braun, expressou publicamente a decepção com o disco:

“Acho que tentei de tudo e isso recai sobre mim. Eu não fiz isso por ela.”

Carly Rae Jepsen em foto de divulgação do álbum 'Emotion'

Divulgação

Mas Carly estava tranquila. “Estou muito feliz com a forma como o álbum foi feito”, disse ao site Buzzfeed.

Nas 12 faixas do “Emotion”, ela colaborou com alguns deuses da música indie. Entre eles, Rostam Batmanglij, do Vampire Weeknd, e Dev Hynes, produtor conhecido como Blood Orange que trabalhou com nomes como Blondie, Chemical Brothers e Florence and the Machine.

“'Emotion' é um álbum tão sólido e puro quanto você poderia ouvir no pop em 2015, o resultado de vários anos trabalhando ao lado de uma lista célebre de colaboradores”, escreveu o Pitchfork, respeitado site americano de críticas. O fracasso comercial, combinado com a lista requintada de parceiros musicais e a simpatia da crítica, fez barulho na internet.

A cantora virou uma espécie de heroína injustiçada para um público que se considera versado nas profundezas da música pop: um segredo não revelado, aquele restaurante que é só uma portinha, mas tem fila para entrar e você quase sempre acaba encontrando alguém conhecido por lá. Em resumo: Carly Rae Jepsen foi adotada pela cultura “hipster”.

Ela notou a mudança e passou a conduzir sua carreira nessa direção, dando aos fãs o que eles queriam: música pop descomplicada, sem a embalagem massificada do mainstream.

Diva do 'Mindie'?

Ao lado de nomes como Charli XCX, Lizzo, Troye Sivan e Kim Petras, Carly hoje compõe o movimento que a imprensa musical americana tem chamado de “mindie”. São artistas que fazem música pop convencional (ou do "mainstream"), mas com certa autenticidade indie -- e, por isso, são escalados para festivais como o Primavera Sound.

Carly Rae Jepsen em show no Primavera Sound Buenos Aires, em 2023

Reprodução/Instagram

A canadense chegou ao álbum seguinte, “Dedicated” (2019), já confortável em sua nova posição. Ela disse ao jornal “The Guardian” naquele ano:

“Estou mais confiante na minha estranheza agora.”

Ela ainda lançou uma segunda parte de "Dedicated" em 2020 e "The Loneliest Time", outro álbum dividido em dois, em 2022 e 2023. Nunca mais teve uma música nas paradas de mais ouvidas, mas há sempre um grupo muito animado de fãs em seus shows. E a chance de encontrar alguém conhecido por lá é altíssima.

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FONTE: G1 Globo


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