Bulgária, uma discreta reserva de munições para Ucrânia

22 mar 2023
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Oficialmente, a Bulgária, com sua histórica proximidade com a Rússia, não exporta armas para a Ucrânia. Suas fábricas da era comunista funcionam, no entanto, a pleno vapor e contratam muita mão de obra.

Desde a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, um vale no centro do país, aos pés da cadeia dos Bálcãs, nunca representou tão bem o apelido de "Guns and Roses" ("Armas e Rosas"). Ali, os vastos campos de roseiras se misturam à fabricação de armamentos.

Após entrar em colapso na esteira da dissolução do bloco soviético em 1989, essa indústria experimentou um renascimento na década de 2010, graças aos conflitos no Oriente Médio. Nada se compara, no entanto, à situação atual.

No ano passado, segundo estimativas, as exportações do setor chegaram a 4 bilhões de euros (US$ 4,3 bilhões), o triplo do recorde anterior de 2017.

Polônia e Romênia atuam como intermediários no caminho para a Ucrânia.

Em Kazanlak, os trabalhadores recorrem à empresa privada Arsenal, que tem cerca de 7.000 funcionários.

"Garantiram para gente que haveria encomendas para, pelo menos, cinco anos", conta uma mulher, que pediu anonimato e que todos os dias vê novos rostos chegarem.

"Só estou aqui há uma semana e já tenho três colegas que me pedem conselho", acrescenta.

Em janeiro, a direção promoveu os benefícios para atrair mão de obra: tíquete para refeição, transporte gratuito, férias no litoral e bom salário, condições raras neste país pobre.

As encomendas recebidas pela Arsenal, onde o "Kalashnikov búlgaro - conhecido por sua boa relação de custo-benefício - é fabricado, representam a atividade de toda a cidade", diz o vice-presidente da Câmara de Comércio local, Yordan Ignatov.

"Kazanlak registrou uma taxa de desemprego de 2,37% no ano passado", metade da média do país, detalha.

- Tema extremamente sensível -

Especialista em munições para armas soviéticas, este país dos Bálcãs quer modernizar sua infraestrutura obsoleta e se alinhar com as normas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual é membro desde 2004, com a ajuda dos fundos europeus.

Na segunda-feira (20), a União Europeia (UE) liberou 2 bilhões de euros (US$ 2,15 bilhões) para acelerar a produção para a Ucrânia. Seu Comissário da Indústria, Thierry Breton, viajou na semana passada para a Bulgária para visitar a empresa VMZ, em Sopot, na mesma região.

Lá, conheceu uma linha de artilharia de 155 mm, em falta para o Exército ucraniano. A imprensa não teve acesso a esse momento da visita, porque o assunto é extremamente sensível.

Quando o conflito estourou, o primeiro-ministro pró-europeu Kiril Petkov manobrava nos bastidores para apoiar Kiev, "em um momento decisivo para a Ucrânia", disse à AFP o ex-ministro da Defesa Todor Tagarev.

Segundo Petkov, citado pelo jornal alemão Die Welt, "um terço da munição de que a Ucrânia precisava na primeira fase da guerra saiu da Bulgária", através de terceiros países.

Após a queda de seu gabinete em junho de 2022, os governos interinos não impuseram obstáculos aos contratos comerciais existentes, apesar das fortes reservas de socialistas e ultranacionalistas.

À exceção de um único carregamento autorizado pelo Parlamento, Sofia nunca forneceu armas diretamente para Kiev, nem assinou a declaração comum europeia sobre munições.

O coronel reformado Vladimir Milenski lamenta que a Bulgária se negue a mostrar seu apoio publicamente.

"Isso teria enviado um forte sinal político, mostrando que não somos um peão político de Moscou", enfatiza.

"Pertencer à UE e à OTAN, mas defender os interesses da Rússia equivale a apoiar o agressor", resume.


FONTE: Estado de Minas


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