Ucrânia acusa Rússia por vídeo de decapitação de prisioneiro
O vídeo da decapitação de um suposto prisioneiro de guerra ucraniano provocou uma saraivada de condenações nesta quarta-feira (12), começando pelo presidente Volodimir Zelensky, que classificou os russos de "animais".
A AFP não pôde verificar a autenticidade do vídeo, nem onde ou quando foi filmado. As autoridades ucranianas assinalaram que estão tentando identificar a vítima.
A missão da ONU em Kiev se declarou "horrorizada" com as imagens e mencionou uma segunda gravação que mostra "corpos mutilados, aparentemente de prisioneiros de guerra ucranianos".
"Infelizmente não é um incidente isolado", lamentou a missão, que exigiu uma investigação dos crimes e que os autores sejam levados à justiça.
A União Europeia (UE) também exigiu que "todos os autores e cúmplices de crimes de guerra" na Ucrânia sejam responsabilizados.
A França, por sua vez, denunciou o que classificou de "ato de barbárie" e prometeu "continuar oferecendo apoio infalível" à Justiça ucraniana e à Justiça internacional "para lutar contra a impunidade".
"Com que facilidade estes animais matam. Este vídeo da execução de um prisioneiro de guerra ucraniano... O mundo deve assisti-lo. Este é um vídeo da Rússia como ela é", afirmou Zelensky em uma mensagem publicada no Instagram.
"Isto não é um acidente [...] Isto já havia acontecido antes. Assim aconteceu em Bucha. Milhares de vezes", acrescentou, em referência ao subúrbio de Kiev que virou símbolo das atrocidades atribuídas ao Exército russo.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, considerou a Rússia "pior que o Estado Islâmico", a organização extremista que filmava as execuções de seus reféns, geralmente por decapitação.
"Os terroristas russos devem ser expulsos da Ucrânia e da ONU e responsabilizados por seus crimes", cobrou.
- 'Em uma sacola' -
O vídeo, que tem duração de 1 minuto e 40 segundos e circula na internet desde terça-feira, mostra um homem com roupa camuflada e o rosto coberto infligindo ferimentos no pescoço de outro, de uniforme, que está caído no chão e grita "isso dói!".
Após alguns segundos, os gritos param e é possível ouvir um homem que está atrás da câmera incitando, em russo, o carrasco a "cortar a cabeça". Ele termina a decapitação com uma faca e mostra a cabeça para a câmera.
"Você deve colocar em uma sacola e enviar para o comandante", diz uma voz, em russo. A câmera também mostra o colete da vítima, que tem o tridente do brasão ucraniano e a imagem de uma caveira.
O Serviço Ucraniano de Segurança (SBU, na sigla em ucraniano) abriu uma investigação sobre o "crime de guerra".
"Vamos encontrar estes monstros [...] Serão punidos", afirmou o diretor do SBU, Vassyl Maliuk.
A vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, afirmou que as autoridades estão "fazendo todo o possível para identificar o morto".
- Verificar a 'autenticidade' -
A Rússia, que normalmente rejeita as acusações de crimes de guerra contra seus militares e acusa a Ucrânia de encenações, exigiu uma verificação para comprovar se a gravação era real.
"Claro que são imagens horríveis", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov. Mas, "no mundo de 'fakes' em que vivemos, a autenticidade deste vídeo deve ser comprovada", acrescentou.
Se as imagens forem verdadeiras, "esta é uma nova recordação brutal da natureza desumana da agressão russa", afirmou Nabila Massrali, porta-voz do alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Kiev e Moscou trocam acusações sobre crimes de guerra.
No início de março, um vídeo que mostrava a suposta execução de um prisioneiro de guerra ucraniano por soldados russos provocou grande comoção na Ucrânia.
Em novembro, o Kremlin ficou irritado com duas gravações que mostravam as supostas execuções de militares russos que haviam anunciado a rendição.
No mês passado, a ONU acusou as forças ucranianas e russas de terem realizado execuções sumárias de prisioneiros de guerra.
A Rússia sempre negou, apesar das evidências, as execuções sumárias de civis, em particular em Bucha, há um ano.
FONTE: Estado de Minas