Turistas e moradores do Rio de Janeiro temem violência na cidade carioca

11 out 2023
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Aeroporto de Confins, fila de embarque do voo para o Rio de Janeiro. A reportagem do Estado de Minas aguarda para entrar no avião, enquanto duas mulheres conversam sobre como as suas famílias temiam a estadia delas em terras cariocas. “Não é bang bang, eles não saem dando tiro em todo mundo”, diz uma delas. Não é novidade que a capital fluminense é conhecida pelos casos de violência, motivada pela presença do crime organizado e das milícias na cidade. 
Mas, na última quinta-feira (5/10), o Rio tomou as principais manchetes dos jornais de todo o país, por conta do assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade. Uma das vítimas era Diego Ralf, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol - SP). Na madrugada seguinte, dois cadáveres foram encontrados em carros abandonados nas ruas do Rio de Janeiro. Segundo a investigação policial, os corpos são de suspeitos do crime. 
Indo participar da cobertura do Festival do Rio, a equipe do Estado de Minas chegou à cidade na segunda-feira, mesmo dia em que parte dos moradores se viram em um cenário de guerra. Mil agentes das polícias Civil e Militar fizeram uma operação em três comunidades carioca:o Complexo da Maré e da Vila Cruzeiro, na Zona Norte da capital, e Cidade de Deus, na Zona Oeste. 
As regiões são controladas pelo Comando Vermelho, facção que, segundo as autoridades, está por trás das mortes dos médicos. A operação incluia cem mandados de prisão. Dois helicópteros foram utilizados para dar apoio à ação. Mas um deles foi alvejado com tiros de fuzil por criminosos e quase foi abatido, enquanto sobrevoava o Complexo da Penha. 
Nas redes sociais, internautas compartilharam vídeos em que é possível ver chamas saindo do motor da aeronave. Segundo o que foi divulgado, nenhum tripulante ficou ferido. 
Próximo ao local, o motorista de aplicativo Rodrigo Machado* acompanhou com medo a situação. Ele conta que estava dormindo com a esposa quando foi acordado pelo barulho dos tiros de fuzil. Assustado, o homem de 46 anos diz que aprendeu a conviver com o medo. 
Rodrigo mora perto do Complexo do Alemão, mas vive nas imediações de um posto policial, o que dá mais segurança para ele e a família. “A gente leva uma vida normal. Tem vez que a gente escuta barulho de tiro e continua indo à padaria”, exemplifica. Ele evita sair de casa à noite e aboliu de vez o transporte público temendo sua segurança. “Mesmo assim já roubaram meu carro”, conta. Por conta violência, ele sonha em sair do Rio e começar uma nova vida em Maceió, capital de Alagoas. “Lá tem uma sensação de segurança que aqui não existe”, revela. 

‘Tiro é a coisa mais comum do Rio de Janeiro’

Rio de Janeiro, 18 horas. O cenário é diferente das grandes capitais do país. Enquanto em São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, os pontos de ônibus ficam tomados por pessoas esperando os coletivos para voltar para casa, na capital fluminense os lugares estavam praticamente vazios. 
“Isso é por conta do medo. Aqui, a gente tem medo o tempo todo”, explica o motorista de aplicativo Lucas Vieira*. Ele cita dois grandes motivos para tanto temor: os usuários de drogas, que praticam assaltos pelas ruas, e os milicianos, que criaram um poder paralelo.
Ao contrário de Rodrigo, Lucas não mora perto de uma comunidade. “Lá perto de casa é mais tranquilo. Mas essa questão dos tiros realmente é uma coisa comum. A gente sempre ouve. Pode ser crime, treinamento de polícia, nunca se sabe. Tiro é a coisa mais comum do Rio de Janeiro”, descreve.
Proteção para turistas
 
Na Avenida Atlântica, na Zona Sul da cidade, a cada esquina existe uma viatura das forças policiais parada ou pelo menos dois agentes de moto. Em outros pontos da região, são realizadas blitze, especialmente em locais próximos a viadutos e túneis. 
A Zona Sul é uma das mais nobres da cidade, com hotéis de luxo, como o Copacabana Palace. Os dois motoristas comentam a mesma coisa ao ver o policiamento no local: “Aqui é realmente mais seguro, mas é coisa para turista, que acabam se concentrando aqui e no centro da cidade”, dizem. 
No Festival do Rio, que a reportagem do Estado de Minas acompanhou, as atividades eram divididas em várias partes da cidade: Botafogo, Gávea, Glória e Centro, por exemplo. Em algumas dessas localidades, a estudante carioca Vinicia Cardoso teve medo da violência na cidade. “Aqui na Glória, em especial, eu me sinto um pouco insegura. Eu acho que deveria ter um pouco mais de policiamento por ser um grande evento. Mas na cidade em si, eu acho que não mudou desde o assassinato dos médicos. Não houve um crescente de segurança, mas também não houve aumento da violência após isso, pelo menos ao meu ver”, pondera.
Moradora da Zona Sul carioca, a jovem diz ter sido surpreendida com a morte dos médicos. “Me chocou muito esse assassinato, principalmente naquela região, porque não é algo comum. O Rio é realmente violente, mas nessa região os números são reduzidos. Não é uma coisa que o carioca está acostumado”, conta, apesar de negar ter se sentido mais insegura após o caso. 
No mesmo evento, uma mulher que não quis conceder entrevista sintetiza: “O problema da violência na cidade é a milícia. Elas tomaram conta de tudo, especialmente no governo do Crivela e do Bolsonaro”, acusa. 
Percepção de segurança
 
No dia seguinte aos assassinatos, as irmãs Luísa e Aline Mosqueira, de Belo Horizonte. desembarcaram no Rio de Janeiro, para conferir o show de The Weekend no dia seguinte, no Engenhão. Ela e o grupo de amigos, todos mineiros, não viram diferença no policiamento de outras visitas à cidade.
“Estava bem normal nesse quesito. Também não senti muita insegurança, a cidade estava bem movimentada, com bastante turista. A gente foi no Cristo Redentor no começo da tarde, quando fica mais vazio, e estava lotado. Sinceramente, eu não senti”, avalia Luísa, que diz que só uma pessoa com quem conversou estava preocupada com os assassinatos dos médicos.
Ela ainda contou que a organização do evento foi muito mais rigorosa do que no Rock in Rio de 2022, quando ela viu assaltos acontecendo dentro da Cidade do Rock. “Teve uma revista muito maior. Foi tudo bem tranquilo, tanto na ida quanto na volta”, conta. 
Já Aline lembra de ter visto policiamento no entorno do Engenhão, mas diz não ter sentido nenhum pouco de insegurança. “Não vi nenhum policial dentro, só na saída. Mas todos de boa na deles, não vi abordagem”, relata.

FONTE: Estado de Minas


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