A indestrutível Simone Biles
A americana Simone Biles, que retornou às competições de ginástica após dois anos de ausência, venceu as provas da vida, especialmente um problema de saúde mental nos Jogos Olímpicos de Tóquio, para renascer das cinzas no campeonato mundial de ginástica na Antuérpia.
Nesta quarta-feira (4), a menos de dez meses para os Jogos Olímpicos de Paris, Biles consolidou ainda mais seu status de lenda da ginástica com um 20º título mundial, graças à vitória dos Estados Unidos na competição por equipes.
Considerada como "a melhor de todos os tempos", Simone Biles emocionou o mundo do esporte ao revelar seus problemas de saúde física e mental durante os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que foram disputados em 2021 por causa da pandemia.
Naquele momento, sofrendo com o fenômeno chamado de 'twisties' - termo que se refere ao bloqueio mental causado pela perda de orientação espacial -, deixou de disputar várias provas do evento olímpico, antes de conquistar com grande valentia uma medalha de bronze na trave de equilíbrio.
Sua transparência sobre seu estado abriu o debate sobre o tema tabu da saúde mental nos esportes de alto rendimento.
- Renascimento das cinzas -
Com apenas 26 anos, Biles, que explicou que segue fazendo tratamento psicológico, já renasceu das cinzas várias vezes.
Vinda de uma infância difícil, a ginasta superou diversos obstáculos até se tornar uma voz poderosa contra os abusos no esporte e assumiu, sem complexos, sua dimensão histórica como atleta.
Nascida em Columbus (Ohio) em 1997, a pequena Simone e seus três irmãos tiveram que ser enviados para um centro de acolhimento diante dos problemas com álcool e drogas de sua mãe, que passou temporadas na prisão.
"Nunca pude contar com minha mãe biológica. Lembro que sempre tinha fome, medo", relatou a ginasta em uma entrevista à televisão em 2017.
"Meus avós me salvaram", afirmou sobre Nellie e Ron Biles, a quem considera como pais e que mudaram o destino de sua vida, adotando-a junto com sua irmã mais nova, enquanto os outros dois irmãos foram recebidos por outros membros da família.
Biles descobriu o esporte aos seis anos por casualidade, durante uma excursão escolar. Em uma visita a um centro de ginástica, começou a imitar as atletas, chamando imediatamente a atenção de uma das treinadoras, que lhe entregou uma carta pedindo a sua família para matriculá-la no esporte.
Um ano depois, conheceu Aimee Boorman, a treinadora que a alçou ao topo e a quem considera uma "segunda mãe".
Sob sua orientação, surgiu como um furacão em seu primeiro Mundial, o da Antuérpia em 2013, abrindo caminho para seu domínio quase absoluto deste esporte com suas duas primeiras medalhas de ouro.
Três anos depois, arrasou nos Jogos do Rio de Janeiro com uma atuação primorosa, que lhe rendeu quatro ouros (equipes, individual geral, salto e solo) e um bronze (trave).
Agora, também na Antuérpia, Biles acaba de conquistar sua 26ª medalha em mundiais, a 20ª de ouro, em seis participações.
- Com um sorriso -
Em janeiro de 2018, a própria Biles revelou que foi uma das cerca de 200 vítimas, a maioria menores de idade, do médico da seleção nacional Larry Nassar, condenado naquele mesmo ano a penas de entre 40 e 125 anos de prisão por centenas de abusos sexuais cometidos durante duas décadas.
Biles levantou sua voz para denunciar a passividade das autoridades esportivas frente aos abusos, cometidos ao longo de duas décadas, e pediu uma investigação independente para determinar se havia outras autoridades responsáveis.
"Fizemos tudo o que podíamos para conquistar nosso objetivo e eles tinham apenas um único maldito trabalho, que era nos proteger, e não o fizeram", afirmou entre lágrimas.
Longe das competições durante dois anos, Biles mostrou toda a sua felicidade no casamento com o jogador de futebol americano Jonathan Owens, em uma festa luxuosa em maio de 2023.
Biles, que sempre afirmou adorar a "sensação de voar" que a ginástica lhe proporciona, volta ao topo com um sorriso nos lábios e mais medalhas de ouro no peito.
FONTE: Estado de Minas