Alemanha sob pressão diante de novo fluxo de refugiados
Na fronteira da Alemanha com a Polônia, o centro de recepção de migrantes de Eisenhüttenstadt está saturado: "A cada dia chegam quase 100 pessoas. E o número deve aumentar para 120", prevê o diretor do local.
O local é uma das primeiras barreiras diante de uma nova onda de refugiados que levou o governo do chanceler Olaf Scholz a adotar medidas para limitar as entradas no país, que é cenário de um intenso debate sobre o tema e registra o avanço nas pesquisas da extrema-direita contrária à imigração.
Os ex-quartéis da Alemanha Oriental comunista, transformados em campos de acolhimento, podem abrigar até 1.550 pessoas em pequenas unidades de concreto.
Olaf Jansen, 63 anos, diretor do centro desde 2018, afirma que a situação é comparável à registrada no verão (hemisfério norte) de 2015, quando a então chefe de Governo Angela Merkel abriu as fronteiras da Alemanha para mais de um milhão de refugiados, a maioria sírios.
"Se somarmos os demandantes de asilo aos ucranianos (isentos de apresentar o pedido na Alemanha), chegamos a uma situação similar", declarou à AFP.
- Duas rotas -
No início da semana, o ministro do Interior de Brandeburgo, região em que fica Eisenhüttenstadt, citou uma "explosão do número de entradas ilegais pela fronteira Alemanha-Polônia".
O número nunca foi tão elevado, "nem durante o período 2015-2016", disse Michael Stübgen.
Duas grandes rotas migratórias seguem atualmente até a Polônia e depois avançam para a Alemanha.
"Metade dos migrantes de Eisenhüttenstadt passa por Moscou e Belarus. A outra metade segue a rota dos Bálcãs, que também passa por Hungria e Eslováquia", explica Stübgen.
Este é o caso de Abdel Hamid Azraq, um sírio de Aleppo de 34 anos. Ele viajou de barco da Turquia até a Grécia e prosseguiu a viagem a pé e de carro por Macedônia do Norte, Sérvia, Hungria, Eslováquia e Polônia.
"Da Turquia até a Grécia são 500 dólares. Da Grécia até a Sérvia 1.000 dólares e a mesma quantia para chegar à Alemanha", explica à AFP.
E este valor pode ser considerado uma viagem econômica, afirma Jansen. O diretor de cetro de acolhimento relata que "os preços exigidos pelos traficantes de pessoas variam de 3.000 a 15.000 dólares, dependendo do grau de conforto que oferecem".
Os sírios como Abdel formam o principal contingente em Eisenhüttenstadt, de 15 a 20%. Depois aparecem os afegãos (12-15%) e os curdos, procedentes em sua maioria da Turquia (8%), seguidos de georgianos, russos e paquistaneses, além de muitos africanos, que incluem camaroneses e quenianos.
- Belarus -
Para Jansen, o reforço dos controles da polícia alemã nas fronteiras com a Polônia e a República Tcheca anunciado na quarta-feira é uma boa notícia.
"Cada controle adicional permite deter mais traficantes. Um traficante a menos significa centenas de pessoas que não conseguirão atravessar a fronteira ilegalmente", afirma.
Jansen disse que Belarus continua facilitando a passagem de migrantes procedentes do Oriente Médio para a Polônia, com fez em 2021.
"Há 12 meses que registramos muitas chegadas deste país", confirma. Vários refugiados afirmaram que, em Belarus, receberam "escadas e grandes alicates para abrir buracos nas cercas que supostamente deveriam impedir a entrada na Polônia", explica.
Quase 80% dos migrantes chegam ao campo escoltados por policiais alemães após a detenção na fronteira.
No centro de recepção, onde normalmente passam de três a quatro meses antes da transferência para outras regiões do país, os migrantes podem apresentar o primeiro pedido de asilo.
Jansen afirma que 50% dos migrantes de Eisenhüttenstadt podem ter os pedidos aprovados.
Ali Ogaili, um iraquiano de 24 anos que se declara gay à AFP, afirma que as perspectivas são boas. No centro há um prédio reservado para mulheres solteiras e integrantes da comunidade LGBTQIA+, como forma de proteção.
Todos têm a mesma ideia: permanecer na Alemanha. "Trabalhar aqui, trazer a família e servir ao país e à sociedade alemã. Inshallah!", afirma Abdel Hamid Azraq.
FONTE: Estado de Minas