Azerbaijão e separatistas armênios de Nagorno-Karabakh se mantêm dispostos a dialogar

21 set 2023
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O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh estão dispostos a seguir com as conversações de paz iniciadas nesta quinta-feira (21) sobre a reintegração deste território separatista de onde o Exército de Baku saiu vitorioso após uma operação militar relâmpago.

Na quarta-feira, o Azerbaijão forçou os separatistas armênios a deporem as armas, após uma ofensiva militar relâmpago de 24 horas e, nesta quinta, as duas partes se reuniram na cidade azerbaijana de Yevlax, 295 km a oeste da capital, Baku.

Hikmet Hajiev, assessor do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse na véspera que o objetivo é "a reintegração pacífica dos armênios de Karabakh" e a "normalização" das relações com a Armênia.

O Azerbaijão considerou "construtivas" as primeiras conversações de paz e anunciou que as duas partes voltarão a se reunir "o mais rápido possível".

"As partes deram ênfase à necessidade de abordar todos os problemas existentes em um ambiente tranquilo e expressaram sua disposição de continuar com as reuniões", disseram os separatistas em um comunicado.

Apesar desta disposição, a Rússia disse ter registrado cinco violações ao cessar-fogo em Nagorno-Karabakh.

"Depois da conclusão do acordo pelo encerramento das hostilidades, cinco violações ao cessar-fogo foram registradas nos distritos de Chucha (dois) e de Martakert (três)", informou, em um comunicado, o ministério russo da Defesa.

O Azerbaijão, por sua vez, anunciou que seis soldados de paz russos foram mortos durante sua ofensiva em Nagorno-Karabakh.

De acordo com o procurador-geral azerbaijano, militares do país mataram cinco soldados russos nesta quinta-feira ao atirarem no carro deles, após os confundirem com separatistas armênios.

Em um telefonema, o presidente azerbaijano pediu perdão ao contraparte russo, Vladimir Putin, pelas mortes dos soldados russos.

Um militar russo também foi morto hoje por "membros não identificados de formações armadas armênias" que atiraram em seu veículo, segundo a mesma fonte.

- "40.000 famílias" -

Enquanto isso, as ruas de Stepanakert, capital separatista dos armênios de Nagorno-Karabakh, estão "cheias de deslocados, famintos e assustados", denunciou Gegham Stepanien, defensor dos direitos humanos das autoridades separatistas.

No telefonema com o contraparte azerbaijano, Putin pediu garantias aos "direitos e à segurança" dos 120.000 armênios de Nagorno-Karabakh.

A Armênia informou que até agora não está prevista nenhuma grande evacuação, mas disse estar pronta para receber "40.0000 famílias" de refugiados.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, acusou a Rússia de ter fracassados em suas "funções de manutenção da paz".

A Rússia tem soldados de uma força de manutenção da paz neste enclave montanhoso do Cáucaso, que fica dentro da fronteira internacional do Azerbaijão, mas é controlado em boa parte por separatistas armênios desde um primeiro conflito no início dos anos 1990.

Os armênios também tacharam de "crime contra a humanidade" a operação do Azerbaijão e asseguraram ante o Conselho de Direitos Humanos da ONU que uma "limpeza étnica" estava "em curso".

Mais de 10.000 pessoas foram retiradas do enclave, disse na quarta-feira uma autoridade ligada aos separatistas armênios.

- Cessar-fogo "totalmente" respeitado -

Enquanto as negociações começavam em Yevlax, um jornalista da AFP ouviu tiros em Stepanakert.

Apesar das "violações isoladas", o cessar-fogo que entrou em vigor nesta quarta-feira está sendo "totalmente" respeitado, disse o premiê armênio.

"Estamos em casa esperando os resultados das conversações. Todos os habitantes cidade estão sentados em suas casas ou jardins esperando", disse à AFP o empresário Arutyun Gasparian, pai de dois filhos.

Nagorno-Karabakh, considerada pela Armênia uma região central em sua história, proclamou sua independência do Azerbaijão (com o apoio do governo de Yerevan) no momento da desintegração da União Soviética, em 1991.

Segundo o balanço mais recente dos confrontos divulgado pelos separatistas armênios, ao menos 200 pessoas morreram e 400 ficaram feridas. Encurralados pelas tropas de Baku, os separatistas armênios aceitaram assinar um cessar-fogo.

Uma reunião de urgência do Conselho de Segurança está prevista para a tarde desta quinta.

- Premiê armênio sob pressão -

As autoridades azerbaijanas lançaram sua operação após a morte de seis pessoas devido à explosão de algumas minas, pela qual o Azerbaijão culpou "sabotadores" armênios.

A rendição dos separatistas após a ofensiva relâmpago aumentou a pressão sobre o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, criticado por não ter enviado ajuda a Nagorno-Karabakh.

O caminho para a paz "não é fácil", mas "deve ser percorrido", afirmou Pashinyan.

Milhares de manifestantes protestaram na quarta-feira à noite em frente à sede do governo, onde foram registrados incidentes com a polícia, como ocorreu na véspera. Pashinyan "tem que sair, não pode governar o país", disse um deles, Sarguis Hayats, um músico de 20 anos.

Do outro lado, o presidente azerbaijano, que usa a receita do petróleo para fortalecer seu exército, consegue controlar esta região de maioria armênia, cenário de duas guerras entre os países do Cáucaso: a primeira entre 1988 e 1994 (30.000 mortos) e a segunda em 2020 (6.500 mortos).


FONTE: Estado de Minas


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