Centros de votação fecham na Guatemala e contagem de votos começa
Os centros de votação fecharam neste domingo (20) na Guatemala após um segundo turno crucial para a democracia entre o candidato social-democrata Bernardo Arévalo, o favorito inesperado que promete combater a corrupção, e a ex-primeira-dama Sandra Torres.
Quase 3.500 centros de votação funcionaram normalmente durante o dia, e não foram relatados "incidentes significativos", disse a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Irma Palencia, que afirmou que houve uma "participação histórica".
A votação encerrou às 18h00 locais (21h00 de Brasília), e os primeiros resultados oficiais do segundo turno devem ser publicados por volta das 21h00 locais (00h00 de segunda-feira em Brasília).
Filho de um presidente que deixou sua marca, Arévalo gera esperanças de mudança em um país imerso em pobreza, violência e corrupção, fatores que levam milhares de guatemaltecos a migrar a cada ano.
Porém, ele é visto com apreensão pela elite política e empresarial que governa o país e é acusada de corrupção.
"A maioria, eu acredito que 80%, tem clareza sobre em quem votar para acabar com a corrupção", disse Luisa González, dona de casa de 46 anos, ao votar em uma escola.
Efraín Boch, caminhoneiro de 47 anos da aldeia indígena de San Juan Sacatepéquez, também pediu que o novo presidente "combata a corrupção".
Em seu terceiro segundo turno, Sandra Torres contou com o apoio silencioso do presidente de direita Alejandro Giammattei e da poderosa elite empresarial aliada ao governo.
Torres lidera a Unidade Nacional da Esperança (UNE), um partido de centro-esquerda que nos últimos anos se inclinou para a direita. Ela é socialmente conservadora, mas ao mesmo tempo promete ajuda direta aos pobres, que representam 60% da população.
À tarde, Torres denunciou "algumas irregularidades" durante a votação.
Desde sexta-feira, a candidata questionou o processo de contagem de votos e pediu que a justiça garantisse a "transparência" do segundo turno. Além disso, ela denunciou supostas "ações intrusivas" e "racistas" de observadores da União Europeia.
A Suprema Corte acolheu seu pedido e ordenou ao TSE que "adote as medidas para garantir a correta entrada de dados no sistema de informação" e permita que os fiscais de cada partido tirem fotos das atas das mesas de votação.
"Lamento muito essas declarações [de Torres], principalmente porque são infundadas. Ela não apresenta provas, apenas faz afirmações sem fundamento, o que basicamente não fortalece o processo", disse à AFP o analista político Edgar Ortiz.
Torres também recebeu o apoio silencioso de vários partidos de direita, pastores evangélicos e o Ministério Público, que tentou desqualificar o partido Semilla de Arévalo.
"As forças tradicionais apostaram em Torres, já que Arévalo é visto como um risco para a continuidade do sistema", disse à AFP o analista político Arturo Matute.
Uma pesquisa divulgada na quarta-feira dava a Arévalo 50% das intenções de voto e a Torres 32%.
- "Transparente e pacífico" -
A Suprema Corte anulou definitivamente na sexta-feira a ordem de um juiz para desqualificar o Semilla.
No entanto, a Organização dos Estados Americanos (OEA) expressou sua "preocupação" com os planos do Ministério Público de prender líderes do Semilla após o segundo turno.
Com 64 anos e sociólogo, Arévalo é filho do primeiro presidente eleito democraticamente na Guatemala, Juan José Arévalo (1945-1951), e promete seguir o caminho de seu pai com uma agenda social e de mudança forte.
Além da campanha contra o Semilla, o Ministério Público conduz há alguns anos uma campanha contra jornalistas e funcionários judiciais que combateram a corrupção, tendo detido ou forçado ao exílio cerca de trinta deles.
Analistas apontam que a Guatemala está vivendo um retrocesso em direção ao autoritarismo como reação ao estabelecimento da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma entidade criada pela ONU que investigou a corrupção governamental entre 2007 e 2019.
Em 2019, o então presidente de direita, Jimmy Morales, encerrou a CICIG, e Giammattei não quis ressuscitá-la.
"Na Guatemala, a democracia está sendo desestabilizada por instituições corroídas pela corrupção", expressou Rojas.
- "Uma Venezuela" -
Em um país fortemente conservador e religioso, Arévalo e Torres descartaram a legalização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo ou o aborto, que é permitido apenas em casos de risco para a mãe.
No entanto, a ex-primeira-dama, de 67 anos, afirma que seu adversário é ateu - embora ele seja católico como ela - e que ele deseja legalizar o aborto, uniões entre pessoas do mesmo sexo e drogas. Ela também chamou os seguidores do Semilla de "huecos" (termo pejorativo para se referir a homossexuais).
Ela assegura que Arévalo planeja expropriações e que transformará a Guatemala "em uma Venezuela e em uma Cuba".
Arévalo definiu a adversária como "a candidata da mentira e desinformação".
Aproximadamente 9,4 milhões de guatemaltecos estão aptos a escolher o sucessor de Giammattei, que deve entregar o cargo em 14 de janeiro de 2024.
FONTE: Estado de Minas