Em meio à guerra, uma fronteira turva entre Rússia e Ucrânia

14 set 2023
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Para sair da Ucrânia e entrar na Rússia, Tatiana, uma moradora da região do Donbass, precisa mostrar apenas seu passaporte russo, agradece e cruza tranquilamente a fronteira.

"Tornou-se mais cômodo, porque nos tornamos russos", diz a mulher que mora em Gorlivka, uma cidade ucraniana controlada por Moscou perto do "front" e palco de sangrentos bombardeios desde 2014.

Antes, Tatiana precisava passar primeiro na alfândega da autoproclamada república separatista de Donetsk e depois pela Rússia.

"Tínhamos que cruzar duas fronteiras. Isso gerava grandes e extensos engarrafamentos", diz a moradora de Donbass, acrescentando que está indo para a cidade russa de Taganrog para fazer um seguro de saúde.

A anexação de quatro territórios ucranianos por Moscou em setembro de 2022 foi marcada pela facilitação da passagem para território russo, ilustrando a vontade do Kremlin de integrar rapidamente estas regiões, sem possibilidade de retorno, embora a grande maioria da comunidade internacional, incluindo os aliados da Rússia, não reconheça estas anexações, como a da Crimeia em 2014.

Na mesma lógica, no fim de semana passado, Moscou organizou eleições locais nas áreas ocupadas, apesar dos intensos combates na região.

O Kremlin distribuiu centenas de milhares de passaportes russos a civis locais, necessários para se deslocarem facilmente e obterem assistência social. Diariamente, milhares deles, de Mariupol, Donetsk, Luhansk e outras cidades ocupadas, viajam de ônibus ou de carro para a Rússia.

A fronteira entre a guerra e a paz não desaparece tão facilmente, porém.

Caminhões militares marcados com sinais táticos Z, ou V, circulam na rodovia entre Taganrog e o cruzamento de Avilo Ouspenka. No céu, dois helicópteros de ataque russos voam em altitude média.

"Quanto mais perto você chega (da Rússia), mais seguro você se sente", avalia Tatiana, ressaltando que a vida é perigosa em Gorlivka.

Na fronteira física, as dificuldades continuam para os caminhoneiros, que permanecem sujeitos a controles meticulosos da Alfândega russa.

"As regras para a passagem de carros ou mercadorias diferem muito", diz Vlad, um caminhoneiro de 26 anos, à AFP.

Para os civis que preferem o transporte ferroviário, há apenas um trem por dia entre a estação Avilo-Uspenka, na Rússia, e a cidade de Makiivka, na Ucrânia controlada pela Rússia.

"Gostaríamos de ter mais meios de transporte. Ainda não estamos na Rússia, mas esperamos estar em breve", diz Natalia, uma funcionária aposentada dos Correios.

A zona de "Operação Militar Especial", eufemismo utilizado por Moscou para se referir ao seu ataque à Ucrânia, permanece estritamente compartimentada.

Um motorista de táxi local conta que dois de seus passageiros foram recentemente detidos pela Alfândega russa quando saíam da região de Luhansk. Um homem foi preso e acusado de abandonar sua unidade militar, e a mulher que o acompanhava, sua mãe, de querer ajudar o filho a voltar para casa.


FONTE: Estado de Minas


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