Ex-chefe da ONU para o clima ‘perde paciência’ com indústria dos combustíveis fósseis
A ex-responsável da ONU para mudança climática disse nesta quinta-feira (21) que "perdeu a paciência" com as empresas de combustíveis fósseis e que estas deveriam ficar longe dos diálogos da COP28 em Dubai, caso não queiram ser parte da solução.
Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e uma das articuladoras do histórico acordo de Paris 2015, disse na conferência "Climate Changes Everything", que acontece em paralelo à Assembleia Geral da ONU, que a indústria fracassou na hora de reinvestir os lucros para o desenvolvimento das energias renováveis.
"Ao invés de fazer tudo o que fazem e aplicar sua assombrosa capacidade de engenharia, elas realmente vêm fazendo o contrário", afirmou Figueres.
As empresas de petróleo e gás têm adiado os seus compromissos de descarbonização ao mesmo tempo em que pagam gordos dividendos a seus acionistas e pressionam os governos para que voltem atrás em seus compromissos climáticos.
Ao ser perguntada se daria boas-vindas a essas empresas nos diálogos de Dubai, que começam em novembro, Figueres disse que isso dependeria de se "elas estarão ali para ajudar e acelerar a descarbonização" ou se "estarão literalmente operando contra esses objetivos".
O tema da participação da indústria é bastante polêmico, ainda mais quando o presidente designado para os diálogos, o emiradense Sultan Al Jaber, é um executivo do setor petroleiro.
Figueres disse que o setor do qual provem o presidente da COP não era tão importante como o cumprimento de seu mandato e, sob essa perspectiva, fez alguns elogios cautelosos.
Embora ela inicialmente estivesse cética de que Al Jaber saberia separar os interesses de seu país daqueles de todo o mundo, "ultimamente tenho visto ele se mover nessa direção, o que é louvável".
"Acho que ele entendeu a responsabilidade política internacional, multilateral, que vem com a presidência", indicou Figueres.
Al Jaber falou na quarta-feira em uma cúpula do clima na ONU, onde reconheceu que "a eliminação gradual dos combustíveis fósseis é inevitável" e "essencial".
FONTE: Estado de Minas