Pastor que perdeu tudo no incêndio no Havaí consola sobreviventes
Em 60 anos de ministério, o pastor Arza Brown nunca tinha celebrado um culto calçando sandálias. Mas não teve opção neste domingo (13), depois que o incêndio florestal que devastou uma comunidade no Havaí o deixou com pouco mais que sua fé.
"Ajudei muitas pessoas a superar muitos desastres, incêndios, muitas coisas", disse Brown neste domingo em seu primeiro culto desde que as chamas devastaram Lahaina, cidadezinha da costa oeste de Mauí.
"Mas é a primeira vez que sou uma delas", emendou.
A igreja batista onde Brown trabalhou durante cinco décadas foi reduzida a cinzas, assim como sua casa, de onde conseguiu fugir com a esposa.
Um de seus fiéis abriu as portas de sua cafeteria em Kahului para reunir a comunidade desta igreja de Lahaina, que tenta digerir a tragédia que deixa quase cem mortos e milhares de desalojados.
"Uma das coisas que me incomodam como pastor é que deveria visitar as pessoas e oferecer o ministério, mas não nos deixam voltar", diz, referindo-se à proibição das autoridades que até o sábado só haviam varrido 3% da área devastada pelo fogo em busca de corpos.
"Por isso, o que estamos fazendo é nos reunir e dar ânimo uns aos outros".
"A igreja não é um edifício, é sua gente. Assim, a igreja ainda está de pé aqui", disse o pastor Brown à AFP.
Cerca de 200 pessoas assistiram ao culto, que durou duas horas, com moradores de Lahaina relatando, aos prantos, os minutos de tensão que viveram ao ver "uma bola de fogo" se aproximar a toda velocidade.
"Se tem algo que vão ouvir é que aconteceu muito rápido", disse o pastor Caleb Woodfin, que auxiliava Brown em Lahaina.
"O único que podia fazer era manter a fé de que veria vocês de novo".
Mirasol Ramelb, devota da igreja e que perdeu a joalheria que funcionava havia quase duas décadas na turística Front Street de Lahaina, abraçou o pastor ao final do culto.
"O culto trouxe conforto ao meu coração de que Deus ainda está aí, que ainda está no comando".
Ramelb foi ao culto com sua sobrinha, Glorymae Lorenzo, que fugiu da cidade de aproximadamente 12.000 habitantes com o marido, a sogra e os dois filhos.
"Temos que agradecer por ainda estarmos aqui, de não termos ficado presos neste incêndio porque alguns dos nossos vizinhos não conseguiram", disse Lorenzo.
FONTE: Estado de Minas