Presidente do Chile pede defesa da democracia 50 anos após golpe de Pinochet
Sob o lema "Democracia Sempre", o esquerdista Gabriel Boric, presidente do Chile, liderou um ato no Palácio de La Moneda, bombardeado há 50 anos, durante o golpe de Estado de Augusto Pinochet.
No palácio presidencial onde Salvador Allende se suicidou em 11 de setembro de 1973, Boric falou para parentes de vítimas da ditadura e para os presidentes de Bolívia, México, Colômbia e Uruguai.
"Nós nos revoltamos quando nos dizem que não havia outra alternativa. Certamente havia! E amanhã, quando vivermos outra crise, sempre haverá outra alternativa que implique mais democracia, e não menos", disse Boric em discurso para convidados, entre eles a presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, o ex-presidente uruguaio José Mujica, o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón e o guitarrista do Rage Against The Machine, Tom Morello.
Cinquenta anos após o golpe, a elite política segue profundamente dividida. Nenhum representante dos partidos de direita compareceu ao ato no La Moneda. Também não participaram de uma declaração em favor da democracia assinada na semana passada por Boric e os quatro ex-presidentes do período democrático.
O partido de direita União Democrata Independente (UDI), que não participou do ato no palácio presidencial, divulgou um comunicado afirmando que a queda de Allende ocorreu devido à "situação extrema que o Chile vivia" e à "polarização severa provocada por um setor da esquerda chilena. "A ruptura" institucional e social "em 11 de setembro se transformou em algo inevitável", publicou o partido UDI.
"Não há como separar o golpe de Estado do que veio depois. Desde o mesmo momento, foram violados os direitos humanos dos chilenos", acrescentou o presidente chileno, 37, único presidente pós-ditadura que não era nascido na época do golpe.
- Emoção -
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, declarou nesta segunda-feira, em Washington, que os 50 anos do golpe são "uma oportunidade para homenagear as vítimas da repressão que se seguiu" ao 11 de setembro de 1973, e evitou responder sobre a possibilidade de os Estados Unidos Estados se desculparem formalmente por seu apoio à revolta militar.
Miller ressaltou que o governo Biden "tentou ser transparente sobre o papel americano nesse capítulo da história chilena ao desclassificar recentemente documentos de 1973", atendendo a uma solicitação do governo chileno.
Em Santiago, a cerimônia teve momentos carregados de emoção, como o minuto de silêncio observado às 11h52, hora exata em que o Palácio de La Moneda foi bombardeado pela Aeronáutica há 50 anos. Um total de 1.747 assassinatos e 1.469 desaparecimentos foram registrados durante a ditadura chilena.
A senadora socialista Isabel Allende, filha do presidente deposto, comoveu os participantes ao narrar sua experiência há 50 anos, seguida, na primeira fila, por Maya Fernández, ministra da Defesa e neta de Salvador Allende.
A senadora lamentou o que chamou de retrocessos: "Os partidos de direita foram incapazes de assinar uma carta fortalecendo a democracia, dizendo que nunca mais, sob hipótese alguma, poderá haver um golpe de Estado. Isso é muito doloroso. A História irá julgar."
- Divisão -
Meio século depois do golpe militar, o Chile segue dividido entre os que defendem e os que repudiam a ditadura. Um total de 49% da população considera lembrar o golpe irrelevante, enquanto 48% afirmam que esses atos "afetam o convívio futuro", segundo a pesquisa Criteria.
"Isto não é para dividir as pessoas, e sim para fazê-las entender que os atos de violência jamais devem ser permitidos, em nenhuma parte, por nenhuma bandeira política. São coisas que não podem ser transgredidas", disse à AFP a fonoaudióloga Kerty Olivares, 35.
Para esta noite estava prevista uma vigília à luz de velas no estádio Nacional de Santiago, convertido em centro de detenção e torturas durante a ditadura.
FONTE: Estado de Minas