Tribunal acusa ex-comandante do Exército por assassinato de civis na Colômbia
O tribunal de paz da Colômbia acusou, nesta quarta-feira (30), o general reformado e ex-comandante do Exército Mario Montoya de crimes contra a humanidade, por sua responsabilidade no assassinato e desaparecimento de 130 civis, apresentados falsamente como guerrilheiros.
Montoya, de 74 anos, teria pressionado os homens sob seu comando "para obter baixas em combate" entre 2002 e 2003, relatou em entrevista coletiva Catalina Díaz, juíza da Jurisdição Especial para a Paz (JEP), tribunal encarregado de investigar os piores crimes do conflito colombiano.
Segundo a juíza, o ex-militar é suspeito de "mentir sobre o número de baixas" para inflar os resultados quando era chefe da IV Brigada do Exército, que atua no departamento de Antioquia, além de "usar uma linguagem violenta, que exaltava o derramamento de sangue".
O tribunal, que surgiu do acordo de paz de 2016 com a guerrilha das Farc, acusou Montoya de crimes de guerra e contra a humanidade. Segundo cálculos da JEP, que prevê penas alternativas à prisão para aqueles que confessarem seus crimes e repararem as vítimas, 6.402 pessoas foram assassinadas sob essa prática, conhecida como "falsos positivos".
Montoya foi comandante do Exército a partir de 2006 e era um dos militares mais próximos do então presidente, o direitista Álvaro Uribe (2002-2010). Renunciou em 2008, pressionado pelo escândalo das execuções, que, segundo ele, ocorreram pelas suas costas.
Para a JEP, apresentar baixas tornou-se uma "ordem recorrente" de Montoya, que já havia sido acusado, em 2021, pelo Ministério Público, de 104 homicídios entre 2007 e 2008 sob o mesmo modus operandi.
"A pressão por resultados se consolidou com a mensagem de apresentar 'mortes em combate' como único indicador de sucesso para obter incentivos e recompensas, e para não serem transferidos ou afastados do Exército", explicou a juíza.
Montoya e outros oito militares acusados nesta quarta-feira terão 30 dias para reconhecer ou não os fatos. Em seguida, a JEP abrirá espaço para que eles admitam publicamente a verdade diante dos parentes das vítimas, antes de emitir uma sentença.
A jurisdição, que também acusou a cúpula das Farc por centenas de sequestros, ainda não proferiu a primeira sentença desde a sua criação, em 2017.
FONTE: Estado de Minas