A difícil contabilidade das mortes de civis na guerra da Ucrânia

06 jun 2023
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Oleksandr Remez sobreviveu milagrosamente a um ataque russo contra a cidade de Uman, no centro da Ucrânia, mas os mísseis mataram sua esposa e destruíram seu apartamento.

No final de maio, um mês após o drama, parado em frente ao que restou do prédio, Oleksander Remez pediu que cada uma das vítimas da guerra seja contabilizada e identificada.

"Não precisamos apenas de números, precisamos também dos nomes, porque ninguém deve ser esquecido", expressou, entre lágrimas, este homem de 63 anos.

Ao menos 10.368 civis morreram e 14.404 ficaram feridos desde a invasão iniciada em fevereiro de 2022, segundo o último balanço oficial ucraniano.

"São pessoas sobre as quais temos certeza", afirmou Oleg Gavrysh, assessor do gabinete presidencial da Ucrânia.

"Provavelmente, o balanço é cinco vezes maior. Então pode ser de 50 mil", acrescentou.

Os números parciais ucranianos coincidem com o registro mais recente da ONU, que estimou 8.709 mortos e 14.666 feridos até o final de abril. A ONU também acredita que o número real é "consideravelmente maior".

Estabelecer o custo humano total e preciso de uma guerra enfrenta muitos obstáculos, mas os especialistas consideram essencial para uma eventual recuperação.

"Eles (a Rússia) devem ser responsabilizados por cada um", disse Remez, perto de um memorial para sua esposa e outras 22 pessoas, incluindo quatro crianças, mortas no ataque de 28 de abril.

Os ataques aéreos russos, como o fogo indiscriminado de artilharia e mísseis, foram particularmente mortais na Ucrânia, mas é difícil determinar quantas pessoas morreram.

- Ocultar crimes -

Uma ausência importante no saldo de vítimas é a falta de informações de áreas ocupadas pela Rússia, como o porto de Mariupol, onde dezenas de milhares de civis teriam morrido.

A batalha por essa cidade tornou-se um símbolo da resistência ucraniana e sofreu níveis assustadores de destruição e morte.

Especialistas temem que os autores das mortes de civis possam ter ocultado as evidências.

"Eles têm um incentivo para ocultar seus atos criminosos", disse Philip Verwimp, especialista em demografia em situações de conflito, sobre as ações dos combatentes em tempos de guerra.

Em áreas destruídas pelos combates, como Bakhmut, que a Rússia afirma ter tomado, também pode ser difícil estabelecer quem morreu e quem fugiu.

Diante disso, documentar um balanço pode levar anos, como aconteceu após a guerra da Bósnia e as décadas de conflito na Irlanda do Norte.

Um estudo de 2007 compilou os nomes de cerca de 97.000 pessoas mortas na guerra da Bósnia de 1992 a 1995, um número muito menor do que o relatado até então. O Livro dos Mortos da Bósnia é considerado a análise de dados mais abrangente da violência que se seguiu ao colapso da Iugoslávia.

Verwimp, que participou da revisão dos dados do livro, observou que ter um número verificável é crucial.

"Os ucranianos estão fazendo isso rapidamente. Quando eles recuperam cidades, colocam equipes de investigadores para documentar os crimes de guerra russos", acrescentou.

- "Nunca mais" -

A Ucrânia, desde o início da invasão, registra supostas violações, desde mortes de civis até violência sexual e a destruição de casas ou estabelecimentos culturais.

Em meio aos combates, a Ucrânia não forneceu um saldo de seus militares mortos, mas um documento vazado do Pentágono apontou que até 17.500 soldados de Kiev teriam morrido em serviço até fevereiro de 2023.

Verificar um balanço com nomes individuais pode levar um pouco de tranquilidade às famílias, disse Jakub Bijak, professor de demografia que trabalhou com o tribunal especial da ONU para a ex-Iugoslávia para determinar o saldo de mortos na guerra da Bósnia.

"Mas também (é importante) politicamente, para definir quanto o país perdeu em uma guerra", acrescentou. "Os números importam".

Mas para Oleksandr Remez é difícil viver um dia após o outro. O único pensamento que lhe dá conforto é documentar a morte de sua esposa.

"Precisamos saber de tudo isso, fazer tudo o que pudermos para evitar que isso aconteça novamente. Crianças, bebês, por que eles estão morrendo?", perguntou.


FONTE: Estado de Minas


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