A estratégia questionada do grupo Wagner, braço armado de Moscou no exterior

27 jun 2023
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O grupo paramilitar Wagner é considerado, há anos, o braço armado de Moscou no exterior, em particular na Síria e em vários países africanos, papel que pode ser questionado após o motim de seu líder na Rússia.

Depois de uma insurreição espetacular que deixou suas tropas a apenas 400 km de Moscou em 24 horas antes de ordenar sua retirada na última hora, Yevgueni Prigozhin deve, em tese, permanecer no exílio em Belarus, aliado de Moscou, e revisar suas relações com o presidente russo, Vladimir Putin.

A questão que fica no ar é: o que acontece agora com sua atividade no exterior, onde a milícia privada é conhecida por explorar riquezas locais, proteger governos, travar guerra de informação e realizar operações militares brutais?

"Os maiores efeitos deste episódio (armado na Rússia) podem ser sentidos no Oriente Médio e na África", tuitou Rob Lee, analista do Foreign Policy Research Institute, enfatizando que encontrar um "compromisso a curto prazo" é diferente de "uma solução a longo prazo".

Moscou tentou dissipar qualquer dúvida na segunda-feira, garantindo que o grupo Wagner continuará suas operações no Mali e na República Centro-Africana (RCA).

Os membros do Wagner designados para estes países estão "trabalhando como instrutores. Esse trabalho, claro, continuará", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, à agência russa RT, acrescentando que a tentativa de rebelião não afetará as relações da Rússia com "parceiros e amigos".

- Interdependência -

Uma coisa é clara: Prigozhin e Putin devem abordar o assunto antes de chegar a um acordo.

Wagner depende muito do Ministério da Defesa da Rússia, que fornece tropas, equipamentos e armas onde quer que atue. E Moscou precisa do grupo para controlar as áreas problemáticas, onde se dedica a criticar a influência ocidental.

Na Síria, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), os mercenários do grupo Wagner - russos, cidadãos de outras ex-repúblicas soviéticas e sírios - atuam como "forças especiais" no terreno ao lado do exército do Kremlin desde 2015. Continuam protegendo poços de petróleo e as províncias de Hama e Latakia (centro-oeste).

Na África, eless estão presentes principalmente na Líbia, Sudão e Moçambique. Também estão na linha da frente no Mali, apesar de as autoridades locais mencionarem "instrutores russos", ou na República Centro-Africana, onde um homem do grupo lidera a segurança do presidente Faustin-Archange Touadera.

Wagner também se dedica a extrair "ouro e minerais" destes países e levá-los para a Rússia, neste momento com grande necessidade de recursos devido às sanções ocidentais, segundo uma fonte militar europeia.

As Nações Unidas, a União Europeia e a França acusam o grupo de abusos nos países em que atua e de ser uma potência desestabilizadora no continente africano.

- "À espera" -

O que acontecerá a seguir dependerá das negociações entre Putin e Prigozhin por meio do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.

Lugares como "Bangui e Bamako estão à espera para ver o que acontece", disse Maxime Audinet, do Instituto de Pesquisa Estratégica da Escola Militar (IRSEM) de Paris.

"A delegação de setores inteiros do poder soberano ao Wagner, para atuar onde o Estado russo não queria interferir, deu a este grupo uma margem de manobra muito maior que a esperada", destacou à AFP.

"A rede de Prigozhin tornou-se o ator dominante da presença russa na África Subsaariana nos últimos anos", comentou Audinet, para quem "o frágil equilíbrio entre atores estatais e não estatais russos no continente africano provavelmente sofrerá distúrbios significativos".

A névoa vai demorar um pouco para se dissipar.

"Wagner tinha alguma liberdade em seus projetos na África. Sem a cooperação com o Ministério da Defesa, não vejo como o grupo poderia continuar trabalhando lá", afirmou Pauline Bax, vice-diretora do programa para a África no International Crisis Group.

Mas, ao mesmo tempo, Putin "não pode enviar soldados russos no lugar do Wagner. Não consigo imaginar sua retirada imediata do continente", acrescentou.


FONTE: Estado de Minas


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