A trajetória que fez Padre Eustáquio atrair romeiros de várias cidades a BH
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Eles chegam vestindo camisas com a figura do beato, de sorriso aberto e cantando o hino “Saúde e Paz” composto especialmente em homenagem a Padre Eustáquio: “Uma palavra de amor. Um olhar forte e protetor. Um acalanto em tua voz. Uma esperança em tuas mãos (...) Um escolhido filho por Deus Pai, para ser luz neste lugar. A Padre Eustáquio, a gratidão e o nosso amor neste cantar”. A cada mês de agosto, romeiros partem de Poá, na Região Metropolitana de São Paulo, em direção ao Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, em Belo Horizonte, para render homenagens, agradecer por bênçãos alcançadas e fazer pedidos a Deus por intercessão do Beato Padre Eustáquio.
Neste mês em que são lembrados os 80 anos da morte do líder religioso, vieram em caravana 42 moradores de Poá, onde o sacerdote holandês, beatificado em 2006 em BH, morou durante seis anos e ganhou a fama de “milagroso”, devido a inúmeros relatos de milagres atribuídos a ele. “A devoção em nossa cidade continua cada vez mais forte, pois Padre Eustáquio deixou também uma importante obra social, cuidando dos pobres, doentes. Trouxe água da fonte de Nossa Senhora de Lourdes, na França, e isso atraiu muita gente”, conta o titular da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, padre Reginaldo Martins da Silva, destacando que Padre Eustáquio foi o pioneiro na paróquia.
Mas nem tudo foram graças durante a presença de Padre Eustáquio na então Vila de Poá, entre 1935 e 1941. Houve incômodo e várias versões. Com a multidão chegando, houve preocupação de autoridades civis e eclesiásticas quanto a questões urgentes como alimentação, água e banheiros. Há quem diga, conforme ouviu a equipe do EM, que o religioso teria incomodado poderosos, que o obrigaram a deixar a localidade então pertencente ao município de Mogi das Cruzes.
Mas a pressão não foi capaz de diminuir a admiração dos fiéis. “Saiu escondido, mas, mesmo assim, ficaram muitas histórias de fé”, diz padre Reginaldo. “Temos três festas importantes na nossa cidade: da padroeira, Nossa Senhora de Lourdes, do Espírito Santo e de Padre Eustáquio.”
Ao lado do pároco, a empresária Fátima Ramos, acompanhada do marido, Luiz Ramos, conta que ouviu muitas histórias narradas pela tia, Wilma Pires, já falecida, que conviveu com o beato. “Ele fez o batizado da minha mãe, Geny Morau. Tia Wilma obteve um milagre por intercessão dele, o que nos deixa muito felizes. Padre Eustáquio é exemplo de fé, esperança e amor ao próximo”, resume Fátima.
COMUNHÃO No santuário, em BH, os romeiros assistiram à missa das 10h, no domingo (20), rezaram no memorial, que abriga uma imagem do beato, e mostraram a bandeira trazida de Poá com as palavras “Saúde e Paz” e a figura do sacerdote. Acendendo velas, o casal Zaqueu Pires, aposentado, e Maria Lúcia dos Reis Pires, diarista, renovou sua fé e pediu pela humanidade, pois muitas vezes, conforme explicou a visitante, a cura necessária não é só do corpo, mas também da alma.
“Conheci uma senhora que estava com câncer na garganta, já desenganada pelos médicos. Não era cristã, mas, mesmo assim, levamos a bandeira de Padre Eustáquio até ela, que aceitou. Em seguida, para nossa surpresa, quis comungar. Faleceu uma semana depois, mas tenho certeza que partiu em paz”, observou Maria Lúcia, integrante do grupo de “rezadeiras” da paróquia.
A fé pavimenta os caminhos das irmãs Lourdes Ribeiro Thomaz Rodrigues e Aparecida Thomaz Vieira. Procedentes de Oliveira e Carmo da Mata, na Região Centro-Oeste de Minas, os pais delas, Geraldo e Maria, chegaram a Poá exatamente no dia da morte de Padre Eustáquio, em 30 de agosto de 1943. O falecimento ocorrido em BH marcou a vida de Poá, e, daquele tempo, Lourdes guarda uma relíquia do padre, que lhe foi dada pelo padrinho, José João.
Junto às irmãs, a aposentada Adelaide Ferreira Barbosa contou que sua fé no beato só aumenta – e isso se faz evidente no cuidado e amor que os casais peregrinos Márcio Roberto Moreira e Alessandra Maria da Silva Moreira, e Marcelo de Oliveira Pimentel e Kely Fernandes de Oliveira Pimentel devotam à bandeira que trouxeram de Poá e com a qual entraram no santuário arquidiocesano.
A cruz que ficou
como herança
São muitos os relatos de fé, sentimento e história familiares envolvendo Padre Eustáquio. Em Poá, Aparecida Barbieri Rey, de 73 anos, guarda – e faz circular – uma cruz de madeira com o Cristo e ornamentos prateados que pertenceu ao religioso. Trata-se de uma lembrança da avó dela, Cesira Passatore Barbieri, “que era muito religiosa, conheceu o padre e o ajudou muito na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes”.
Era com essa cruz, diz Cida Rey, como é conhecida na sua comunidade, que Padre Eustáquio “benzia o povo”. “Ao entregá-la à minha avó, antes de ir embora daqui, ele pediu que ela nunca ficasse em museu, mas circulando entre as pessoas que precisassem. Sou guardiã da cruz, faço o que foi pedido”, conta a aposentada.
Das conversas com a avó, ela guardou as informações de que “Padre Eustáquio era um homem caridoso, que não discriminava ninguém e acolhia a todos da mesma maneira”.
MEMÓRIA Em Poá, fica o Museu Padre Eustáquio, vinculado à Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, que, por vez, está ligada à Diocese de Mogi das Cruzes. “Temos mais de 100 itens, entre fotografias, incluindo algumas cedidas pela Congregação dos Sagrados Corações, objetos litúrgicos, documentos e outros objetos fruto de doação”, informa o coordenador do espaço, Delcimar Ferreira.
“Ele fez um trabalho pastoral, incentivou a devoção mariana, foi o primeiro pároco. Durante muito tempo, houve um apagamento de sua história, mas, hoje, isso acabou. Há forte devoção”, completa Delcimar.
Programe-se
Festa de Padre Eustáquio
Hoje (27/8)
Missas às 7h, 8h30, 10h, 17h e 19h e novena
14h – Carreata com a imagem do beato pelas ruas do Bairro Padre Eustáquio
16h – Bênção de automóveis na praça do santuário e barraquinhas
Amanhã (28/8)
19h – Missa e novena
Terça-feira (29/8)
Missas às 7h, 12h e 19h
Quarta-feira (30/8)
Missas às 6h, 7h, 11h, 13h, 15h e 17h
19h – Missa solene seguida de procissão luminosa
DA HOLANDA A BH
1890 – Em 3 de novembro, nasce em Aarle- Rixtel, na Holanda, Hubertus van Lieshout. Para a vida religiosa, na Congregação dos Sagrados Corações, recebe o nome de Eustáquio.
1913 – Entra para o noviciado da congregação dos Sagrados Corações
1915 – Inspirado no ideal missionário de São Damião de Molokai, Eustáquio professa votos temporários e perpétuos, para, quatro anos depois, ser ordenado sacerdote.
1919 – Em 10 de agosto, recebe ordenação sacerdotal, e, cinco dias depois, celebra sua primeira missa.
1924 – Na companhia dos padres Gil e Matias, Padre Eustáquio é enviado a Miranda Del Ebro, na Espanha.
1925 – Parte para o Brasil como missionário, sendo acolhido inicialmente no Rio de Janeiro, em seguida em Petrópolis (RJ), para, depois, seguir para Aparecida (SP).
1925 – Em 15 de junho, com outros padres da congregação, chega a Água Suja, atual Romaria, na Região do Alto Paranaíba, onde fica por quase 10 anos.
1935 – Em fevereiro, Padre Eustáquio se torna pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Poá (SP).
1936 – Depois de uma viagem à Europa, retorna a Poá levando consigo água da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, na França, considerada milagrosa.
1941 – Seis anos após chegar a Poá, deixa a cidade para viver um exílio. Passa por São Paulo (SP) e interior do estado (Campos do Jordão, Mogi das Cruzes e Campinas); retorna a Minas (Araguari, Monte Carmelo, Coromandel e Araxá); volta a SP e vai para o Rio de Janeiro.
1941 – Mora em Patrocínio (MG) de outubro de 1941 a fevereiro de 1942. Depois segue para Ibiá (MG), onde fica por menos de um mês.
1942 – Em 2 de abril, Padre Eustáquio chega a Belo Horizonte, onde fica por pouco mais de um ano e quatro meses. Em 8 de abril, toma posse como vigário da Paróquia São Domingos, onde hoje é o Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste.
1942 – Participa de retiros em Nova Lima, Itaúna,
Montes Claros, Juiz de Fora, Pará de Minas e Pedro Leopoldo.
1942 – O então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek (1902-1976), doa terreno para construção da nova matriz, atual Santuário Arquidiocesano dos Sagrados Corações, popularmente conhecida como Igreja Padre Eustáquio.
1943 – Em 16 de maio, há a bênção da pedra fundamental do templo, com exposição da maquete dois anos depois.
1943 – em 25 de agosto Padre Eustáquio é internado, após ser picado por um carrapato.
1943 – Em 30 de agosto, morre no Sanatório Minas Gerais (atual Hospital Alberto Cavalcanti), na capital mineira (na foto, celebração durante velório em BH).
1943 – Em 31 de agosto, os restos mortais de Padre Eustáquio são conduzidos para o Cemitério do Bonfim, em BH. Seu túmulo se torna lugar de preces e devoção.
1949 – Em 31 de janeiro, ocorrem a exumação e o traslado dos restos mortais de Padre Eustáquio para a capela mortuária, na entrada da Matriz dos Sagrados Corações, iniciada pelo próprio beato e hoje conhecida como Igreja de Padre Eustáquio.
1956 – Em 5 de fevereiro, com a fama de santidade se propagando, há o início dos trabalhos preliminares para instauração do processo de canonização de Padre Eustáquio.
2003 – Em 12 de abril, o papa João Paulo II aprova e publica oficialmente o decreto sobre a heroicidade das virtudes de Padre Eustáquio. O Servo de Deus se torna Venerável Padre Eustáquio.
2005 – Em 19 de dezembro, o papa Bento XVI autoriza a publicação do decreto reconhecendo um milagre atribuído por intercessão de Padre Eustáquio. Padre Gonçalo Belém é curado de um câncer na garganta.
2006 – Em 15 de junho, Padre Eustáquio é beatificado, em cerimônia no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.
2007 – Em 26 de agosto, há o traslado dos restos mortais do beato para o novo memorial do santuário.
2009 – Inauguração da imagem de bronze no memorial.
FONTE: Estado de Minas