Acidentes e vítimas: especialista detalha problemas e perigos da BR-381

20 ago 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!
“Rodovia da Morte”. É assim que a BR-381 é conhecida por quem precisa trafegar pelo trecho no dia a dia. O acidente da madrugada desse domingo (20/8) vitimou sete torcedores do Corinthians que voltavam para São Paulo após a partida contra o Cruzeiro, no Mineirão e é mais um das dezenas que são registrados mensalmente na via.
O trecho onde ocorreu a batida, próximo ao KM 526, entre Igarapé e Brumadinho, na Grande BH, é considerado um dos mais perigosos de toda a rodovia. Conhecido como a Alto da Conquista, é um local sinuoso e de serras, com curvas fechadas e declives fortes, apesar de duplicado, dotado de separação de pistas por barreira de concreto e contar com acostamento. 
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre 2020 e 2023 dez pessoas morreram e 21 ficaram feridas, sendo três com gravidade. Ao todo, foram oito acidentes no período, envolvendo 11 veículos e 18 pessoas.
Em outros pontos da rodovia, como em Ravena, foram registradas 11 mortes e 11 feridos, sendo seis com gravidade, em cinco acidentes, com dez veículos e 31 pessoas envolvidas no mesmo período.
O especialista em trânsito Rodrigo Mendes entende que o trecho tem características muito específicas que dificultam a vida do motorista. “Temos que lembrar do relevo de Minas. As estradas são abertas nas serras e montanhas. Então, temos muitos trechos de serra. Na situação atual, vejo aquele trecho sendo muito perigoso. Ele é muito sinuoso, em descida e, sobretudo, em um ponto que acontece neblina e cerração”, explicou.
Sinto que aquelas curvas, ali naquele local tem um problema específico. Fazendo as curvas, a gente sente que o carro está sendo jogado para fora, ao contrário do que é recomendado. Com isso, exige mais cautela e perícia do motorista para evitar acidentes. É um trecho também que se percebe um fluxo muito misto, entre caminhões e carros de passeio. Às vezes, tem pessoas que não tem muita experiência nas estradas. Então você tem uma imperícia e às vezes falta de atenção do motorista”, completou.
O especialista entende que obras no trecho da rodovia para diminuir o número de acidentes são difíceis e propõe uma mudança no traçado para auxiliar os motoristas. "A construção do Rodoanel pode ajudar. Vai diminuir o fluxo de veículos pesados ali. Mas temos poucas saídas. O certo seria diminuir algumas curvas. Às vezes utilizar o espaço de uma mineradora que tem nas margens da rodovia ajudaria a construir viadutos ou algo para ajudar. Se depender de grandes obras, entendo que a curto prazo o ideal seria refazer o traçado, corrigindo o erro de engenharia. Fazer alguma intervenção para que a gravidade volte a jogar os carros para dentro da pista.”
Para Rodrigo, o acidente envolvendo o ônibus destaca também os perigos que as “caravanas de torcedores” trazem nas rodovias. “A situação da viagem, do ônibus, condições de uso e como geralmente acontece esse tipo de viagem de torcida organizada. São preços baixos, então com toda a certeza as empresas não dão toda a condição de manutenção do veículo nem de descanso pro motorista, geralmente é um bate volta. pelo pouco que se arrecada na viagem, a empresa não consegue arcar com todos os custos necessários”, disse.

“Não passa uma semana sem acidente”

A preocupação com a BR-381 é compartilhada também com quem trafega diariamente no local. O caminhoneiro Marco Aurélio Sebastião Marcondes, de 37 anos, transporta minério diariamente de Itatiaiuçu até Sarzedo pela BR-381. De acordo com ele, os acidentes são frequentes nesse trecho, resultando rotineiramente em filas e engarrafamentos. 
"A serra é muito perigosa. Não passa uma semana sem acidente, sempre na Curva do Desmanche. Acho que o nome é esse porque sempre desmancha um caminhão ali. Teve uma semana que foram acidentes todos os dias. Parece até combinado. Tira um caminhão tombado da pista ou do acostamento, daí a pouco tomba outro", comentou o caminhoneiro ao Estado de Minas. 
"É uma mistura de falta de manutenção com o trecho que é perigoso, se os freios não estiverem em dia, ninguém segura nas descidas dessas curvas", completou.
O especialista diz que a falta de fiscalização, principalmente do poder público, contribui para a quantidade exagerada de acidentes. “Falta de fiscalização do poder público. Apesar da rodovia ser privatizada, existe uma ausência do poder público. Ele segue ausente, agora na fiscalização. O MP ou outros órgãos já deveriam ter exigido alguma intervenção, melhorias, em cima da Arteris”, explicou Rodrigo. 

O acidente 

Um ônibus que transportava 43 torcedores do Corinthians tombou por volta das 3h deste domingo na BR-381, altura do Km 525,4, entre Brumadinho e Igarapé, na Grande BH, matando ao menos sete pessoas e deixando 36 feridos, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG). 
Inicialmente, foi divulgada a informação de que, no local, sete pessoas morreram. No entanto, por volta das 9h30, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) emitiu um comunicado dando conta de oito mortos ao todo. Às 11h, a polícia publicou uma errata informando que se tratavam mesmo de sete mortes.
O transporte particular retornava depois da partida da noite passada, no Mineirão, em Belo Horizonte, a 60 quilômetros do local do acidente.

Viagem irregular

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em nota, informou que o veículo envolvido no acidente não tem registro nem autorização para realizar o transporte interestadual de passageiros, o que classifica a viagem como irregular. "A ANTT esclarece que fornecerá, quando solicitadas, todas as informações necessárias às autoridades de segurança pública para apoiar as investigações", diz a nota. 

FONTE: Estado de Minas

FIQUE CONECTADO