Acordo entre indígenas e governo libera trecho de vias bloqueadas no Panamá

18 jul 2022
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O governo do Panamá e as comunidades indígenas anunciaram, neste domingo (17), um acordo para reduzir ainda mais o preço da gasolina, em troca da liberação de parte das estradas sob bloqueio, enquanto a maioria dos trechos permanece fechada, à espera de novas negociações.

"O Governo Nacional, junto com representantes da Comarca Ngäbe-Buglé e camponeses, concordaram sobre o preço de US$ 3,30 por galão [3,78 litros] de combustível" para todo país, declarou a Presidência, que divulgou imagens da assinatura do acordo em um local da Igreja Católica no distrito de San Félix, província de Chiriquí, no extremo-oeste do país.

Na província de Chiriquí, na fronteira com a Costa Rica e considerada o celeiro do país, produz-se a grande maioria das leguminosas, hortaliças, batatas e vegetais distribuídos no Panamá. Muitos dos alimentos estragaram, ou não chegaram a tempo aos diferentes mercados de abastecimento, devido aos bloqueios de estradas nessa província.

O acordo é válido por três meses renováveis e também contempla continuar negociando cortes de custo na cesta básica e nos remédios.

O Ministério de Segurança Pública divulgou, por sua vez, imagens da liberação de vias nessa região.

- Outra mesa de negociação -

No entanto, na Rodovia Pan-Americana, principal via para o trânsito e o comércio de mercadorias e que conecta o Panamá ao continente, a maioria dos bloqueios continua. Enquanto isso, prosseguem as negociações em outra mesa de diálogo instalada em Santiago de Veraguas, 250 km a sudoeste do Panamá.

Esta mesa reúne a maioria dos manifestantes que bloqueiam as rodovias e as negociações transcorriam diante do descontentamento dos dirigentes pela assinatura antecipada e em separado do acordo com as comunidades de Chiriquí.

"Não pode haver duas mesas, não somos intransigentes, (mas) o povo panamenho merece respeito. Isso é uma piada", reclamou Luis Sánchez, porta-voz das organizações promotoras dos protestos.

O dirigente reivindicou a presença do presidente panamenho, Laurentino Cortizo, na negociação.

Os manifestantes se recusaram a desobstruir as rodovias até que se consigam acordos para reduzir os preços de cerca de 40 produtos e medicamentos.

Em Santiago de Veraguas, um manifestante confirmou por telefone à AFP que tudo continua fechado, "de forma pacífica", à espera de notícias sobre os acordos.

"Não há movimento até que não haja resposta do presidente", acrescentou.

Em Capira, mais perto da capital, Cidade do Panamá, os bloqueios também foram mantidos. "Continuamos na luta. Neste domingo são celebradas conversas na mesa de negociação sobre medicamentos e alimentos", disse por telefone o produtor agropecuário Juan Morales.

O defensor do povo panamenho, Eduardo Leblanc, mediador das negociações, informou que as partes estão debatendo os custos da cesta básica e dos medicamentos.

"Avançamos positivamente", destacou o vice-presidente panamenho, José Gabriel Carrizo.

No sábado, as duas partes acordaram reduzir o preço do galão de gasolina a US$ 3,32 (o governo já tinha oferecido uma redução inicial de US$ 5,20 para US$ 3,95).

Por isso, o valor de US$ 3,30 oferecida aos indígenas causou surpresa em Veraguas.

O descontentamento ocorre em um contexto de inflação crescente, de aumento nos preços dos combustíveis que chegou a 47% e uma taxa de desemprego em torno de 10%.

Os protestos provocaram o desabastecimento de gasolina e alimentos, além de perdas milionárias, segundo grupos empresariais.

- Manifestações na capital -

Com 4,2 milhões de habitantes, o Panamá vive uma das maiores crises sociais desde a queda da ditadura militar do general Manuel Antonio Noriega, em 1989, após a invasão americana.

Há duas semanas, o país registra várias manifestações e bloqueios de estradas para exigir que o governo de Laurentino Cortizo intervenha e reduza os preços dos combustíveis, dos alimentos e de remédios. Eles também exigem a adoção de medidas contra a corrupção.

Na Cidade do Panamá, uma centenas de pessoas protestaram no passeio marítimo, vestidas de preto, em contraposição ao traje branco que os parlamentares usam em cerimônias oficiais.

"A cesta básica está mais cara do que os ganhos, estamos com um problema social grande. As pessoas estão fartas e foram às ruas protestar para que as coisas mudem", declarou à AFP a advogada panamenha Jaqueline Hurtado.

"Nos (meus) 68 anos de vida, estou cansada de ver os governos que prometem, entram, roubam, saem, e vem o próximo, e aqui estamos com falta de tudo, de remédios, educação, comida, há uma desigualdade que não tem nome", afirmou a aposentada Iliana Arango.

O Serviço Nacional de Migração do Panamá anunciou que, devido "aos bloqueios de ruas", tem "sido afetado" o traslado de migrantes que chegam pela selva de Darién ao território panamenho e que seguem seu caminho de ônibus até a fronteira com a Costa Rica, a caminho dos Estados Unidos.


FONTE: Estado de Minas


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