Aline Calixto aviva o repertório de Clara Nunes em álbum correto, mas sem luz própria
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Capa do álbum 'Clara viva', de Aline Calixto
Marcia Charnizon Resenha de álbum Título: Clara viva Artista: Aline Calixto Edição: Alma Viva sob licença da Warner Music Brasil Cotação: ★ ★ 1/2 ♪ A questão que se impõe após a audição do álbum em que Aline Calixto canta o repertório de Clara Nunes (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983) é somente uma: o que o disco acrescenta a esse cancioneiro após tantos tributos à cantora mineira, que teria completado 81 anos no sábado, 12 de agosto, um dia após o lançamento do disco Clara viva? A resposta também é somente uma: a rigor, nada. Entre 2012 e 2013, Calixto esteve entre as cantoras que fizeram shows e/ou discos para celebrar Clara por conta do 70º aniversário de nascimento e do 30º aniversário da morte da artista, aos breves 40 anos. Desse elenco feminino, somente Fabiana Cozza e Mariene de Castro sobressaíram. Cozza, pela força e personalidade da interpretação. Mariene, pela luminosidade do canto. Luz que inexiste no álbum de Calixto. Conterrânea da artista mineira e também convertida ao samba, Aline Calixto canta Clara Nunes com correção no disco gravado com produção musical do violonista Thiago Delegado, também coautor dos arranjos criados com a flautista Marcelo Nunes, o percussionista Robson Batata e a própria Aline Calixto. Só que as matrizes da discografia de Clara são tão cintilantes que, por mais que haja toques de originalidade nos arranjos do disco de Calixto, como o sopro da flauta que bafeja A deusa dos orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1975), a impressão recorrente é a de que o canto grave de Calixto apenas ecoa a voz de Clara sem a força da matriz. Se a seleção de repertório tivesse sido mais corajosa, o disco ainda poderia ter o mérito de iluminar pérolas mais raras do repertório de Clara. Contudo, a rigor, das 13 músicas alinhadas nas 12 faixas do álbum Clara viva, somente quatro podem ser de fato considerados lados B da discografia. O ijexá Afoxé pra Logun (1982), composto pela bamba carioca Nei Lopes em louvor ao orixá Logun Edé e gravado por Clara no derradeiro álbum Nação (1982), é joia de alto quilate, valorizado por Calixto. Outra pérola é o samba-enredo Tributo aos orixás (Mauro Duarte, Noca e Rubem Tavares), com o qual o já extinto bloco Foliões de Botafogo foi para as ruas no Carnaval de 1971. Clara gravou em álbum de 1972 o samba-enredo revivido com propriedade por Calixo em arranjo calcado somente na percussão de Robson Batata na faixa mais sedutora do disco. Dentro do lote das músicas menos conhecidas, Fuzuê (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1976) mixa a batida do samba com o toque da capoeira. Por fim, há o samba baiano Coroa de areia (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981), unido por afinidade temática com O mar serenou (Candeia, 1975) em medley que junta a voz de Calixto com os cantos de Eliza de Sena, Júlia Tizumba e Vi Coelho. Após dar voz a sucessos como Conto de areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1974), Feira de Mangaio (Sivuca e Gloria Gadelha, 1977 – música regravada por Clara em 1979) e Morena de Angola (Chico Buarque, 1980), Aline Calixto encerra o disco com o belo canto a capella de Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983), samba composto em tributo póstumo a Clara Nunes . Ao acabar, o álbum deixar no ar a sensação de que, por melhores que sejam as intenções e os achados, os discos (e shows) em homenagem à mineira guerreira já soam repetitivos e, em grande maioria, sem luz própria e sem visão realmente nova do repertório. Não seria então o caso de ouvir os discos da matriz? Até porque os luminosos álbuns originais de Clara Nunes estão nos aplicativos de áudio, a disposição de novos, antigos e futuros admiradores desta cantora imortal. Clara Nunes (1942 – 1983) é celebrada por Aline Calixto em disco gravado com produção musical de Thiago Delegado Wilton Montenegro / DivulgaçãoFONTE: G1 Globo