Após cinco anos ao volante, mulheres sauditas ainda têm um longo caminho a percorrer

07 jul 2023
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Há cinco anos, Jawhara al Wabili foi uma das primeiras mulheres a pegar no volante de um carro na Arábia Saudita, no começo de uma abertura no reino ultraconservador, que algumas ativistas consideram uma fachada.

"Dirijo desde que a proibição (para as mulheres ao volante) foi suspensa", em 2018, explica esta saudita de 55 anos, que mora em Buraidá, grande cidade no centro do país.

Ela lembra que nessa época deu aulas de direção gratuitas para ajudar as mulheres a pegarem no volante em um país onde os transportes públicos são quase inexistentes.

A concessão desta nova liberdade foi uma das reformas de destaque empreendidas nesta monarquia do Golfo, impulsionadas pelo jovem e poderoso príncipe-herdeiro, Mohamed bin Salman.

Depois, as sauditas conquistaram muitos outros direitos, afirma Wabili.

Agora, são "embaixadoras, ministras adjuntas, membros de conselhos de administração de bancos, reitoras de universidade" e, inclusive, astronautas, mencionou, em alusão a Rayyanah Barnawi, a primeira mulher árabe a viajar ao espaço, em maio passado.

Com a abolição da polícia da moralidade, a autorização para a convivência entre ambos os sexos em eventos públicos e o fim da obrigatoriedade de usar a tradicional abaya, traje que cobre todo o corpo, a sociedade saudita pode passar a impressão de ter mudado.

Mas as militantes de direitos humanos que moram no exterior fazem uma avaliação diferente e denunciam a repressão que as vozes críticas sofrem.

"Cada vez mais mulheres estão na prisão por não usarem a abaya, por terem dançado em público ou simplesmente por compartilharem sua opinião no Twitter", afirma Lina al Tathlul, da associação de defesa dos direitos humanos ALQST, em Londres.

"Sim, há mudanças sociais", mas as sauditas vivem "com o medo constante de não saber realmente (...) o que é permitido e o que não é".

- Participação econômica -

As autoridades destacam os progressos realizados e a ambição de transformar a monarquia petroleira, durante muito tempo fechada aos visitantes, em um destino turístico e de negócios.

Em eventos internacionais, como o Fórum Econômico de Davos, destacaram o forte aumento do número de mulheres na população economicamente ativa: de 16% em 2016 a 37% atualmente.

"Depois da sua decisão sobre a direção, todas as políticas aplicadas permitiram fazer evoluir o papel tradicional da mulher na sociedade", argumenta o analista saudita Najah al Otaibi, radicado em Londres.

Desde que desembarcam do avião em Riade, os visitantes são recebidos por agentes mulheres sorridentes e fluentes em inglês. Durante sua estadia, podem ver mulheres dirigindo táxis privados, mecânicas em garagens e, inclusive, condutoras de trens de alta velocidade que leva os peregrinos a Meca, cidade santa do islã.

- "Ilusão" -

Mas nas residências, a realidade às vezes é diferente.

"Todas estas reformas estão (...) no papel. Isto não quer dizer, necessariamente, que se apliquem na prática", argumenta a pesquisadora Sussan Saikali, do Arab Gulf States Institute, em Washington.

Apresentada como "progressista" por Riade, uma lei muito aguardada sobre o estado civil, aprovada em 2022, recebeu críticas da ONG Human Rights Watch, que vê "disposições discriminatórias em relação às mulheres sobre casamento, divórcio e as decisões relativas aos filhos".

Segundo a militante saudita Hala al Dossari, também residente nos Estados Unidos, "nada mudou" nas famílias mais conservadoras, nas quais as mulheres continuam à mercê de seu tutor masculino.

Algumas acreditaram na "ilusão de que, graças à flexibilização das restrições sobre o código de vestuário e a mistura de sexos, poderiam agir mais livremente", explica.

"Infelizmente, muitas delas têm sido vítimas da opressão do Estado ou de sua própria família", assegura.

Em novembro de 2022, Manahel al Otaibi foi detida após publicar mensagens nas redes sociais, nas quais criticava as leis sobre a tutela masculina ou a abaya.

Esta saudita, na faixa dos 30 anos, foi acusada de iniciar uma "campanha de propaganda" e apresentada perante uma corte penal especializada, estabelecida em 2008 para se ocupar de casos vinculados ao terrorismo, embora também seja muito utilizada para julgar dissidentes políticos e militantes dos direitos humanos.


FONTE: Estado de Minas


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