Após saques, mercado ‘Daglo’ oferece pechinchas no Sudão
Uma televisão por 80 dólares (R$ 400,00), uma geladeira por 250 (R$ 1.250,00)... No mercado batizado de "Daglo", em referência ao líder dos paramilitares sudaneses, vendem-se diversos objetos a preço de banana, muitos dos quais foram roubados neste país em guerra.
Este mercado situa-se ao lado de uma das principais rodovias sudanesas, que liga a capital Cartum a Wad Madani (cerca de 200 quilômetros ao sul), atualmente repleta de postos de controle vigiados por militares ou paramilitares.
O mercado é popularmente conhecido como "Daglo", apelido irônico em referência ao fato de que muitos dos objetos vendidos vêm de casas saqueadas, tanto por paramilitares quanto por civis em situação de extrema pobreza.
São eletrodomésticos, remédios, alimentos, materiais de construção e até peças de veículos.
"A televisão custa 50 mil libras sudanesas" (cerca de 80 dólares ou R$ 400,00), diz uma vendedora a um potencial comprador, enquanto mostra um enorme televisor que numa loja normal custa cerca de 230 mil libras (US$ 381,00 ou R$ 1.900,00 ).
Outro comerciante tenta vender geladeiras com este bordão: "150.000 libras (US$ 248,00 ou R$ 1240,00) a peça que custa 450.000 (US$ 746,00 ou R$ 3718,00) em uma loja", ou seja, o dobro do salário médio do Sudão, que antes da guerra já era um dos países mais pobres do mundo.
- Um mercado a céu aberto -
As mercadorias neste vasto bazar ao ar livre combinam com tudo o que os comerciantes de Cartum, trabalhadores humanitários e moradores dizem ter perdido nos últimos quatro meses de conflito.
O conflito no Sudão, iniciado em abril, opõe os militares aos paramilitares das FAR (Forças de Apoio Rápido) e deixou um rastro de 5.000 mortos.
Silos de ajuda humanitária e caminhões com remédios foram saqueados, assim como as casas de três milhões de pessoas que deixaram a capital.
No início de agosto, a concessionária da Toyota em Cartum informou que "1.192 veículos novos e caixas de peças de reposição" foram roubados.
Embora as reservas de remédios, matérias-primas das fábricas, roupas, móveis ou eletrodomésticos caíssem nas mãos dos senhores da guerra, no mercado "Daglo" prevalece a lei do silêncio quanto à origem de suas mercadorias.
"Você veio comprar ou discutir?", pergunta uma vendedora a um repórter da AFP, quando questionada sobre a origem do que vende.
Todos preferem fechar os olhos para a ilegalidade da venda de produtos roubados em um mercado que fica em uma área controlada pelo exército.
Esses mercados de pechinchas, de origem duvidosa, também existem na capital.
Mesmo entre os compradores, há moradores de Cartum que tiveram suas casas ou empresas saqueadas.
"Eles roubaram todos os eletrodomésticos que tínhamos", explica Mohamed Abdelal, cuja loja foi totalmente esvaziada por ladrões, que ele não conseguiu identificar, e agora não tem escolha a não ser reconstruir sua vida comprando itens provavelmente roubados.
FONTE: Estado de Minas