Árabes e muçulmanos dos EUA temem ser estigmatizados ‘como após o 11/09’

18 out 2023
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Nos dias que se seguiram ao ataque sangrento do Hamas contra Israel, muitos árabes e muçulmanos americanos se sentiram sob suspeita, como aconteceu depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Uma sensação que se agravou com o assassinato a facadas de um menino de origem palestina.

Wadea Al Fayum, de seis anos, foi esfaqueado 26 vezes no sábado por um septuagenário que alugava uma casa para sua família, segundo as autoridades, que o acusaram de cometer um crime de ódio.

O homem gritou para a mãe do menino, "Vocês, muçulmanos, devem morrer". Ela ficou gravemente ferida, segundo mensagens de texto enviadas por ela ao pai, citadas pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR).

Segundo a Polícia, Wadea e sua mãe foram atacados "porque são muçulmanos e pelo conflito em curso no Oriente Médio" entre o grupo islamita palestino Hamas e os israelenses.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que declarou apoio inabalável a Israel, se disse "horrorizado" e reiterou que repudia a islamofobia.

O menino "pagou o preço do clima de ódio e desumanização", denunciou Ahmed Rehab, chefe do escritório do CAIR em Chicago.

"Alertamos que não será cometido o mesmo erro de depois do 11 de Setembro (...) Mas aí estamos", lamentou.

- Ansiedade -

Sarah Suzuki Harvard, de 30 anos, cresceu em Plainfield, onde Wadea Al Fayum foi morto.

"Estamos voltando aos níveis de islamofobia do 11 de Setembro e só faz piorar", escreveu ela no X (antigo Twitter).

Esta jovem, filha de pai marroquino e mãe japonesa, lembra do clima denso dos anos posteriores aos atentados em 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova York e do "assédio" que testemunhou quando era criança.

Foi tão extremo - contou ela à AFP - que sua família decidiu trocar o sobrenome para evitar a discriminação.

Quando soube do assassinato do menino, sentiu "muita dor e tristeza". "Senti medo porque minha família mora ali", afirmou.

"Enviei uma mensagem de texto ao meu pai, dizendo-lhe: 'Tenha cuidado, por favor, quando for à mesquita. Te amo. E diga o mesmo ao meu tia e à minha tia'", acrescentou Sarah Suzuki Harvard.

Zenjabela, uma nova-iorquina de origem palestina de 23 anos, que prefere não revelar seu nome completo, contou ter notado "hostilidade" contra ela e que algumas pessoas criticaram moradores do seu bairro por dizerem "Assalamu alaikum", saudação em árabe que significa "A paz esteja com vocês".

"Eu nunca tinha sentido tanta ansiedade sobre a percepção dos muçulmanos, dos palestinos e dos árabes em geral", disse à AFP.

- "Todos antissemitas" -

Neste clima tenso, alguns altos funcionários americanos fizeram declarações consideradas incendiárias.

"Os Estados Unidos não deveriam participar da ajuda a Gaza pela mesma razão que não deram ajuda à Alemanha nazista", escreveu o senador Tom Cotton no X.

O governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, candidato à Casa Branca, avaliou que os Estados Unidos não podem aceitar refugiados originários da Faixa de Gaza porque "todos são antissemitas".

"Que discurso tão incrivelmente perigoso e destrutivo", comentou na CNN a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

"Acabamos de ter um menino de seis anos esfaqueado 26 vezes por discursos como este (...) É inaceitável", disse.

Aya Hijazi, uma americana de 36 anos, filha de mãe egípcia e pai libanês, disse que se sente "silenciada e demonizada".

"Basicamente, temos que demonstrar que não somos terroristas", declarou à AFP.

E, embora "goste de usar o keffieh", lenço preto e branco, símbolo da causa palestina, disse que desde o assassinato do menino pensa duas vezes em sair com o acessório.

"Agora sou mãe. Estou pondo minha filha em perigo?", questionou-se esta moradora da Virgínia (leste).


FONTE: Estado de Minas


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