Bebel Gilberto honra o pai no amoroso álbum ‘João’
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Cantora lança disco em que recria o repertório de João Gilberto com admirável leveza em arranjos que evidenciam o toque preciso do violão de Guilherme Monteiro. Capa do álbum 'João', de Bebel Gilberto
Divulgação Resenha de álbum Título: João Artista: Bebel Gilberto Edição: [PIAS] Recordings Cotação: ★ ★ ★ ★ ★ ♪ João – álbum de Bebel Gilberto que o selo belga [PIAS] Recordings põe no mundo amanhã, 25 de agosto – corrige a principal distorção da obra fonográfica da cantora e compositora de origem norte-americana e vivência em uma das mais importantes famílias musicais do Brasil. Em João, sétimo álbum solo de estúdio de Isabel Gilberto de Oliveira, inexiste a habitual irregularidade do cancioneiro autoral da artista pela própria natureza do disco. Trata-se de álbum de intérprete em que Bebel aborda repertório gravado pelo pai, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (10 de junho de 1931 – 6 de julho de 2019), um dos maiores nomes da música do Brasil. Tampouco inexiste no disco João o excesso de camadas eletrônicas do álbum anterior de Bebel, Agora (2020), trabalho sem viço e sem inspiração que flagrou a artista no pior momento de trajetória profissional que alcançou relevo mundial há 23 anos com o álbum Tanto tempo (2000). Em João, justiça seja feita, Bebel honra o legado do pai – e isso significa muito porque é difícil cantar o repertório de João Gilberto sem soar em outra galáxia musical. Ao orquestrar a produção do álbum, Bebel repetiu a parceria com o pianista norte-americano Thomas Bartlett – arquiteto do recém-mencionado disco antecessor Agora – mas, desta vez, as programações de Barlett são sutis e jamais abafam a sonoridade orgânica do disco gravado no Reservoir Studios, em Nova York (EUA). A propósito, são impressionantes a harmonia e a leveza alcançadas pela interação entre o canto terno de Bebel, o toque preciso do violão de Guilherme Monteiro – minimalista, como ensinou João – e a percussão manuseada com admirável delicadeza por Chico Brown, Kenny Wollesen e Magrus Borges. Revezando-se no piano, no mellotron e na programação, Thomas Bartlett confeita o bolo de massa fina feita essencialmente com voz, violão e percussão. Ouvindo-se sambas como Adeus, América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, 1948) e Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965), tem-se a impressão de que até o gênio perfeccionista de João avalizaria as gravações. É notável a atmosfera leve e sedutora criada pelo toque do violão de Guilherme Monteiro nas gravações da canção Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958) e do samba Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959), para citar somente dois entre vários possíveis exemplos. Bebel Gilberto aos dois anos, em Nova York (EUA), em 1968, com o pai João Gilberto (1931– 2019) Acervo pessoal Bebel Gilberto Nenhum músico, contudo, tira o mérito de Bebel no disco João. Quando canta o samba Ela é carioca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963), Bebel parece acariciar o pai em algum recanto da mente. Quando entra na seara dos corações partidos, como no canto de É preciso saber perdoar (Carlos Coquejo e Alcyvando Luz, 1967), samba apresentado pelo grupo MPB4 seis anos antes da gravação feita pelo artista e violonista baiano no álbum João Gilberto (1973), Bebel o faz sem o menor resquício de melodrama ou sentimentalismo no canto, mostrando que aprendeu a lição do pai. Desse referencial disco de 1973, Bebel também recria Valsa (Como são lindos os yoguis) e Undiú, temas autorais de João, compositor bissexto. Tema sem letra, Valsa é levada pelos envolventes vocalizes de Bebel. Mesmo sem alcançar o efeito de mantra do registro do pai, Bebel situa Undiú no mesmo alto nível de outras faixas de João, disco em que O pato (Jayme Silva e Neusa Teixeira, 1960) faz quém quém com os sopros da tuba e do trombone de Clark Gayton em arranjo orquestrado por Gayton com Bebel. Eclipse (Ernesto Lecuona, 1940) – bolero cubano composto por Ernesto Lecuona (1895 – 1963), amplificado na voz da cantora Margarita Lecuona (1910 – 1981) e iluminado pelo papa da bossa nova no disco João Gilberto en México – é outra faixa que atinge os céus no tributo de Bebel a João porque o arranjo, calcado no sopro da flauta de Alex Sopp e no toque o piano de Thomas Bartlet, parece traduzir em som a atmosfera escura de um eclipse. Ao se encerrar com o canto do samba Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961), João reitera a impressão de ser álbum em que Bebel pode até estar cantando João Gilberto para o mundo, embora, no íntimo, ela esteja cantando ao pé do ouvido, entre silêncios, para ser ouvida somente pelo pai imortal. Até por isso, Bebel honra João neste disco amoroso. Bebel Gilberto canta onze músicas em 'João', disco que será lançado amanhã, 25 de agosto, pelo selo belga [PIAS] Recordings Vicente de Paulo / DivulgaçãoFONTE: G1 Globo