Beduínos de Neguev temem ficar presos no conflito entre Israel e Hamas

16 out 2023
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No deserto de Neguev, no sul de Israel, jovens beduínos reúnem-se perto de um carro danificado por um foguete disparado da Faixa de Gaza, com medo da guerra que se aproxima.

Alaa Abu Jamaa disse que na manhã de 7 de outubro estava levando o café da manhã aos seus filhos em sua casa, em Ararat an-Naqab, quando o Hamas lançou o seu ataque geral contra Israel.

Ao chegar de carro na porta de sua casa, foi atingido pela força de um foguete que explodiu perto dele e jogou o carro a poucos metros de distância.

"Eu não conseguia me mover", contou à AFP. "Alguns jovens vieram e me tiraram do carro. Fiquei com a perna ferida por estilhaços e fui levado ao hospital. Fiquei três dias lá sem saber o que estava acontecendo, sem ouvir nada e sem dormir", disse.

"Mesmo agora ainda acordo assustado e confuso", afirmou.

Abu Jamaa lembrou que um menino de cinco anos chamado Yazan "estava parado na porta de sua casa, perto de outro carro. Quando o foguete explodiu, o carro voou e queimou junto com outros veículos".

"Yazan morreu e explodiu em pedaços", contou.

Ele disse que o foguete deixou uma cratera com "mais de três metros de profundidade".

O pai de Yazan, Zakaria, um motorista, relatou entre lágrimas que "estava em Eliat no sábado de manhã quando soube da morte do meu filho. Voltei no meio do bombardeio entre o Hamas e Israel e vi meu filho no hospital".

Sua voz falhou e ele não conseguiu continuar.

Arara an-Naqab é uma aldeia predominantemente árabe no sul de Israel, a 25 km de Berseba, cuja população é considerada marginalizada, como outros árabes beduínos de Neguev.

Muitos vivem em aldeias não reconhecidas por Israel e enfrentam o confisco das suas propriedades e frequentes tentativas de demolir as suas casas.

Os árabes descendentes de palestinos que permaneceram em suas terras após a fundação do Estado de Israel em 1948 correspondem a 21% da população israelense.

Em 7 de outubro, combatentes do Hamas infiltraram-se no sul de Israel por mar, terra e ar, em um ataque que deixou mais de 1.400 mortos.

Israel respondeu com ataques aéreos implacáveis contra a Faixa de Gaza, matando pelo menos 2.750 pessoas.

- Sem refúgio -

Na aldeia de Albat Kahla, construída com lâminas de estanho nas dunas de areia de Neguev, cactos e arbustos brotaram entre as casas onde vivem cerca de 1.200 pessoas.

O ativista Ali Abu Sabih disse que "não há refúgios (...). Quatro pessoas morreram na aldeia: a minha prima que fazia pão com a neta de 10 anos e dois irmãos de outra família" devido aos foguetes.

Os moradores indicaram que conseguiram que o Exército israelense lhes fornecesse alguns abrigos de plástico resistente ao fogo e reforçado com aço.

Gilad, um oficial israelense que não quis revelar seu nome completo, disse à AFP que cada "abrigo tem capacidade para 70 pessoas, não mais que 100".

A população de Ararat an-Naqab é de mais de 13.000 pessoas.

O oficial acrescentou que "são 13 abrigos destes que vamos distribuir na região, a instalação de cada um demora um dia".

Outro oficial comentou que "a areia protege dos foguetes, mas se o foguete cair diretamente, os abrigos não oferecem proteção total".

- Sem reconhecimento -

Walid al Hawashla, ex-membro do Knesset e coordenador de resgates na região de Neguev, indicou que 18 pessoas morreram na região, "seis delas devido a foguetes que caíram sobre as suas casas e 12 que trabalhavam na agricultura perto de Gaza no primeiro dia do ataque do Hamas".

Após o início da escalada, Hawashla criou, em Neguev, uma sala de emergência afiliada ao Movimento Islâmico, um partido árabe que trabalha em Israel.

"Enviei uma carta ao presidente e ao primeiro-ministro pedindo-lhes que nos fornecessem refúgios", disse ele.

O comitê de ajuda islâmico distribuiu cerca de 100 cilindros pré-fabricados de concreto reforçado com aço, que geralmente servem como tubos de drenagem, para serem usados como abrigos temporários com capacidade para 12 pessoas cada.

Mas os abrigos estão longe de satisfazer as necessidades da vasta região desértica.

O presidente do conselho territorial da aldeia, Atia al Aasam, comentou que "o número de árabes em Neguev é superior a 300.000, e deles 150.000 estão em 45 aldeias não reconhecidas que não estão vinculadas ao serviço governamental de eletricidade, água, clínicas ou infraestrutura".

"Quando pedimos para instalarem refúgios, os nossos apelos entram por um ouvido e saem pelo outro. Eles nos dizem que estas aldeias não são reconhecidas", afirmou.


FONTE: Estado de Minas


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