Brasil e China reforçam laços e pedem que países desenvolvidos cumpram compromissos climáticos
Brasil e China pediram, nesta sexta-feira (14), que os países desenvolvidos cumpram seus compromissos climáticos, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu contraparte chinês, Xi Jinping, em Pequim, destinada a reforçar os laços econômicos e diplomáticos entre os dois países.
Lula viajou à China para impulsionar os laços econômicos com o principal parceiro comercial do Brasil e afirmou que o país "está de volta" ao cenário internacional, depois dos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), caracterizados por certo recuo na economia brasileira.
Durante sua visita, Lula questionou o uso do dólar como moeda global, fez críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e se reuniu com representantes da empresa de tecnologia chinesa Huawei, na quinta-feira, em Xangai, antes de participar de uma cúpula com o presidente chinês nesta sexta.
O comunicado conjunto divulgado depois do encontro apontou diretamente a Estados Unidos, Europa e outros países desenvolvidos, que não cumpriram os compromissos alcançados durante as negociações da ONU sobre o clima de 2009, em Copenhague.
"Urgimos os países desenvolvidos a honrarem suas obrigações não cumpridas de financiamento climático e a se comprometerem com uma nova meta coletiva, que vá muito além dos US$ 100 bilhões por ano", aponta o documento.
Os países desenvolvidos prometeram em 2009 que a partir de 2020 desembolsariam 100 bilhões de dólares (R$ 174 bilhões, aproximadamente, em valores da época) para ajudar os países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas, a reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa e a empreenderem a transição energética.
E este montante de 100 bilhões de dólares, que não foi completado, deve ser aumentado, em princípio, a partir de 2025.
- "Novas oportunidades" -
Lula, que voltou ao poder em janeiro, fez um delicado exercício de equilíbrio, mantendo relações próximas com os Estados Unidos.
Sua viagem à China ocorre depois de uma visita a Washington, em fevereiro, quando se reuniu com o presidente americano, Joe Biden.
"Não temos nenhuma intenção de nos afastar de quem quer que seja, sobretudo de um parceiro da qualidade dos Estados Unidos", disse nesta sexta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"Queremos restabelecer as melhores relações e desejamos parcerias com esses três grandes blocos comerciais: Estados Unidos, União Europeia e China", acrescentou.
Lula foi recebido por Xi em uma cerimônia com tapete vermelho em frente ao Grande Salão do Povo de Pequim, após ter assistido a uma cerimônia no Monumento dos Heróis do Povo, na praça Tiananmen, e depois de ter se reunido com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.
Xi assegurou a Lula que o desenvolvimento econômico da China seria benéfico para o Brasil.
"A China vai buscar um desenvolvimento de alta qualidade, vai acelerar a criação de um novo paradigma de desenvolvimento e promover uma abertura de alto nível", declarou.
"Isto criará novas oportunidades para o Brasil e os países de todo o mundo", acrescentou, citado em nota do Ministério das Relações Exteriores.
Na quinta-feira, Lula questionou o uso do dólar como moeda global, semanas depois de seu governo acordar com Pequim comercializar com as moedas chinesa e brasileira, deixando de lado a divisa americana.
"Por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar? (...) Hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar quando poderia exportar na sua própria moeda", disse.
Suas declarações ocorreram durante a posse da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016) à frente do banco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Neste ato, Lula criticou os planos de ajuste impulsionados pelo FMI em países que sofrem com a dívida como a Argentina, em troca de linhas de resgate.
"Não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos países como o FMI está fazendo agora na Argentina e como fizeram com o Brasil durante muito tempo e com todos os países do terceiro mundo", afirmou.
"Nenhum governante pode trabalhar com una faca na garganta porque está devendo".
- "O Brasil está de volta" -
De volta ao poder em janeiro, depois de seus dois mandatos entre 2003 e 2010, Lula quer recolocar o Brasil na geopolítica internacional.
"A época em que o Brasil estava ausente nas grandes decisões mundiais já é coisa do passado", disse em Xangai. "O Brasil está de volta", reforçou.
Em relação à invasão russa da Ucrânia, Lula e Xi afirmaram que "o diálogo e a negociação" são "o único modo factível" de resolver a crise e instaram os outros países a desempenharem um "papel construtivo" com vistas a uma solução política, noticiou a agência Xinhua.
Nem a China, nem o Brasil impuseram sanções à Rússia como fizeram as potências ocidentais, e tentam se posicionar como mediadores para alcançar a paz.
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FONTE: Estado de Minas