Bryan Adams, o último romântico… Cantor ainda canta o amor, agora no musical ‘Uma linda mulher’
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!
Ao g1, ele repassa 40 anos dedicados ao soft rock romântico que vendeu mais 100 milhões de discos. Ele elege Taylor Swift como herdeira e explica sobre como os iPhones mataram o rock. 10 hits de Bryan Adams
Bryan Adams ainda quer falar de amor, mais de 40 anos depois de ter começado sua carreira. Ao lado do parceiro Jim Vallance, o cantor canadense escreveu as canções de "Uma Linda Mulher", musical que estreia em São Paulo em setembro (veja detalhes no fim do texto). Antes, a peça inspirada na comédia romântica com Julia Roberts e Richard Gere passou por Chicago, Nova York, Hamburgo, Londres, Milão, Barcelona e outras dezenas de cidades americanas e britânicas. "É um tema um pouco controverso, não é?", ele pergunta ao g1, em entrevista por videoconferência. "Bilionário se casa com uma prostituta? Eu nem sei se você ainda pode dizer prostituta hoje em dia. Mas a ideia de trazer isso para o palco com senso de humor foi um ótimo desafio." O canadense vendeu perto de 100 milhões de discos usando sua voz rouquíssima para cantar sobre paixões que o levaram a lugares variados: o céu ("Heaven"), um verão regado a sexo (“Summer of 69”), um apartamento dividido com uma ex-spice girl (“When you’re gone”, gravada com Mel C). Nos anos 90, os versos sobre amor também levaram esse simpático e recatado hitmaker às trilhas sonoras de filmes: "(Everything I do) I do it for you", de "Robin Hood"; "Have you ever really loved a woman?", de "Don Juan"; e "All for love", gravada com Rod Stewart e Sting para "Os três mosqueteiros". Bryan Adams na capa do álbum 'Reckless' (1984) e em foto recente Divulgação Nos últimos meses, Bryan tem regravado boa parte dessas músicas, após lidar com burocracias de sua gravadora, a A&M records. "A Taylor foi minha inspiração, porque ela queria ter o controle da música dela", explica, citando Taylor Swift, com quem se já apresentou. A cantora também tem regravado seus álbuns após disputas judiciais envolvendo direitos autorais. Na entrevista abaixo, Bryan elegeu Taylor como uma das vozes da nova geração a manter as canções românticas vivas. O cantor teorizou sobre a perda de força do rock (seja ele soft ou pesado) e sobre o domínio da nostalgia na cultura pop. Adams ainda exaltou Tina Turner ("Sou eternamente grato por eu ter feito parte da vida dela") e explicou a relação dele com a fama. "Gosto da ideia de ter certa fama e ainda ser capaz de interagir com o mundo. Acho que se você perseguir esse tipo de fama, você pode ter a hora que quiser. Você pode ser esse tipo de artista que quer ser visto, mas eu nunca me interessei por isso." g1 - Como você se sentiu quando foi tocar as músicas de “Uma linda mulher” que você havia feito com o Jim Vallence para os produtores do musical? Foi realmente como se fosse um teste? Bryan Adams - Foi tipo isso mesmo. Depois que tocamos as músicas para um grupo de pessoas que estava lá, entre eles os produtores e o diretor, eles olharam para a gente e disseram: “Ótimo, agora vocês precisam sair para que a gente possa falar de vocês”. [Risos] Cerca de uma hora depois, recebemos uma ligação dizendo que tinham adorado e queriam trabalhar conosco. g1 - E como foi sentir depois de tanto tempo de carreira essa sensação de um novato em busca de aprovação? Bryan Adams - Bem, os dois lados querem saber se pensam da mesma forma, se estão criativamente conectados. A gente não tinha conversado sobre o que eles queriam para o musical, então esses testes eram importantes para isso, para ver se a parceria poderia dar certo. g1 - Eu fiquei impressionado com a quantidade de versões do musical, em vários países e agora no Brasil. Você consegue ver cada versão musical, ou ouvir as músicas em diferentes idiomas? Como você acompanha tudo isso? Bryan Adams - Eu acompanho um pouco para ver se as versões estão seguindo um certo padrão do musical. Isso eu acompanho. Mas não tive a chance de assistir cada produção ao vivo. Infelizmente, não tenho tempo. O que acontece geralmente é que alguns dos artistas me mandam mensagens dizendo que estão empolgados por fazer parte disso, por cantar minhas músicas. Eles me mandam vídeos e tal. Sempre é legal ver as versões novas. Richard Gere e Julia Roberts em 'Uma Linda Mulher' (1990); Jarbas Homem de Mello e Thais Piza no musical baseado no filme Divulgação g1 - Tenho muita curiosidade sobre as particularidades do trabalho de cada produtor… Então, você poderia me dizer a diferença entre trabalhar com Jim Vallance e com o Robert Mutt Lange? Bryan Adams - Ambos são produtores e compositores realmente talentosos e eles trabalham de maneiras muito, muito diferentes. Você sabe, o Jim foi meu primeiro grande coautor, ele era meio que, meu professor. Então, nós ainda escrevemos músicas até hoje, quase 40 anos depois das primeiras. Isso é incrível. Em “Uma linda mulher”, foi a última vez que nos sentamos em um lugar e tentamos escrever músicas. Hoje, até quando vou compor com o Mutt a gente faz tudo por e-mail e por Zoom. As pessoas deixaram de se encontrar, de ficarem juntas compondo em um estúdio… g1 - É bem diferente quando a música é feita pessoalmente, né? Bryan Adams - Sim, ficar num estúdio tocando junto e coisas desse tipo fazem toda a diferença. Sinto muita falta disso, cara. Na real, tem sempre uma hora ali em que algo acontece, como se fosse um momento mágico, sabe? É aquele momento em que você olha para a guitarra e olha para o seu parceiro do seu lado e pensa: “Uau, o que foi isso, ein?” Você quase não consegue mais ter essa experiência de ficar cara a cara com alguém. Agora, cada um faz sua parte sozinho. g1 - Eu ouvi as versões novas das suas músicas que você tem feito. Sei que a Taylor Swift foi uma inspiração para regravar seus clássicos e que, nos dois casos, tem a ver com burocracia da gravadora. Como foi o processo de recriar essas músicas antigas e o que você pensa sobre essas burocracias de gravadora? Bryan Adams - É muito difícil para mim comentar sobre esse tipo de burocracia. Quer dizer, tenho que ser diplomático. Mas o fato é que a Taylor foi minha inspiração, porque ela queria ter o controle da música dela. O Def Leppard também fez a mesma coisa. Há alguns artistas que fizeram isso e eu pensei: bem, talvez eu devesse fazer isso. Então, eu comecei a regravar tudo e gostei do processo. Na verdade, eu ainda estou com esse projeto. É interessante, porque é como abrir um carro velho e tentar descobrir o que faz ele funcionar. Aí, eu tento ser fiel à mecânica do carro, sabe? Quero saber o que fez aquela música funcionar, o que a tornou especial. Bryan Adams posa com Taylor Swift, após cantar 'Summer of 69' com ela Divulgação/Instagram dos artistas g1 - Eu sei que é difícil escolher, mas tem alguma nova versão que deu mais trabalho, ou que te marcou mais? Bryan Adams - Elas são todas bem complicadas de fazer e exigiram muita atenção, mas eu tenho trabalhado com um jovem engenheiro de som bastante entusiasmado, daí não demorou muito para começar o projeto e ir em frente sem pensar muito… Eu fazia basicamente uma música a cada dois dias. g1 - Uma vez te perguntaram o que você gostaria de trazer de volta que já estava extinto e você respondeu… “o rock”. Eu sei que você foi um pouco irônico, mas não tanto. Então, por que você acha que o rock perdeu tanto espaço? Bryan Adams - Na real, tem uma só razão. Antigamente, as crianças não tinham iPhones, não tinham computadores, não tinham videogames. A guitarra era uma coisa interessante de se tocar, interessante de se ter por perto. Então, muitas crianças queriam aprender a tocar guitarra, a tocar violão. Como resultado disso, você tinha mais bandas e mais guitarristas. Mas tudo isso acabou, porque as pessoas não gastam mais tempo com isso. Portanto, há cada vez menos interesse na fisicalidade dos instrumentos musicais e há mais interesse em criar coisas com todos esses equipamentos. Acho que esse é o principal motivo. Bryan Adams acena para o público no início do show no Allianz Parque Hall, na Zona Oeste de São Paulo Fábio Tito/G1 g1 - Tem chances de sua turnê passar pelo Brasil em breve? Bryan Adams - Você sabe que se eu for no meu Instagram e olhar para os principais países do mundo que comentam lá… o número dois é o Brasil [atrás apenas dos EUA]. Então, eu sei que tenho que voltar antes disso e deveria ter ido mais. Eu já mencionei isso para meus agentes e espero que talvez faça shows aí no próximo ano. Então, não precisa ficar esperando muito, não. g1 - Estive em um dos seus shows em São Paulo e lá pelo meio do show um cara da plateia começou a berrar que queria tirar uma selfie com você [ele ri] no meio do show. E você disse que o assunto ali era música, não selfies… No meio do show até que foi engraçado, mas acredito que esse tipo de fã inconveniente deve ser comum na sua vida. Como você lida com isso? Bryan Adams - Esse tipo de coisa chama minha atenção uma vez ou outra, mas na maioria das vezes quando alguém fica gritando você não consegue ouvir nada do que ele está dizendo. Mas responder os fãs uma vez ou outra é algo só para fazer graça mesmo. Alguém subiu no palco na semana passada e pegou o microfone de mim para cantar. E eu deixei o cara lá: “tudo bem, agora vai em frente”. Até publiquei o vídeo no meu Instagram. Ninguém entendeu por que ele fez aquilo. Mas o cara estava tendo o momento dele, todo animado. Eu não quero encorajar essas coisas, porque pode ser perigoso não só para nós, mas para eles subirem no palco: podem cair, tropeçar. É preciso cuidado. Mas faz parte do espírito do rock and roll, sabe? Capas de oito dos principais singles e álbuns de Bryan Adams, incluindo o Acústico MTV e a famosa coletânea 'So Far So Good' Reprodução g1 - No geral, ser famoso chegou a ser problemático para você? Lendo algumas entrevistas, você dá a entender que gostaria de não ser famoso se pudesse… Bryan Adams - Na verdade, não tem sido um grande problema, não. Quer dizer, as pessoas têm sido muito respeitosas, eu sou reconhecido de vez em quando, mas ainda posso pegar o trem, posso pegar o ônibus e não há problemas. Eu gosto da ideia de ter certa fama e ainda ser capaz de interagir com o mundo. Porque eu sei que seria chato se eu tivesse que ficar trancado no meu apartamento o tempo todo, né? Acho que se você perseguir esse tipo de fama, você pode ter a hora que quiser. É só procurar esse tipo de atenção. Você pode ser esse tipo de artista que quer ser visto, mas eu nunca me interessei por isso. g1 - Falando sobre fotografia [Bryan também é um fotógrafo requisitado]… Qual celebridade brasileira você gostaria de fotografar e qual paisagem brasileira você gostaria de fotografar? Bryan Adams - Bem, eu sempre quis ir a Brasília para fotografar aquela linda cidade. E qual celebridade? Hmmm… Boa pergunta. Talvez você possa recomendar uma. g1 - Acho que quando falam de pessoa famosa brasileira para ser fotografada o nome mais óbvio é o da Gisele.... Bryan Adams - Ah, com certeza! Vocês aí ainda a consideram brasileira? g1 - Sim, com certeza. A gente até chamava o Tom Brady de Giselo… Bryan Adams - [Risos] Bem, não é mais… O cantor canadense Bryan Adams Divulgação/A&M g1 - Você tem razão. Bem, é fácil ver como a nostalgia ainda é um ingrediente cada vez mais presente na cultura pop. Sei que em “Uma linda mulher”, você e a equipe retrabalharam o filme em algo novo, claro, mas como você lida com essa nostalgia? São tantos remakes, reboots, sequels, prequels… Bryan Adams - Eu acho que sempre existe um novo público. Ok, se você não viu o filme, pode conhecer a história por meio do musical… e daí vai ver o filme pela primeira vez. Mas entendo esse interesse. Vamos ser honestos: as empresas de cinema têm feito muito, muito dinheiro com sequências e remakes. É uma questão de lucro mesmo. Mas para mim foi apenas uma coisa criativa. Eu fiquei empolgado com a ideia de criar isso para o palco, porque é um tema um pouco controverso, não é? Bilionário se casa com uma prostituta? Eu nem sei se você ainda pode dizer prostituta hoje em dia. Mas a ideia de trazer isso para o palco com senso de humor foi um ótimo desafio. g1 - Eu sei que na maioria das vezes você cria suas músicas a partir de uma única frase, a partir de uma sacada bem curta que você teve. Esta é a melhor maneira de fazer música? Bryan Adams - Acho que a maioria das pessoas faz assim: você vem com uma frase e pensa a música a partir disso. Você já começa a escrever tendo o que eu chamo de núcleo da música. Há uma música no musical chamada “You and I”. No final, tudo o que importa na vida tem a ver com apenas duas pessoas que se encontraram e se apaixonaram. É uma coisa tão simples. “Você e eu podemos ir passear por aí, podemos ir para qualquer lugar juntos.” Como se diz “You and I” em português? [repórter repete “Você e eu” e ele tenta falar igual] Jim e eu estávamos lá sentados pensando em ideias. Mas simplesmente não tínhamos um refrão. Foi quando eu pensei: espere aí, essa coisa toda tem a ver com apenas duas pessoas se apaixonando. E a partir disso a canção saiu… bum! g1 - Entendi. E quantas vezes você assistiu ao filme para se inspirar e criar as músicas? Bryan Adams - Posso ser honesto com você? Nenhuma vez. Porque a história é toda conduzida pelo autor do livro no qual o filme foi baseado. É o que você meio que segue como compositor. Mesmo assim, todos os dias nós íamos às reuniões de produção e conversávamos sobre o que iria levar a história para a próxima cena. A gente olhava um para o outro e entendia: “Tem que ser uma música sobre tal assunto”. Então, não tem a ver necessariamente com a trama do filme. E então o filme não seria tão útil para mim. Bryan Adams e Tina Turner se abraçam em 1984; ele abriu shows dela nos anos 80 Reprodução/Facebook do cantor g1 - Algumas pessoas não sabem que “Summer of 69” não tem nada a ver com o ano de 1969. Você fica chateado quando alguém parece não saber disso? Bryan Adams - Eu não me importo. Eu não me importo mesmo. É sobre um verão em que acontece qualquer coisa que você queira que seja, um verão do amor. Daí é uma coisa meio agridoce de olhar para os velhos tempos… Mas não, não é sobre o ano de 1969 [o 69 citado na letra e no título é uma menção à posição sexual]. g1 - Eu sei. E qual sua opinião sobre canções de amor mais recentes? Você acha que ainda existem boas canções de amor cantadas pela nova geração? Tenho a impressão de que há mais diversidade de temas hoje… Bryan Adams - Já ouviu “Karma is my boyfriend”, da Taylor [Swift]? É muito boa. Há muitas boas músicas românticas por aí. Mas você está certo, há outros temas sendo cantados por aí. Mas, pensando bem, para ser honesto com você, provavelmente sempre foi assim. Sempre vai haver músicas sobre relacionamentos e músicas sobre outros temas menos românticos. E ainda bem que é assim. g1 - Na década de 80, você abriu shows da Tina Turner, e vocês também lançaram músicas juntos. Onde você estava quando soube que ela tinha falecido e como foi receber essa notícia? Bryan Adams - Eu estava em um hotel em Toronto quando descobri e claro que fiquei arrasado, porque ela foi muito boa para mim. Eu era um jovem músico e eu a convidei para vir e cantar comigo. Ela estava ainda retomando a carreira naquela época, então acabou aceitando. Então, eu acho que se eu tivesse esperado mais um ano para convidá-la, tudo isso nunca teria acontecido, mas aconteceu! Porque ela estava procurando novas parcerias para recomeçar, e eu era um grande fã. Ela me apoiou, me pegou pelas mãos e me guiou. Ela me levou para uma turnê com ela e nos divertimos muito. Ficamos amigos, até cantei no casamento dela e só tenho a agradecer. Sou eternamente grato por eu ter feito parte da vida dela. 'Uma Linda Mulher' Onde: Teatro Santander, na Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041 Quando: de 1º de setembro a 17 de dezembro Quanto: entre R$ 19,80 e R$ 380,00 Classificação: livre (menores de 12 anos devem estar acompanhados dos pais ou responsáveis legais)FONTE: G1 Globo