‘Cada um vai em busca de um objetivo na vida’, diz irmão de brasileira que morreu após atravessar fronteira entre México e EUA

24 ago 2023
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Por causa de várias burocracias, o corpo da irmã saiu dos Estados Unidos nessa terça-feira (22) e chegou durante a manhã desta quinta, por volta de 9h30. 'Cada um vai em busca de um objetivo na vida', diz irmão de brasileira que morreu após atravessar fronteira entre México e EUA

Geórgia Marques/arquivo pessoal

Um adeus sem tempo de se despedir. O sepultamento da mineira Márcia Cristina Dutra, de 36 anos, foi na tarde desta quinta-feira (24), no cemitério Santo Antônio do Alegre, em Inhapim. A cerimônia foi rápida e sem velório.

A mineira morreu após atravessar ilegalmente a fronteira entre o México e os Estados Unidos, no dia 20 de julho deste ano. Márcia Cristina Dutra tinha asma e passou mal durante a viagem.

Carlos Henrique Lessa, um dos irmãos de Márcia, disse que, por causa de várias burocracias, o corpo da irmã saiu dos Estados Unidos nessa terça-feira (22) e chegou durante a manhã desta quinta, por volta de 9h30.

"Inicialmente, precisamos saber detalhes do corpo, coisa que foi muito difícil por conta de todas as burocracias. E foi por conta da vaquinha on-line que conseguimos trazer o corpo da minha irmã, fazer um sepultamento digno", explicou o irmão de Márcia.

Mineira morre após atravessar ilegalmente a fronteira entre México e EUA

Arquivo pessoal

Carlos contou ainda que ele não sabia ao certo quanto custaria para trazer o corpo de Márcia ao Brasil e que estipulou um valor de US$ 15 mil dólares. A vaquinha foi divulgada, e a família conseguiu o dinheiro. Rapidamente, solicitaram a transferência do corpo.

"A gente não sabia exatamente o valor total que seria, mas imaginávamos cerca de US$ 15 mil a US$ 17 mil. Se eu não me engano, foi encerrado na faixa $ 15 mil pelo meu outro irmão. De lá para cá, de extra, estamos custodiando outras despesas", disse.

Assim como muitos brasileiros, Márcia tinha o sonho de se mudar para os Estados Unidos, de garantir uma melhoria financeira, um futuro para a filha de 11 anos.

Márcia trabalhava na parte burocrática de um laboratório em Caratinga. Segundo a família, a mulher já tinha tentado um visto que foi negado. Focada, decidiu se arriscar e tentar a travessia pelo México.

'Ela criou forças para ir e cada um vai em busca de um objetivo na vida'; diz irmão de brasileira que morreu após atravessar a fronteira do México com EUA

Geórgia Marques/arquivo pessoal

Mas, a mulher desconhecia os cenários que teria de enfrentar. No dia 20 de julho, conseguiu chegar em solo americano, mas passou mal e não resistiu.

Segundo o Consulado do Brasil nos Estados Unidos, a mulher parou no meio do caminho, sentou-se e desmaiou, não acordando mais.

Os familiares disseram que Márcia começou a planejar a viagem há cerca de oito meses e chegou a ser convencida pelos parentes de desistir. No entanto, ela retomou o sonho de ir para o exterior depois que o namorado foi para os EUA, há três meses.

"Meu outro irmão está lá há quase dois anos. Graças a Deus está bem. Depois disso, Márcia teve um namorado que foi para lá. De lá para cá, ela criou força para ir, embora a situação de saúde dela não era boa para encarar o que ela encarou", relatou Carlos.

'Ela criou forças para ir e cada um vai em busca de um objetivo na vida'; diz irmão de brasileira que morreu após atravessar a fronteira do México com EUA

Geórgia Marques/arquivo pessoal

Ao g1, a família explicou que Márcia foi diagnosticada com asma ainda muito jovem. Ela precisava usar bombinha e outros medicamentos. "Márcia tinha problema de asma, bronquite, ela tinha dificuldades respiratórias desde criança", disse o irmão.

Segundo os familiares, Márcia era uma mulher sonhadora, mãe, batalhadora e que não media esforços.

"Cada um vai em busca de um objetivo na vida, eu acredito que ela imaginou que esse fosse o melhor. Só que ela não resistiu, não conseguiu", finalizou.

'Passou mal após fugir de policiais'

Um homem que não quis se identificar, disse ao g1 que estava com Márcia no grupo que cruzou a fronteira dos EUA com o auxílio de coiotes. O brasileiro entrou em contato com a equipe depois de ter visto a reportagem sobre a caratinguense em uma rede social.

Ele contou que conheceu Márcia em um hotel no México e que conversaram. Foi quando ela contou para ele que tinha asma. Ainda disse que ela estava bastante tranquila, feliz e que fazia planos para o futuro nos Estados Unidos.

O homem afirmou que, antes de o grupo chegar à fronteira dos Estados Unidos, policiais do México apareceram e atiraram diversas vezes contra as 70 pessoas que tentavam atravessar, dentre elas, crianças.

Vítima Márcia Cristina

arquivo pessoal

Segundo ele, todos começaram a correr. A mineira, por não conhecer o local, foi em direção a alguns morros, e ele acredita que o esforço para fugir dos disparos possa ter desencadeado a falta de ar e a crise de asma.

Depois disso, o homem conta que, assim que Márcia entrou no estado norte-americano, sentou-se em uma pedra para descansar, enquanto os outros seguiam viagem.

Ele ainda explicou que o grupo, quando chegou ao consulado brasileiro, pediu resgate para a mulher. Os socorristas norte-americanos foram de helicóptero até o local. Ao chegarem, constataram que ela já estava morta.

O homem ainda afirmou que, além de Márcia, outras pessoas passaram mal durante a travessia, incluindo mulheres e crianças. Segundo ele, algumas chegaram a desmaiar por causa do calor.

Polícia Federal

Alvos da operação da PF em MG contra migração ilegal exploravam o 'sonho' das pessoas, diz delegado

Polícia Federal/divulgação

O g1 entrou em contato com a Polícia Federal para saber mais informações sobre as investigações da morte da caratinguense Márcia Cristina. Em nota, a PF disse que não informa sobre eventuais investigações em andamento.

Em junho, a Polícia Federal deflagrou a Operação Terminus-México em cidades do Leste de Minas. A investigação começou depois de várias denúncias de migrantes. Eles informaram que estavam sendo ameaçados — assim como os familiares — a pagar os valores exigidos pelas quadrilhas para promover a viagem.

O delegado da Polícia Federal Daniel Fantini disse que o foco da operação não era as pessoas que sonhavam em migrar, e sim, o grupo que explorava a "aspiração legítima" das pessoas de ter uma vida nos EUA.

"A migração é um desejo, muitas vezes, de a pessoa melhorar de vida. É um sonho. Isso não é criminalizado. O que está sendo criminalizado é a exploração desse sonho."

"Migrar não é crime. Às vezes, é até uma aspiração legítima da pessoa, mas a exploração econômica desse sonho, dessa vontade, desejo de ir para ter uma vida em outro lugar, isso sim é criminalizado. O migrante vai para os EUA e ele se obriga a pagar uma dívida de em torno R$ 100 mil, sem nenhuma garantia que isso vá se concretizar ou que ele vá permanecer no território norte-americano por muito tempo", finalizou.

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FONTE: G1 Globo


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