Campo de golfe ecológico resiste aos problemas das secas em Burkina Faso

20 mar 2023
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Embora Burkina Faso costumeiramente apareça na mídia pelos ataques jihadistas, golpes ou sua crise econômica, o país africano apresentou uma solução pioneira em meio aos problemas das secas: um campo de golfe ecológico.

No Clube de Golfe de Ouagadugu, o diferencial é o campo, feito de terra e pedras - preparado com uma mistura de areia e óleo usado -, o que não gera a necessidade de cuidados especiais como se fosse de grama.

"É um pouco menos suave e o putting [jogada que tenta colocar a bola no buraco] é um pouco mais complicado", explica Salif Samaké, presidente do clube.

No entanto, "é um modelo que pode ser exportado para outros países. A única dificuldade é que você tem que raspar para tirar as pedrinhas, porque quando a bola cai em uma pedra, vai para todas as direções", diz.

O campo de golfe de alto padrão tem um consumo médio de 5.000 m³ de água por dia, equivalente ao consumo médio de uma comunidade de 12.000 habitantes, segundo estimativas oficiais.

Mas em Burkina Faso, "a água é um bem muito escasso", relembra Samaké.

"Não podemos irrigar o campo. Aqui praticamos o golfe em seu estado natural", acrescenta.

A seca é a "principal catástrofe natural em todo Burkina Faso, um país do Sahel sem litoral", lembra o Ministério do Meio Ambiente em um relatório de 2015.

O documento também indica que mais de 90% da população ativa trabalha no setor agrícola, a principal atividade do país.

Diante de uma crise hídrica mundial, a ONU vai realizar uma conferência na próxima quarta-feira (20) para discutir a questão.

No site oficial do encontro, é possível acessar centenas dos projetos já registrados para a conferência. Entre eles, um sobre a melhoria da irrigação agrícola na Austrália e outro sobre o acesso à água potável nas ilhas Fiji.

- Especulação imobiliária -

O país vive imerso em uma crise de segurança sem precedentes, mas os habitantes da capital demonstram uma relativa indiferença ao cenário.

Ao contrário de muitos outros campos, o de Ouagadugu também resiste à especulação imobiliária.

"Antes isso era uma aldeia, as pessoas trabalhavam na agricultura e na pecuária. Agora é possível ver que o campo de golfe está rodeado de lotes por todos os lados", explica Abdou Tapsoba, diretor desportivo do clube.

Tapsoba é filho do fundador da associação, um líder local que descobriu o golfe na Europa, após a Segunda Guerra Mundial, na qual lutou pelo Exército francês.

O clube começou a ser construído em 1972, em terras que pertenciam aos agricultores, que agora trabalham no local.

"São os filhos dessas famílias que puxam as carroças [...], aqui são mais de 60 e vivem só do golfe", explica Samaké.

Mas a construção afetou também os Diallo, pastores da etnia Fulani que vivem na região há 70 anos.

Embora suas terras tenham permanecido quase inalteradas, agora, elas também são alvo de bolas dos jogadores mais inexperientes que praticam no clube, o que não é um problema para Omar, um dos pastores.

Embora ele não se incomode com a prática esportiva, o real motivo de preocupação é a especulação imobiliária, que ameaça seu rebanho.

"É difícil encontrar pasto para os bichos, temos que levar para longe", explica ele, temendo que "amanhã não sabemos se poderemos ficar aqui", finaliza.


FONTE: Estado de Minas


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