Cerco total a Gaza e ameaça dos Hamas

10 out 2023
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Israel anunciou ontem um cerco total à Faixa de Gaza e disse ter retomado o controle de comunidades no sul do país que haviam sido invadidas pelo grupo terrorista palestino do Hamas no sábado, durante o maior ataque da região em 50 anos. “Agora estamos realizando buscas em todas as comunidades e limpando a área”, disse o contra-almirante Daniel Hagari em pronunciamento televisivo. Confrontos isolados continuam, porém, e ainda pode haver homens armados nos locais, segundo o porta-voz do Exército. Antes, outro porta-voz, o tenente-coronel Richard Hecht, reconheceu que Israel estava levando mais tempo do que o esperado para rearticular sua defesa e que ainda havia “sete ou oito” lugares onde ocorriam combates.
Ontem, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, ordenou que todos os serviços básicos oferecidos na Faixa de Gaza sejam suprimidos. "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado”, disse Gallant em vídeo. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o ministro do governo Netanyahu, cujo governo é o mais à direita da história do país. O ministro da Energia, Israel Katz, disse já ter instruído o corte de água ao território palestino – Israel responde por cerca de 10% da demanda anual de Gaza. Segundo Katz, o fornecimento de energia e de combustível já havia sido suspenso logo após os ataques de sábado.
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou em pronunciamento ontem que “a batalha vai levar tempo” e prometeu que ela só terminará com a eliminação do inimigo, embora não tenha mencionado uma possível invasão da Faixa de Gaza. O território é controlado pela facção terrorista islâmica Hamas, cujas atrocidades, segundo o premiê, são comparáveis com às do Estado Islâmico, outro grupo terrorista que ganhou corpo no contexto da guerra civil da Síria e cometeu assassinatos de ocidentais e atentados terroristas na última década.
"Sempre soubemos quem é o Hamas, agora o mundo inteiro sabe. O Hamas é o Estado Islâmico. E vamos derrotá-lo assim como o mundo esclarecido derrotou o Estado Islâmico. Esse inimigo vil queria guerra e terá guerra", afirmou. Netanyahu conclampou a formação de um governo de união nacional em resposta à ofensiva surpresa do grupo islamita palestino Hamas. “Peço aos líderes da oposição que formem imediatamente um governo de emergência de união nacional sem condições prévias”, disse Netanyahu em um discurso televisionado. O premiê disse estar em contato com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem agradeceu pela ajuda militar e aviões, sem no entanto detalhar em que consiste o auxílio.

Reféns

“O que o Hamas viverá será difícil e terrível (...) Vamos mudar o Oriente Médio”, disse Netanyahu. O braço armado da organização islamita respondeu em um comunicado que “cada ataque contra o nosso povo sem aviso prévio será respondido com a execução de um dos reféns civis”. “O inimigo não entende a linguagem humanitária e ética, então vamos falar com eles em um idioma que eles entendam”, acrescentaram as Brigadas Ezzeldin al Qassam no comunicado. Cerca de 150 pessoas foram sequestradas pelo grupo islamita palestino. A ameaça do Hamas, que controla o empobrecido enclave desde 2007, ocorre depois de Israel ordenar o "cerco completo" desse território de 360 km², onde mais de 2 milhões de palestinos vivem em condições precárias.
Bombardeios de Israel na Faixa de Gaza mataram quatro reféns israelenses, afirmou um porta-voz do Hamas ontem. Eles haviam sido raptados durante o ataque surpresa do grupo radical islâmico no sábado. “Os bombardeios na Faixa de Gaza nesta noite (ontem) resultaram na morte de quatro prisioneiros inimigos e no martírio de seus captores, os Mujahideen de Qassam”, disse Izz ad-Din al-Qassam, porta-voz do Hamas, em comunicado pelo Telegram.
O ataque do grupo a Israel deixou 700 pessoas mortas em solo israelita e resultou ainda na captura de cerca de 100 pessoas, entre civis e militares. A ofensiva de Tel Aviv, por sua vez, que realizou mais de 500 ataques aéreos e de artilharia durante a noite, deixou mais de 560 mortos na Faixa de Gaza.

FAB inicia missão de resgate de brasileiros

Marianna Holanda e Reanto Machado*
O governo de Israel autorizou, ontem, que o Brasil resgate cidadãos brasileiros que estão no país em meio ao maior conflito na região em cerca de 50 anos. O primeiro voo de Tel Aviv deve chegar em Brasília à 1h de amanhã; e o último, às 23h de sábado. O Itamaraty informou que a primeira aeronave que realizará a missão está em Roma, na Itália, de onde seguirá para Israel. Já segundo avião partiu de Brasília na tarde de ontem. A Força Aérea Brasileira informou que 900 brasileiros devem ser repatriados até sábado. A operação poderá ser repetida na próxima semana, caso haja necessidade.
O governo brasileiro também estuda formas de retirar cidadãos brasileiros de territórios palestinos, em particular através do Egito, Jordânia e Líbano. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, há 25 brasileiros na Faixa de Gaza que entraram em contato com o Itamaraty solicitando a repatriação. O Itamaraty informou que, até ontem pela manhã, 1.700 brasileiros já haviam solicitado repatriação, sendo a maioria turistas hospedados em Tel Aviv e em Jerusalém. Eles estão entrando em contato com a embaixada brasileira em Tel Aviv por meio de um formulário online.
De acordo com uma programação prévia divulgada pela Força Aérea Brasileira (FAB), serão cinco voos de repatriação, quatro deles com capacidade para 210 pessoas e um, menor, para 60 passageiros. Restarão ainda 800 brasileiros em território israelense, que podem tanto ser resgatados em ocasiões futuras ou tentar voltar por voo comercial. "Face à incerteza quanto ao momento em que poderão ocorrer os voos de repatriação, o Ministério das Relações Exteriores reitera recomendação de que todos os nacionais que possuam passagens aéreas, ou que tenham condições de adquiri-las, embarquem em voos comerciais do aeroporto Ben-Gurion (Tel Aviv), que continua a operar", disse o Ministério de Relações Exteriores.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, informou em evento na Base Aérea de Brasília que o país tem capacidade para repatriar 900 pessoas a cada cinco dias. Ele ressaltou que esta será a maior operação de repatriação da história do Brasil – o recorde anterior pertencia àquela ocorrida no Líbano, quando foram repatriadas 300 pessoas. Damasceno afirmou que os voos brasileiros foram programados para decolar do aeroporto Ben-Gurion sempre às 18h do fuso local, obedecendo a uma divisão de horários, ou "slots", estabelecida pelas autoridades israelenses para que cada país possa executar suas tarefas de repatriação.
O comandante da Aeronáutica afirmou que não deve haver dificuldades para negociar os slots para a próxima semana, se necessário. Mas, acrescentou, pelo menos para os próximos cinco dias os voos estão garantidos. “Nós estamos com o slot cravado, para a decolagem ao 12h [do Brasil, 18h na capital israelense]. E logicamente há um passeio de meia hora pra cá, meia hora pra lá, é um avião muito grande. A operação não é simples, com toda a parte de apoio à aeronave. Mas a tripulação está informada da importância da manutenção desses horários para que a gente possa dar a liberação dos espaços para as outras aeronaves também”, afirmou.

Palestina

Em relação à retirada de brasileiros de territórios palestinos como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, Damasceno afirmou que se trata de uma operação mais difícil e que as possibilidades ainda estão sendo analisadas. Estuda-se ainda a repatriação por meio de outros países da região, sobretudo Egito, Jordânia e Líbano. “Estamos coordenando as listas com o MRE (Ministério das Relações Exteriores). Falamos de brasileiros no Oriente Médio, brasileiros que estão precisando regressar ao Brasil, independente de suas crenças, de suas atividades e locais de moradia”, afirmou. “Nossa ideia é que a cooperação atinja a totalidade daqueles que queiram regressar.” (*Folhapress)

DESAPARECIDOS

Bruna Valeanu, 24, mudou-se do Rio de Janeiro para Tel Aviv há cerca de dez anos com a família em busca, entre outras coisas, de mais segurança. Hoje ela é um dos três brasileiros desaparecidos em Israel em meio à guerra contra a facção terrorista Hamas. Estudante de comunicação e marketing na Universidade de Tel Aviv, Bruna estava no festival de música no distrito sul de Israel, a menos de 20 km da Faixa de Gaza, que foi atacado no sábado, logo no início das ofensivas. A família não conseguiu contactá-la desde então. A também carioca, Karla Stelzer Mendes também estava na festa e está desaparecida. O terceiro brasilerio desaparecido é Ranani Nidejelski Glazer, gaúcho, que mora há sete anos em Israel e tem cidadania israelense. Ele tem 24 anos. O pai dele mora em Israel, e a mãe, em Porto Alegre. Ele estudou no Colégio Israelita, que fica na cidade gaúcha.

Conflito faz preços do petróleo dispararem

Os preços do petróleo dispararam ontem, após a ofensiva do Hamas contra Israel no fim de semana. O mercado se preocupa com as consequências da guerra para o Irã, grande produtor de petróleo. O preço do Brent para dezembro saltou 4,22%, para US$ 88,15, e o do WTI subiu 4,33%, para US$ 86,38. “Os investidores avaliam as chances de o conflito prejudicar a oferta de petróleo bruto no Oriente Médio se outros países forem envolvidos”, explicou a analista Susannah Streeter, da Hargreaves Lansdown. Para Eli Rubin, do EBW Analytics Group, “a extensão da escalada dos preços observada hoje se explica porque o mercado estava sobrevendido na semana passada”. O Brent, em particular, caiu 14% em seis sessões.
Nem Israel, nem o Líbano, onde atua o movimento Hezbollah, aliado do Hamas, são grandes produtores de petróleo, mas o Irã, que ajudou a planejar a ofensiva, segundo o The Wall Street Journal, está entre os principais nomes do mercado. “O Irã é o segundo país em termos de aumento da produção neste ano, depois dos Estados Unidos”, observou Rubin, que estimou o crescimento em cerca de 700 mil barris diários. “Se conseguiram”, apesar das sanções contra a república islâmica, “foi, principalmente, porque a Casa Branca permitiu”.
Os Estados Unidos concordaram em desbloquear cerca de US$ 6 bilhões de receita petroleira iraniana congelados na Coreia do Sul, o que levou à libertação de cinco americanos de origem iraniana em meados de setembro. Após a ofensiva do Hamas, o governo americano “irá se mostrar mais atento” aos fluxos de petróleo bruto que deixam o Irã, o que poderia reduzir o volume em escala mundial e colocar ainda mais sob tensão um mercado privado de 1,3 milhão de barris diários por parte da Arábia Saudita e Rússia, apontou Rubin. O mercado de gás também foi afetado pelo ataque do Hamas, depois que a Chevron suspendeu as atividades em uma plataforma próxima da costa de Israel, a pedido do governo daquele país.

Volatilidade

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse ontem que o conflito entre grupo extremista islâmico Hamas e Israel deve ampliar a volatilidade sobre as cotações internacionais do petróleo, mas a Petrobras tentará mitigar repasses ao mercado interno. “É mais um evento de volatilidade (sobre os preços)”, afirmou, em entrevista durante evento organizado pelo Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro. “Vamos acompanhar, tentando mitigar a volatilidade para manter os preços estáveis.”
Ele destacou que vê neste momento um movimento mais especulativo, já que a região não é produtora de petróleo. A variação das cotações internacionais, diz, têm mais relação com a especulação sobre eventuais efeitos em outros países. Prates afirmou que a política comercial instaurada pela gestão petista na estatal tem condições de suportar cenários de grande volatilidade, como tem feito desde que foi implementada, em maio.
Ele não descartou, porém, aumentos nos preços internos caso as cotações do petróleo permaneçam muito tempo em elevados patamares. “Se tiver que ter ajuste, a gente vai fazer ajuste”, afirmou, lembrando que gasolina e diesel vivem hoje situações diferentes no mercado global. Enquanto o mercado de gasolina convive com excesso de estoques e margens comprimidas, o diesel enfrenta cortes de produção, estoques em queda e margens elevadas.
Na abertura do mercado ontem, o preço médio do diesel nas refinarias da estatal estava R$ 0,44 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Na média nacional, a diferença era de R$ 0,32 por litro. Já na gasolina, praticamente não há defasagem entre o preço médio praticado pela Petrobras e a paridade calculada pela Abicom. Na semana passada, o produto nacional chegou a passar dias mais caro do que os preços internacionais.

Resposta da ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse, ontem, que está “profundamente angustiado” com a imposição de um cerco total por Israel à Faixa de Gaza após o ataque do Hamas ao país. “Embora reconheça as preocupações legítimas de Israel com a sua segurança, também lembro que as operações militares devem ser realizadas de acordo com o direito humanitário internacional”, disse Guterres a jornalistas, condenando mais uma vez os “ataques abjetos” do movimento palestino islâmico Hamas. O governo brasileiro disse, em reunião do Conselho de Segurança, no domingo, que é “urgente desbloquear o processo de paz” no conflito do Oriente Médio, motivado pelos maiores ataques em território israelense a partir da Faixa de Gaza em 50 anos.

FONTE: Estado de Minas


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