Chimpanzé e o princípio da incerteza

23 jun 2023
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Da mesma forma que os seres humanos, o chimpanzé seria capaz de considerar dois cenários e se preparar para atingir um objetivo, como demonstra uma primeira experiência publicada esta semana na revista Biology Letters, da Royal Society, do Reino Unido.

O chamado "raciocínio modal" é, em tese, uma prerrogativa exclusiva do cérebro humano. Ele permite imaginar, ou considerar, o que poderia ter acontecido sob certas condições como, por exemplo, arrepender-se de ter saído de casa sem guarda-chuva antes de começar a chover, ou de tê-lo levado apenas para o caso de a tempestade chegar.

Os cientistas acreditavam que essa faculdade de raciocínio, que aparece somente após a primeira infância e requer a aquisição da linguagem, era exclusiva dos humanos. Os pesquisadores descobriram, porém, que os chimpanzés podem raciocinar logicamente quando confrontados com uma situação que implica uma escolha.

O raciocínio modal "é a base da nossa capacidade de imaginação", explica Jan Engelmann, professor assistente de psicologia na Universidade americana de Berkeley, em conversa com a AFP.

Segundo Engelmann, principal autor do estudo publicado na quarta-feira, "os chimpanzés podem representar possibilidades alternativas, ou seja, imaginar possíveis desfechos" para uma determinada situação.

O pesquisador começou a estudar esse fenômeno no ano passado, observando a reação de um chimpanzé a um trabalhador, dependendo se este tinha, ou não, a opção de lhe dar a recompensa esperada.

O chimpanzé não se irritava com a pessoa participante do experimento por não realizar seu desejo quando não dependia dele, mas sim, em caso contrário.

Desta vez, com seus colegas de universidades do Reino Unido, da Áustria e da Alemanha, Engelmann quis saber se um chimpanzé poderia imaginar e se preparar para um cenário com dois resultados possíveis.

- Risco de perder -

O dispositivo utilizado é inspirado em um experimento, no qual um chimpanzé estava diante de um tubo em forma de "Y" invertido. Nele, o pesquisador deixava uma recompensa. O experimento questionou a capacidade do macaco de levar em consideração os dois resultados possíveis e colocar sua mão sob as duas saídas do tubo.

Mas parece que "esse comportamento não vem de forma natural no chimpanzé", segundo Engelmann.

Para remediar isso, desta vez, o chimpanzé foi confrontado com um dispositivo um pouco similar, mas no qual era colocado "em competição" com o experimentador. Segundo os pesquisadores, essa competição estimula a atividade cognitiva desse primata.

A recompensa não é mais liberada por um tubo, mas se encontra sobre a bandeja de uma balança localizada sob cada um dos tubos, que, neste caso, podem ser dois verticais, ou um em forma de Y invertido.

Em cada caso, o experimentador deixa cair uma pedra em uma bandeja de balanço colocada sob os tubos.

A recompensa vai, então, sempre para o lado dele, deixando o chimpanzé sem nada - a menos que o macaco use a mão para fazer a bandeja se mover para o seu lado, quando a pedra cai.

O experimento mostrou que, estatisticamente, o chimpanzé bloqueou mais os dois lados da balança quando a pedra era lançada em um tubo em Y invertido. Ou seja, o animal percebeu que, nesse cenário, corria um risco maior de perder do que quando se deparava com dois tubos verticais, situação em que poderia saber, mais facilmente, onde a pedra cairia.

O animal foi capaz de antecipar a configuração, em que seria privado de recompensa.


FONTE: Estado de Minas


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